O problema de Machete
«Tem ligações nos dois maiores partidos», escrevia o antigo embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, Thomas Stephenson, num telegrama revelado pelo wikileaks. Olha-se para o seu curriculo e percebe-se essa ligações. Um rosto do regime. Além disso, como escrevia Nuno Garoupa há não muito tempo: Ao contrário de outras sociedades, felizmente, em Portugal, temos um número limitado de gente capaz. Estão todos identificados, não são mais que umas quinhentas pessoas, muitos já com generosas pensões depois de três décadas a servir o país. Machete faz parte dessa pouca gente capaz. E não, não partilho o conteúdo das críticas do BE à escolha, nem acho que a omissão da passagem pelo SLN, em alguém com o curriculo de Rui Machete, mereça ser caso político. Mas que é um rosto do regime, é. E eu não gosto de rostos do regime. Mais: Para Adelino Maltez, a nomeação de Machete é «a escolha de um senador que dá garantias de sabedoria e experimentação num governo que era acusado de imaturo e de [ser composto por] 'jotas'». Garantias, é basicamente isto. Da mesma forma que dava garantias, de reputação dos bancos junto do regime, a sua associação ao BPN e ao BPP. Passos Coelho, diga-se, pelo menos nas escolhas ministeriais, até tem tentado evitar ir por este caminho, o de ir buscar os velhos do regime, como, por exemplo, a escolha de Álvaro Santos Pereira e de Poiares Maduro evidenciam. Gente que, além de representarem sangue novo, chegaram onde chegaram sem deverem ou terem prestado favores a quem quer que seja neste país pequenino. Que Passos Coelho tenha agora sentido a necessidade de se voltar para o amigo Machete, diz bem de como se sentiu apertado nesta remodelação.