Ar puro (XC)
A coisa vem a propósito d'As Cinquenta Sombras de Grey - livro que não li, não conto ler e do qual tenho péssima opinião com base no que leio e oiço - e conta-se em poucas palavras: faz-se um estudo sobre a possível influência do livro no comportamento dos leitores e quando dá-se por isso a autora do estudo deixa de se limitar ao que pretendia estudar e começa a dar lições sobre o que deveria ou não deveria ser o conteúdo do livro. A coisa, está bom de ver, não é nova. Embora a coisa até possa parecer pertinente: se o conteúdo de um livro tem potencial efeito maligno, não seria melhor evitar tal conteúdo? Indo a um exemplo muito concreto, se A Paixão do Jovem Werther levou tantos ao suicídio, não teríamos tido um mundo melhor se tal livro nunca tivesse vindo à superfície? E quem fala num livro, fala na violência no cinema - mau, Tarantino, muito mau - ou noutras coisas tais. Só que aquilo que retiro disto tudo é, em primeiro lugar, uma tentativa abusadora de limitar a liberdade de expressão artística dos outros e, em segundo lugar, o primeiro passo para considerar que a humanidade estaria melhor se protegida por um invólucro de boas intenções que nos afastaria de toda e qualquer coisa que nos pudesse influenciar negativamente. E, não tarda, descobriremos que quase todos os livros são capazes de exercer em alguns de nós influência negativa. Nada que não se revolva: 451 graus fahrenheit é a temperatura a que o papel arde. Dito isto, obrigado à senhora Ana Bonomi por me recordar que há, pelo menos, um motivo para ficar feliz sempre que vejo o livro de E. L. James em grande destaque nas prateleiras do supermercado.