Jogo democrático enviesado
Executivo que se preze que governe a pensar em eleições sabe que, se necessárias, as medidas duras devem ser aplicadas em força no inicio do mandato e mais tarde, aproximando-se as eleições, é preciso começar a tentar que a economia ganhe balanço. Cá está: «Chegou o momento do investimento». Vem ai o crescimento. Ou talvez não, porque desta vez a crise é de outra natureza. Mas adiante: esta figurinha, de muito longe o pior Presidente da República pós-25 de Abril que este país conheceu, apesar do ar muito sério que ostenta, não se cansa de mostrar a sua mediocridade, a de quem não pensa além do curto-prazo e, especialmente, no bem-estar dos seus. Entenda-se: o bem-estar de alguns camaradas de partido. Não que discorde da desdramatização das eleições antecipadas, é só os partidos de coligação desentenderem-se de vez e assim entenderem que muito me agradaria ter eleições, até porque se estivesse na posição de Passos Coelho já as teria provocado há muito tempo, recusando-me a seguir um guião forçado que nunca seria o meu. Passos e Portas, que neste jogo do gato e do rato às vezes até parece que querem essas mesmas eleições antecipadas, só não pretendendo ficar com o ónus de as terem provocado, agora até as poderiam provocar e desresponsabilizar-se dos seus efeitos dizendo qualquer coisa como: «todos os partidos de esquerda pediram eleições antecipadas? Aqui as têm, agora não se queixem e assumam as consequências das mesmas». Mas voltemos e terminemos na figurinha já referenciada, o problema desta é que quer um presidente que, à sua imagem e semelhança, deite abaixo um Governo que, até prova em contrária, conta com um apoio inegável e absolutamente maioritário na Assembleia da República. A ideia, que seria apenas a repetição de história já antiga onde a figurinha foi protagonista central, é toda ela original, inovadora e brilhante, toda uma nova forma de centrar o nosso jogo democrático: os ciclos eleitorais dos governos PSD/CDS, denominados «governo de direita», deviam ser reduzidos a metade do ciclo eleitoral, precisamente aquele onde ainda só tiveram tempo de aplicar as medidas duras. Passada a fase mais dura do ciclo, este tem de chegar abruptamente ao fim de forma a dar a oportunidade ao PS de beneficiar da potencial bonança.