As cedências do patronato
O título desta notícia é falso. A jornalista deve ter achado graça quando o escrevia, mas demonstrou-se incapaz de perceber o que está em causa. O governo vai subsidiar em 1% os salários dos trabalhadores, como a própria notícia explica, exactamente para compensar o acréscimo de 1% dos custos salariais que as empresas irão ser sujeitas com a criação de dois fundos que foram acordados em concertação social. Logo, o efeito é neutro. Como pode esperar o governo, perante duas novas medidas que se anulam, que isto gere postos de trabalho? Não espera. O que o governo terá dito é que conta que 110 mil postos de trabalho a criar no futuro venham a ser afectados por esta medida (não sei se sabem, mas mesmo em fase de aumento do desemprego há novos postos de trabalho que se criam, não são é suficientes para, e com isto simplifico, compensar os que são destruídos), o que é uma coisa muito diferente. Mas disto passo para o que considero verdadeiramente relevante: na concertação social, os sindicatos acharam por bem ceder em algumas medidas de que não gostavam e em troca o patronato teria cedido ao aceitar que estes dois novos fundos, que visam, por exemplo, garantir que todo o trabalhador recebe as indemnizações por despedimento a que tem direito, fossem criados. Com este "incentivo" do governo, o que fica evidente é que quem suportará ambos os fundos é o Estado, ou seja, o bom do burro de carga do contribuinte (sim, o governo conta que a medida seja financiada por dinheiro da Europa, ou seja, pelo contribuinte europeu, mas o dinheiro do contribuinte europeu seria muito melhor usado noutros gastos já existentes que desonerariam o contribuinte português). O patronato não cedeu nada. O patronado atirou o problema para cima do Estado. O patronato é fantástico. E o Estado não tem défice e por isso pode subsidiar estas brincadeiras, feitas em nome das cedências do patronato. O patronato é lindo. O patronato adora a concertação social.