Distribuição de sacríficios
E eis que, com enorme espanto, houve-se o actual PM falar de um esforço melhor distribuído dos sacrifícios necessários para tornar sustentável a segurança social e que isso é bom para a economia. Pensava, equívoco meu, que quando tomaram medidas que agravaram de forma substancial a forma de cálculo de quem ainda aspira a receber uma pensão, essa fosse a forma de os pôr a partilhar o sacrifício. Está visto que não: ainda têm de lhes aumentar os descontos. Mais descontos e menos reforma? Notável. E descobriu agora que isto é melhor para a economia? Inverteu o discurso e a política a que propósito? Com que lata é que usa os argumentos que eram precisamente os contrários dos que ia defendendo até aqui? Isto é o passismo/portismo a não se distinguirem do socratismo. Tudo vale. Os argumentos são acessórios. As convicções maleáveis. E se hoje defendo uma coisa, amanhã posso muito bem vir a defender o seu contrário. É governar ao sabor do vento (e das pressões, dos lóbis). Uma gaja qualquer do CDS - sei o seu nome, mas nem me apetece pronunciá-lo (os nomes que eu gostava de lhe chamar a ela e a outros eram outros) -, veio até afirmar que a CES é um imposto e que este caiu. Que cara de pau. Notável! Tudo muito notável, isto foi dito por uma ex-secretária de Estado deste Governo; actual deputada que suporta este Governo; o mesmo Governo que não se cansou de afirmar que a CES não era um imposto: e, no fundo, não é mesmo, é apenas uma forma criativa de cortar na despesa e nada mais do que isso. Enfim, é de uma lata monumental cortar no rendimento futuro esperado dos mais jovens, em toda a linha, nos salários actuais e nas pensões, ao mesmo tempo que transforma-se numa prioridade a reposição de todas as pensões de quem beneficiou de regras muito, mas mesmo muito mais generosas do que aquelas com que os jovens podem contar. A prioridade não era baixar impostos? Não era isso uma prioridade ainda antes de os subirem para níveis estratosféricos? Já não é. E se isto é assim com o PSD e o CDS (ex-partido do contribuinte; renovado partido dos pensionistas) a nos governarem, só imagino como será quando chegar ao poleiro o PS. Como isto está, os jovens são triplamente prejudicados: menores salários; maiores contribuições; menores pensões (que passa, também, por começarem a receber a sua pensão completa numa fase muito mais adiantada da sua vida: viverão mais anos, é certo, falta é saber com que qualidade). Relativamente falando, os pensionistas actuais preparam-se para sair desta história quase intocados: belos direitos adquiridos. Isto é bom para a economia? Para quem tem o pensamento centrado no curto-prazo, no imediato, como o dos actuais governantes está inequivocamente, talvez seja (note-se que alguns dos que nos governam são jovens, é certo, mas o negócio da maior parte deles sempre é fazer política e para isso precisam de votos: os incentivos estão desalinhados com os da maior parte dos restantes jovens). De resto, a maior parte dos jovens que continuam a tentar fazer a sua vida em Portugal, muitos deles não percebendo, nem imaginando, o que lhes estão a fazer, ficam quietos e mudos. Nem sei porque alimentei esperança que desta vez fosse diferente. O statu quo ganhou. Os instalados triunfaram. Quem fez as regras que muito lhes beneficiou, são os que agora controlam as manifestações e as indignações a que a comunicação social decide dar voz. Basta um gajo qualquer de cabelos brancos, ex-governante, falar, para que a comunicação social ache muito relevante destacar o que o sujeito diz. E assim vai Portugal. Finalmente, o Governo tornou-se inequivocamente o que diziam ser: fraco com os fortes; forte com os fracos. Jovem: paga e não bufes.