Abriu a época do circo
1. Louçã, na SICN, ao mesmo tempo que crítica as metas do memorando, crítica a subida da dívida que se verificou no último ano. Curioso, um professor de economia devia saber a relação entre défice e dívida. Também por isso, contra ventos e marés, qualquer que seja a vontade de muitos que por ai andam, o défice vai baixar. Quanto mais não seja porque a certa altura, seguindo pelo caminho da irresponsabilidade, o Estado irá ter de assumir que não consegue pagar a dívida - o propósito de Louçã - e a partir desse momento não existirá forma de financiar qualquer défice. De resto, sobre a evolução do dito cujo, recordemos: 10,2% em 2009; 9,8% em 2010; 7,8% em 2011 (sem fundo de pensões da banca); e, provavelmente, qualquer coisa à volta dos 6% este ano. Não são os 3% de défice para este ano que Sócrates nos garantia o ano passado, mas sempre é melhor que nada. E não esqueçamos: devemos ter o superavit como objectivo. Vai doer? Ó se vai.
2. Seguro, tudo indica, vai ver ser aplicada a estratégia que definiu desde sempre como sua. Meta do défice para este ano aligeirada, mas necessidade de maior esforço para anos seguintes. Por isso, não deixa de ser curiosa a argumentação que usa para passar a ideia de ruptura com o Governo e a troika. Pretendendo parecer coerente, inventa uma história fantasiosa: a de que seria possível chegar ao final deste ano com o mesmo défice que teremos através de medidas menos duras do que as que foram tomadas. Acredita quem quiser, eu limito-me a dizer que estamos perante uma argumentação pouco séria. Se o PS acha que a solução passa por não baixar o défice, diga-o. Não há necessidade de aldrabar.
3. Carlos Botelho cita aqui Manuela Ferreira Leite e usa-a para atacar um certo discurso do Governo. Confesso que em alguns casos não compreendo muito bem a relação estabelecida, até porque a ex-líder social-democrata foi recorrentemente vítima da histeria e gritaria típicas de uma sociedade que opta frequentemente pela barulheira para matar qualquer hipótese de debate sério de ideias. Por outro lado, permitam-me uma pergunta: acham mesmo que há assim tanta diferença entre o pensamento de, digamos, um António Borges e o de Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva? Por favor, estão alinhadíssimos. De resto, julgo estarmos perante uma mistificação: só o discurso e algumas medidas tomadas pelo Governo é que permitem que hoje estejamos em condições de atirar responsabilidades por uma qualquer revisão de metas para a troika. Foi sempre essa a ideia. Só não percebe quem não o quer perceber.