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Os Comediantes

We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession. If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all. We are bad comedians, we aren’t bad men.

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Manifesto (1)

Há várias coisas que podem ser ditas sobre o manifesto. Comecemos por alguns pormenores: 1) os nomes mostram o pendor político e não económico do documento (são muito poucos os nomes de peso ligados à ciência económica que assinam o documento: o que diz muito do que há para saber sobre o mesmo); 2) o timing é adorável, em cima da saída da troika (se bem que compreensível); 3) o impulsionador da coisa é o pai das SCUTs (dá enorme credibilidade à coisa); 4) há gente que assina este documento em 2014, que em 2009, demonstrando a sua extraordinária visão de longo prazo, assinaram outro manifesto onde era sugerido que se fizesse obra pública e em força (registe-se contudo a presença de José Silva Lopes, que sempre tem a seu favor ter estado do lado dos que, com outro manifesto, alertavam para os excessos que se cometiam e as suas possíveis consequências); 5) o clube dos pensionistas faz-se representar ao mais alto nível; 6) a presença em peso do patronato presente na concertação social.

Melhor que falecer

 

Vi a primeira parte do Prós & Contras - não verei a segunda - e permitam-me que faça dois apontamentos: 1) tanto acho uma certa ideia de empreendedorismo absolutamente vital para pôr este país a funcionar decentemente e a gerar maior riqueza, como acho que ter Miguel Gonçalves, o rapaz do «bate punho», a falar da coisa é o pior favor que se pode fazer à noção de empreendedorismo que defendo (ouvindo-a na boca do Miguel Gonçalves, com o seu discurso oco que depois acabo por ouvir repetido por algumas chefias medíocres deste país - a coisa propaga-se tipo vírus -, quase fico com vontade de atirar a expressão para o meu baú de expressões detestáveis); e 2) no seguimento de declarações de Belmiro de Azevedo que julgo terem sido mal interpretadas, digo-vos eu, que sempre trabalhei mais do que as 40 horas semanais em todos os empregos por onde passei, que não queiram passar a mensagem que trabalhar mais horas por semana é solução defensável de longo-prazo para o país (ou que é a falta disso que nos distingue, para pior, em relação a outros países mais ricos): na mesma lógica da defesa da baixa de salários que por vezes aqui fiz, pode até ser aceitável o aumento do tempo de trabalho numa situação de emergência de curto-prazo (o que, diga-se, aconteceu em Portugal nos últimos anos, até por via de medidas governamentais, como por exemplo o fim de alguns feriados; isto para não falar na medida de aumento do horário de trabalho da função pública, mas ai falamos também numa questão de justiça e de reequilibrio entre dois sectores distintos - público e privado - e portanto a explicação é mais complexa), mas a ideia chave que devia ocupar a cabeça de quem tem responsabilidades na matéria é a seguinte: como ter trabalhadores a trabalhar o mesmo tempo que trabalham hoje (ou até menos), produzindo mais e melhor. É especialmente disso que devemos falar quando falamos em aumentar a produtividade. Porque se o objectivo é sermos burros de carga e trabalharmos de manhã à noite sem parar - numa lógica de que só a trabalhar muitas horas é que geramos muita riqueza -, amanhã mesmo abdico do computador que tenho no meu posto de trabalho e garanto-vos que para fazer o mesmo que faço actualmente, nem com o dobro do tempo que geralmente passo no trabalho o conseguirei fazer. 

Divagações

Enquanto espero pelos jogos de futebol desta tarde/noite, permitam-me mais uma ou outra divagação. Estive aqui a verificar e só em Fevereiro vi 31 filmes. Nada mau: quer dizer que, aproximadamente e durante o último mês, consegui garantir mais de duas horas por dia dedicados a uma das minhas paixões. Desde que Março começou, por outro lado, vi 2 filmes: ok, estou de volta ao ritmo. Mas voltei a escrever na blogosfera e, sobretudo, no twitter (já tinha algumas saudades de assumir a minha postura (algo fingida) pró-passista que tanto irrita quem tem um ódio a Passos e aos actuais governantes parecido ao que eu tinha por Sócrates). Mas é assim: a gestão do tempo é coisa chata e não dá para tudo. Mais: em Fevereiro acabei a leitura do Órix e Crex da Margaret Atwood, terminei praticamente de ler o Ano do Dilúvido da mesma autora e ainda tive tempo para ler finalmente o Auto-Retrato do Escritor enquando corredor de fundo do Murakami. Isto tudo sem um único dia de férias. Desconfio que este ano, no capítulo da leitura e do cinema, vá ser difícil voltar a ter um mês tão bom quanto o anterior.

 

 

Entretanto, (re)descobri todas as sinfonias do Beethoven. A sétima tem-se feito ouvir incansavelmente quase todos os dias, inclusive aos sábados de manhã no escritório, numa mistura perfeita entre trabalho e prazer (aumenta-me a produtividade? desconfio que não, mas não o digam a ninguém que isso agora não interessa nada). Às tantas dei por mim - muito graças ao Spotify -, a ouvir mais música clássica do que rock/pop contemporâneo. Com isto tudo, dei também por mim a pensar muito menos em política/economia: Fevereiro nesse capítulo foi um mar de tranquilidade. Fez-me bem, revigorou-me o espírito. Mas não há forma de tirar o gosto pela política de dentro de mim: basta um congresso do PSD e já está. A verdade é que comecei a gostar de política a acompanhar os velhinhos congressos do PSD: o espectáculo à frente da substância. E enquanto Marcelo discursava, e eu maravilhado não conseguia deixar de o ouvir pela televisão, isso tudo veio à tona, num mar de nostalgia e emotividade. Talvez não o devesse dizer, mas a política, às tantas, desperta em mim sentimentos que só o futebol consegue também despertar. Claro que encarar a política como futebol não será propriamente brilhante, mas não tenho como fugir daquilo que sinto. E Pedro Santana Lopes outrora já foi o meu Cristiano Ronaldo (calma, escrevi outrora: a idade pode não nos trazer juízo completo, mas sempre dá-nos alguma clarividência).

 

Mas voltando à música, nomeadamente ao rock/pop, a minha relação com esta tem por estes dias alguma semelhança para com o que se passa em relação ao cinema: um regresso aos êxitos do passado. A Rolling Stone aqui há uns anos fez a selecção das 500 melhores canções de todos os tempos e é a partir dessa escolha (um tanto ou quanto enviesada a favor dos anos 60 e 70) que se está a fazer o filtro do que ando a ouvir por estes dias. Fica um cheirinho com a inconfundível Aretha:

 

Roteiro pós-troika

Ontem, descobrimos várias coisas graças ao Expresso e ao prefácio do senhor Presidente, a saber: 1) que teremos de manter o rigor orçamental pós-troika (quem diria?); 2) que o Presidente prefere um programa cautelar a uma saída limpa (ninguém imaginava...); e 3) que a monitorização da nossa situação pelos parceiros que nos emprestaram dinheiro irá manter-se por muitos e longos anos, até termos pago parte substantiva daquilo que nos emprestaram (uma novidade tão antiga quanto a data em que assinamos o memorando original, mas fico-me por esta declaração da actual ministra das finanças, mais recente: «os nossos credores internacionais acompanharão a economia portuguesa até que sejam reembolsados 75% da dívida»).

 

 

Mas Portugal é um pouco "isto" há muito tempo. Nestes tempos de troika, então, "isto" tem sido o prato do dia. Não há notícias, inventam-se notícias. Não há novidades, inventam-se novidades. E como aquilo que devia estar percebido e entendido há séculos, se o tivesse sido deixava os jornais sem notícias relevantes para dar (e os políticos sem assunto para debater: sim, porque estes, evidentemente, têm a sua quota parte de responsabilidade pelo país não passar disto; são os primeiros a quem interessa este carrossel informativo), a mesma coisa é esmiuçada vezes e vezes sem conta como se o que agora estivesse a ser esmiuçado o fosse pela primeira vez. Mais: como quem conta um conto, acrescenta um ponto, os jornalistas inventam: de uma monitorização para durar 20 anos, rapidamente desaguamos numa «austeridade para durar 20 anos» ou em «iremos fazer sacrifícios durante 20 anos». Se o objectivo é assustar e não esclarecer, os jornalistas estão no bom caminho.

 

 

O rigor orçamental confunde-se com austeridade e a necessidade de superavits para pagar a dívida com sacrifícios. Enfim, sei que não é difícil entender, não o pode ser, que o Estado gastar menos do que aquilo que recebe é não só uma política aceitável, como, a certa altura, inevitável. Isto se o objectivo é evitar (maiores) sacrifícios e ter uma economia saudável. Agora, claro que se o Estado está a gastar muito mais do que aquilo que recebe, a correcção para uma situação inversa passará, necessariamente e salvo algum boom extraordinário no crescimento económico que não se perspectiva, por austeridade e sacrifícios no imediato (é aquilo por que passamos), mas atingida a situação de superavit, continuar a falar em austeridade e sacrifícios não faz muito sentido. E quer na cabeça de Cavaco, quer na ideia daqueles que vão ficar por cá a monitorizar-nos, obviamente ninguém conta que só daqui a 20 anos o Estado português venha a apresentar superavits nas suas contas públicas. Assim fosse e muito antes disso teríamos de declarar falência.

 

 

Sim, há uma parte muito complicada no processo português: a enorme dívida que carregamos às costas. É isso que explica que mesmo depois de atingidos os superavits - esperemos que os atinjamos mesmo e depressa -, demoremos muitos e longos anos até termos diminuído a dívida pública em função daquilo que produzimos para uma situação aceitável. É por isso que teremos de ser monitorizados por muitos e longos anos: não porque a austeridade e os sacrificios estejam necessariamente para durar - se o estivessem, não só tal não faria sentido, como seria impraticável -, mas porque durante um longo, enormíssimo período, o risco de voltarmos a cair na situação em que começamos a cair a sério e sem retorno a partir do final da última década venha a repetir-se (note-se que não ignoro que o nosso problema não é só orçamental). Que esse risco existe, não é difícil perceber e basta ter alguma memória: ou as duas primeiras intervenções do FMI em Portugal, no pós 1974, não foram praticamente uma a seguir à outra? Porque terá sido?

 

 

Na diminuição desse risco, entra o Tratado Orçamental, que o PS votou favoravelmente no Parlamento, para já estarem a fazer-se ouvir vozes dentro do partido a criticá-lo: o que não deixa de ser reconhecimento da parte dessa gente de que com os objectivos do Tratado não há caminho muito diferente do actual, por muito que outros, também do partido, insistam em sugerir o contrário. Tratado esse que pretende precisamente impedir/limitar a rebaldaria despesista para que alguns gostariam de tornar a atirar o nosso país. No fundo, há quem ainda não tenha percebido que o não cumprimento dos critérios do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que Prodi lembrou-se um dia de declarar morto, explica em parte o que sucedeu à Europa nesta crise e já queira repetir a história. Mas no contexto do Euro, o rigor orçamental de todo e cada Estado-membro é mesmo uma necessidade imperiosa e dai resulta a necessidade, para Portugal, de proceder a cortes permanentes na sua despesa pública (nota: um dia alguns perceberão que a definição e aceitação dos cortes permanentes é, precisamente, a condição necessária para o fim da austeridade permanente). Cortes permanentes esses que o PS insta o Governo a explicar quais são. O que não deixa de ser curioso: os cortes deste Governo não são todos temporários até o PS chegar ao Governo? Se não o são, ouvindo Seguro falar, às vezes parecem.

A trágica fortuna dos artistas portugueses

A cultura anda pelas ruas da amargura, dizem. E lá gramamos com este ou aquele artista muito irritado porque anda sem ganhar dinheiro. E a culpa dele não ganhar dinheiro é, como não podia deixar de ser, deste ou daquele governante. Bem, para o artista que estava habituado a viver colado ao Estado, assim será. Ainda ontem, em plena RTP, uma artista portuguesa, com certeza, lá queixava-se que queria era que a RTP lhe arranjasse trabalho. Por algum motivo há tanta resistência à privatização do canal vinda em grande parte dos meios culturais. E também por ai se explica que a ideia de que o Estado gasta(va) menos de 1% do PIB com a cultura nunca foi bem verdade. Adiante: que a vida está difícil, ninguém ignora, mas está difícil para (quase) todos. Que uma grande maioria, cada elemento individualmente considerado, se ache especial e julgue ser dever da sociedade tratá-lo de forma especial, idem (seja ele o polícia que sobe as escadarias da AR, seja o cantor com carreira pré-1974 que pouco mais tem para apresentar no curriculum do que um one-hit wonder). 

 

 

Mas depois olhamos para a realidade e o que vemos? Logo a começar, vê-se que nunca houve tanto trabalho para actores como nos dias que correm (nem nunca existiram tantos actores). Ah! Não é alta cultura e tudo se deve às telenovelas, produto menor com o qual certos actores não querem ser associados? Problema deles. Dada a realidade do mercado português é, felizmente, um produto economicamente viável, que aguenta sem necessidade de apoio financeiro do Estado, e que não deixa de ser um produto cultural, por muito que alguns não gostem dele. Estávamos melhor quando no inicio do milénio só tínhamos novelas brasileiras? Não, não estávamos. A cultura está a morrer? No que à representação diz respeito, dificilmente. Se bem que, claro, pode sempre haver quem argumente, na linha do Tordo júnior com os pasteleiros - nota: a gastronomia também é cultura -, que as novelas são a prova de que a cultura está a morrer pois estas pouco mais representam do que a substituição dos verdadeiros actores - portanto, a malta que verdadeiramente faz cultura - por malta da moda com carinhas bonitas e corpos atléticos - que, portanto, não sabem representar e não fazem cultura; nota: a moda também é cultura. - Resumindo: a velha lengalenga do «não gostamos de concorrência» e «deixem os dinossauros proliferar». Mal sabem eles que a entrada de novos players no mercado, tenham a origem que tiverem, é sinal da vitalidade do sector. De qualquer sector.

 

 

E na música? A música está pelas ruas da amargura. Será mesmo assim? Há poucos dias lia a Cristina Branco, emigrante vivendo na Holanda, a queixar-se igualmente que a cultura está a morrer em Portugal. Bem, se a cultura está a morrer, o fado - há coisa mais portuguesa? - parece-me que vai de vento em popa. Não porque foi considerado património imaterial da humanidade, uma treta qualquer, entretanto caída em esquecimento, a que alguns dedicaram imenso esforço e atenção - condição essa que, qualquer dia, estará a ser partilhada com o Carnaval de Torres Vedras -, mas pela realidade espelhada nos artistas portugueses que se internacionalizaram (onde a Cristina Branco se inclui) e que correm mundo a espalhar a nossa cultura. Insisto: a nossa cultura a morrer? Em plena fase de vitalidade do fado a que não será alheia uma nova geração de ouro? Parece-me mais um problema de enorme desatenção (se o problema é que para ganharem dinheiro precisam de fazer carreira lá fora, reparem que isso não é um mal, é um bem: sorte a deles que haja lá fora quem os queira ouvir e sorte a nossa porque abrem portas a outros artistas para lhes seguirem os passos: é, inegavelmente, sinal de vida, não de morte).

 

 

E ainda na música, porque é na música que se tem levantado maior queixume nos últimos tempos, ainda estou para perceber como é que os artistas portugueses têm a lata de se queixarem da falta de receitas quando o sector dos festivais de verão é um dos que não só tem-se aguentado durante a crise, como até tem apresentado algum crescimento, mostrando que os portugueses não se importam de pagar - e em muitos destes festivais falamos em pagar bem, muitíssimo bem para a realidade do país - para ouvir música ao vivo. Ah! Esses festivais estão recheados de artistas estrangeiros? Ora, se o problema é esse, os artistas portugueses só se podem queixar de si próprios, por não conseguirem cativar o mercado de consumidores pagantes - que inegavelmente existe - a dispender dinheiro nos seus concertos. Ou isso também é culpa dos governantes? Ou não deviam viver os artistas das receitas de bilheteira? Ok, se calhar há também aqui alguma culpa de muitos governantes: deram, durante muito tempo, os meios para vários artistas viverem despreocupados da bilheteira efectiva que os seus concertos conseguiam granjear. Felizmente, se o problema é este último, é muito fácil de resolver.

Óscares


Bem, mais de um mês e meio depois, deixem-me lá escrever aqui qualquer coisinha para mostrar sinais de vida. Os óscares é um bom pretexto: vi três dos nove nomeados na categoria principal: The Wolf of Wall Street; Gravity; e Her. Tirando o último, os outros dois parece-me que rapidamente vão cair no esquecimento (Scorsese já fez muito melhor; e 2001: Space Odissey, porque houve quem se atrevesse a compará-los, é incomparavelmente melhor que Gravity). O filme de Spike Jonze, sobre o homem que apaixona-se por um sistema operativo, provavelmente não ganhará nada: pela originalidade e actualidade, se ganhasse é que era de admirar. Dos nomeados na categoria de melhor filme estrangeiro, vi e gostei de La Grande Bellezza, do Paolo Sorrentino (de quem já tinha gostado do Le conseguenze dell'amore), - aqui arrasado pela nossa crítica -, e A Caça, do Vinterberg, de que ainda gostei mais e deve ser o filme que o Woody Allen anda a ver por estes dias.

 

Mas não era propriamente sobre os óscares que vos queria falar. Durante este período de ausência da blogosfera, sobrou-me tempo para outras coisas, e ver filmes foi mesmo uma delas. E o que vi, se vi tão poucos dos filmes de que toda a gente fala neste momento? Vi, pela primeira vez e só para nomear alguns, o Charade com o Cary Grant e a Audrey Hepburn, que só pelos diálogos já é muito melhor que a maior parte da porcaria que se faz nos dias de hoje; It Happened on Night; The Thin Man; His Girl Friday; Arsenic and Old Lace; The Philadelphia Story (absolutamente genial); Holiday; The Apartment (adorável); Now, Voyager; Cat on a Hot Tin Roof (extraordinário o papel dos actores); e ainda podia acrescentar mais uns quantos (triste de mim que ainda não tinha visto estes filmes; sorte a minha poder tê-los vistos a todos quase de seguida).

 


Além disso, vi uma série de maluquices japonesas, das quais nomeio três: Instant Swamp; Rent-a-Cat; e Love Exposure. O último é absolutamente delirante. E a loucura de algum cinema japonês configura para a minha pessoa uma das melhores forma de fuga momentânea aos problemas e stress do dia-a-dia (função do cinema tão importante quanto qualquer outra). Enfim, para descomprimir não há melhor. E nessa tentativa de descomprimir até o cinema indiano experimentei: apesar de ligeiramente tolo, é suportável, e as canções são bem capazes de ser a melhor parte.

 

Além disso, o cinema japonês não é só feito de maluquices, mas também de extraordinárias, subtis e tocantes histórias sobre a sociedade e a família (tenho chegado à conclusão de que os japoneses acabam por ser o melhor povo do mundo a retratar o tema). Por exemplo, e para nomear alguns que entram nessa categoria dos que vi neste último mês e meio, veja-se Tokyo Sonata; Still Walking; e Tokyo Story. O último é um daqueles casos raros que em que me emocionei de tal forma que fui levado às lágrimas.

 

E no cinema oriental acabei também por passar por Hong Kong: comecei com An Autumn's Tale, extraordinária história de amor entre emigrantes chineses numa Manhattan que me recordou o filme do Woody e que me deu a conhecer um Yun-Fat Chow dócil e longe dos papéis durões que o caracterizaram. Na sequência desse filme, a minha atenção foi levada para outro filme sobre emigrantes chineses, também ele uma belíssima história de amor - não tem nada de quase, apesar do estúpido título em inglês de Comrades: Almost a Love Story -, cujo título original, Tian mi mi, refere-se a uma música de Teresa Teng, artista taiwanesa muito popular na região que faleceu um ano antes da rodagem do filme com apenas 42 anos e cujas canções são peça chave no desenvolvimento da história de amor que nos é apresentada (que conta, tenho de dizê-lo, com uma Maggie Cheung deslumbrante). Às tantas, depois de ver o filme, acabei por passar algumas horas a ouvir as músicas de Teresa Teng. Na verdade, as músicas são um bocado parolas, mas se todas as cartas de amor são ridículas, aceitemos que as canções também o possam ser. E descobri no que li posteriormente sobre ela, que a artista uma vez esteve para casar, mas tal não sucedeu porque a família do noivo exigiu, entre outras coisas, que ela abandonasse a carreira artística. Vida de mulher pode ser difícil. E não sabendo se foi esse o caso, a verdade é que a parceira feminina de Yun-Fat Chow em An Autumn's Tale, Cherie Chung, acabou por abandonar a representação no auge da sua carreira, logo após o casamento. Cherie Chung que levou-me a ver o Peking Opera Blues, uma deliciosa mistura de acção, romance e comédia, made in Hong Kong, com o cunho de Tsui Hark. Provavelmente, a coisa mais divertida que vi desde o ínicio do ano.

 

Para terminar, vi, finalmente e ainda durante esta semana que agora acaba, O Sétimo Selo de Ingmar Bergman. Se o cinema tem uma capacidade extraordinária de nos marcar e fazer reflectir sobre a vida, este filme é uma das provas disso mesmo. Pouco depois de acabar de ver o filme, adormeci. E, não sendo eu pessoa de ter muitos sonhos, acordei nessa noite depois de um estranhíssimo sonho onde era confrontado com a minha própria morte. Um bom filme nunca acaba com o rolar dos créditos finais.


(Dito isto, acho que vou ver se me actualizo sobre os filmes dos óscares que ainda não vi. Ah, espera, tenho ali o 8 1/2 e o La Dolce Vita do Fellini a olhar para mim. Parece que os filmes dos óscares deste ano vão ter de esperar.)

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