Lengalenga com onze anos
«Se não corrigirmos estruturalmente os desequilíbrios financeiros do Estado, suscitar-se-ão riscos de novos aumentos de impostos, o que poderá comprometer seriamente a retoma de economia e mergulhá-la de novo em ambiente recessivo». Onze anos nisto. Onze!!! E ainda há quem não tenha aprendido. Pretendia fazer um histórico mais alargado, mas vou ficar por esta notícia: Défice orçamental de 2001 foi de 4,1 por cento: Numa declaração dramática, a ministra das Finanças anunciou os resultados dos trabalhos da comissão Vítor Constâncio e pediu uma «atitude positiva». E o quê que fez a Manelinha nesta altura? Apostou na economia? A receita mágica que advoga agora em consonância com os socialistas? Não, aumentou impostos e conteve a despesa. Repito: com um défice de 4,1%, em circunstâncias internacionais bem mais favoráveis para o nosso país e sem os entraves ao nível do financiamento com que o actual governo se confronta, a Manelinha aumentou impostos e conteve a despesa. Perceba-se: não só o défice e a dívida agora são muito maiores, o que é mais do que suficiente para reflectirmos sobre o muito que ainda teremos de caminhar e o que nos espera, como o nosso querido vice quer renegociar a meta do défice para o próximo ano para os 4,5%. Uma meta - repito: meta - acima do valor dramático que a Manelinha recebeu, que tanto a preocupou e que a levou a aumentar impostos. Dito isto, a afirmação de Poiares Maduro de óbvia até dói. Para terminar, dá um certo gozo ler o último parágrafo da notícia de 2002 a que fiz ligação: «O Partido Socialista (PS) chama a atenção do Governo para defender em Bruxelas um défice de 3,6 por cento do PIB, uma vez que esse seria o valor estimado com base na metodologia seguida habitualmente, refere uma nota ontem distribuída. Por um lado, porque Portugal obteve uma derrogação para a contabilização das receitas fiscais incobráveis e, por outro, porque "os valores agora apresentados relativamente às dotações de capital parecem seguir um critério mais exigente e diverso do que tem sido aplicado por outros países". Sem querer transformar esta questão numa "polémica interpartidária", o PS assume o valor de 3,6 por cento como "défice excessivo" e "as responsabilidade do seu Governo, nomeadamente a incapacidade de prever que a fronteira dos 3 por cento pudesse ser ultrapassada", apesar de medidas de contenção tidas como "insuficientes".» Sempre era um bocadinho mais responsável do que é agora, mas na lógica de varrer os problemas para debaixo do tapete, nada mudou. Onze anos desta lengalenga. Onze!!!