Só pode dar um programa de governo extraordinário
O programa eleitoral socialista tinha uma parte razoável e interessante, diria até reformista, que é precisamente a parte que BE e PCP vão tratar de destruir (refiro-me, por exemplo, às mexidas na TSU e à condição de recurso em algumas prestações sociais não contributivas). Depois tinha uma parte onde exagerava e era irrealista, nomeadamente no ritmo de reposição do rendimentos das pessoas e nos seus efeitos sobre os equilíbrios da economia, onde fazia estimativas que nunca considerei realistas, essa era precisamente aquela parte em que sempre contei que a direita, em minoria, com um PS vencedor das eleições, mas a precisar de alguém que lhe aprovasse os orçamentos, iria moderar. Essa parte será precisamente aquela que a extrema-esquerda quererá ver reforçada. É uma pena que o PS e Centeno não tenham divulgado de forma transparente os pressupostos em que se baseava o seu modelo económico, mas percebe-se porquê: o mesmo modelo que procuraram usar para dar credibilidade ao seu cenário macro, chumbaria certamente qualquer acordo eventual que venha a ocorrer entre PS, BE e PCP. Chumbaria no modelo, chumbará na realidade. Como o povo português acabará pagando para descobrir.