We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
«o caso é sério e está longe de acabar, até porque desconhecemos o actual paradeiro da obra». Meu Deus, o país não dorme a pensar no quadro do Crivelli. De resto, Pedro Picoito dá o caso do «Rembrandt Laughing» que está á beira de sair de Inglaterra para o Getty Museum de Los Angeles. É verdade que o Estado inglês adiou a saída da obra porque conta que um investidor ou instituição britânica (não consta, embora também possa acontecer, que o ministro britânico queira pôr o contribuinte a pagar) se chegue á frente e cubra a oferta da instituição norte-americana. Sem discutir se isto faz sentido, a verdade, até pelos prazos referidos, é que os britânicos não tem aquela coisa muito portuguesa do não se compra, nem sai de cima, que é basicamente o que alguns gostariam que tivesse acontecido com o fabuloso quadro do Crivelli que ninguém até agora tinha ouvido falar. É que a Picoito, para uma comparação séria com a prática inglesa, não interessa este ponto: ao fim de três anos de duração do processo (o habitual é prolongar estes assuntos até uma das partes cair de inanição e a outra esquecer o assunto), era preciso dar uma resposta: ou ficar com o quadro, pagando-o, o que significava, na prática, dispor de aproximadamente €2,9 milhões; ou autorizar a sua saída para Paris. Três anos no caso português contra os três meses do processo inglês que agora iniciou-se - e que pode prolongar-se outros seis meses se investidor ou instituição britânica mostrarem nesta primeira fase estarem em vias de cobrir a oferta. Depois o Picoito ainda acrescenta umas asneiras, incluindo aquela de que «o Governo inglês tem agora três meses para cobrir a oferta» - camarada Picoito, se o Governo inglês quisesse cobrir a oferta, dinheiro não lhe faltava, pelo que não precisava de adiar a exportação da obra para nada - «o que não será muito difícil» - nada difícil, dai o que aconteceu ao Criança com a pomba do Picasso. Mas vejamos as coisas pelo lado positivo, um Picasso não é, definitivamente, um Crivelli. Ó Picoito, vai dar banho ao cão, ok?
Cavaco apela a um «país previsível». Compreende-se, o investimento estrangeiro anda pelas ruas da amargura. O que nos vale é que o último mês foi pródigo em previsibilidade.
A nossa imprensa é tão boa a inventar histórias e a dar-lhes vida que até conseguiu pôr o ex-ministro Vítor Gaspar, hoje, a malhar forte e feio na Maria Luís Albuquerque. Claro que não lhes passa pela cabeça - vamos novamente fingir que o problema da imprensa é de interpretação -, nem as eles, nem a quem os lê, que há qualquer coisa na narrativa que não bate certo. Por exemplo, a parte de Gaspar a explicar o quê que era público e o quê que não se sabia - e que não foi pelo anterior governo que se passou a saber -, não interessa. Muito menos interessa todas as vezes em que Gaspar frisou que Maria Luís não mentiu. Não, isso é que não pode ser. Gaspar, afinal, como parte da nossa boa imprensa nos demonstrou hoje, foi à comissão reconfirmar que Maria Luís mentiu. Mais, a avaliar por algumas notícias, ele foi lá precisamente e especificamente para isso. Gaspar tornou-se a revelar um verdadeiro incompetente. O que nos vale é que a nossa imprensa é tão esperta. Mas tão esperta.
O quadro é tirado daqui. O que vos chama particularmente a atenção? A mim, mas se calhar é só a mim, chama-me especial atenção o valor dos contratos celebrados pela metro do Porto e as suas perdas potenciais (os do STCP também são particularmente interessantes: as perdas potenciais são "apenas" o dobro do valor dos contratos). Não é por isso surpreendente que seja nesta empresa que se encontravam alguns dos contratos swaps altamente especulativos que foram assinados por gente irresponsável e que ditaram o seu afastamento do Governo (nota: que existam perdas potenciais em quase todas as empresas, dada a evolução dos juros, é normal, e diga-se que os swaps, ao contrário do que leio e oiço, não são um instrumento de obtenção de lucros: dito isto, olhem para o rácio valor dos contratos/perdas potenciais feitos pela Refer, por onde passou Maria Luís Albuquerque, e talvez fiquem com uma ideia das responsabilidades dela). Feito este enquadramento, na RTP, acabo de ouvir Rui Rio a malhar forte e feio na ministra Maria Luís Albuquerque e é impossível dissociar isso do afastamento do engenheiro Juvenal Silva Peneda do Governo (sim, é irmão do outro), sendo que este partilhou com Rio presença no Conselho de Administração da Metro do Porto (e também passou pela STCP). Rio, aprendendo com Daniel Oliveira, acrescentou mesmo que Maria Luís está ligada a swaps em tudo iguais aos associados ao engenheiro Juvenal Peneda. Então não está, é que é só olhar para o gráfico.
Chego a casa e ligo a televisão. Passo os olhos pela comissão de inquérito à Maria Luís aos swaps, apanho uma fase particularmente interessante. A ministra das finanças responde a Ana Drago. Ana pergunta, Maria responde. Enquanto Maria responde, Ana não presta atenção, está demasiado ocupada a ouvir indicações de um dos assessores do BE. Ouve-se um burburinho constante na sala onde decorre a audição. Um deputado socialista, com ar de bad boy, sentado no canto superior direito da mesa, do lado esquerdo da ministra, usa o telefone para trocar mensagens. Duas deputadas socialistas, entre as quais uma com ar de amazona, abandonam a sala. O presidente Lacão manifesta tímido incómodo com a falta de respeito que se faz sentir na sala enquanto a ministra presta declarações. A tal ministra que os deputados da comissão queriam muito ouvir. Antes disto havia sido votada uma moção de confiança ao governo não se percebeu muito bem para quê. É verão. Os deputados vão ter umas merecidas férias. Intervalo na silly season.
Neste texto de Daniel Oliveira, um especialista em swaps, há duas frases que vão ter a uma mesma ideia muito interessante, sobretudo quando falamos da expulsão da boa pela má moeda: diz o colunista sobre Maria Luís Albuquerque que esta «conduziu o processo de decapitação de colegas de governo que fizeram contratos swap em tudo semelhantes aos que ela própria celebrou na Refer» e diz que ela é uma daquelas pessoas «que tratam de purgas no governo para salvarem a sua própria pele e que não olham a meios para subirem na política». Vamos deixar de parte a convicção do colunista, quiçá formada numa profunda sabedoria que lhe permite falar de tudo como se tudo dominasse, de que os swaps feitos pela Maria Luís e os ex-membros do governo são em «em tudo semelhantes», para nos concentrarmos naquela ideia da purga e da decapitação de colegas. Confesso que, ao ler o texto, senti-me um bocado à nora: são estes ex-colegas de governo a boa moeda? Os tipos que assinaram os swaps altamente especulativos e problemáticos, segundo a avaliação do IGCP, são a boa moeda? É isto, não é? Confesso-me fascinado. Como uma vez por aqui escrevi, aparentemente, o melhor que a Maria Luís tinha a fazer era ter-se lixado para os contratos dos swaps, deixava a coisa andar e se alguém reclamasse que o contribuinte ia pagar as asneiras de outros e que o actual governo não tinha tentado fazer nada para minorar os danos, ela devia limitar-se a responder: existiam contratos assinados e nós tínhamos de os respeitar. Até porque, com isto, garantia a amizade de alguns homens do regime, que assinaram ou são amigos dos que assinaram tais contratos irresponsáveis e ficava livre da acusação de que faz purgas no governo (outra purga muito triste, que não sei se representará para Daniel Oliveira a explusão da boa pela má moeda, foi a que o Crato fez ao Relvas) para salvar a sua própria pele (até porque, como se vê, é a sua pele que ficou também em risco - os gajos que asneiraram não lhe perdoam, está claro).
Depois, temos este texto de Bruno Faria Lopes. Em alguns aspectos, o texto merecia contra-argumentário mais longo e sério, mas vou-me ficar por duas observações. Primeiro o autor questiona «porquê tanto tempo?» e na sequência da resposta acrescenta com ironia que «não interessa que apenas um mês depois já houvesse um relatório da DGTF a apontar perdas assustadoras». Escusava o recurso à ironia. Não interessa, não. O que não falta são milhares de contratos que se conhecem no Estado que vão custar-nos os olhos da cara e nem por isso o Estado consegue renegociá-los. A renegociação implica sempre um processo longo. Porque, repito: havia contratos assinados. Se esses contratos existem e dão garantias a uma das partes que o assinou e que sabe que o contrato lhe é sobejamente vantajoso, porque aceitaria essa parte renegociá-lo? Não bastava saber que os contratos eram prejudiciais para as empresas públicas, isso por si só não permitia minorar dano algum, o dano fora feito aquando da assinatura dos contratos, uma prática continuada ao longo de vários anos, sendo que mais nenhum foi assinado após o actual executivo chegar ao poder. Mas, com uma investigação séria e profunda dos mesmos contratos, como foi feito posteriormente e de raiz, foi possível ameaçar os bancos internacionais com processos em tribunal e com isso levar a que estes cedessem alguma coisa nos seus direitos contratuais. Capiche? Em segundo lugar, acrescenta mais à frente o Bruno Faria Lopes, novamente com ironia, que o que se pretendeu fazer passar foi a ideia de que «o Governo actual é bom e os outros são os "maus"». Vamos por partes: o actual governo pode ser tão mau como os anteriores, mas neste caso especifico ter andado tão bem como o melhor governo do mundo andaria e os outros terem andado tão mal como, efectivamente, andaram. A isto acrescento que Bruno Faria Lopes, e outros jornalistas, caem recorrentemente no erro de achar que para mostrarem equidistância e independência, devem sempre bater nos dois lados por igual (isto viu-se muito, igualmente, no caso BPN, onde a privatização, resolvida pela Maria Luís, foi tratada, por muito boa gente, como um caso em tudo semelhante à nacionalização e gestão posterior do banco: isto é sempre muito útil para passar a ideia de que são todos iguais). Para terminar, não sei se este governo, na sua essência, é pior ou melhor do que anteriores, mas há uma coisa que sei: a presença da troika e aquilo a que o governo está obrigado perante ela, tem feito deste governo um governo muito melhor do que os que o antecederam. Mas esta é uma narrativa que não importa passar e poucos na comunicação social estão dispostos a corroborar. Enfim, que se «lixe a troika».
Outro problema criado pelo Governo de Passos Coelho. Este Governo não pára. É inacreditável. Para resolver o problema, talvez se possa começar desde já a pensar em como arranjar um pretexto para demitir o actual ministro da saúde Paulo Macedo. E lembram-se?