Wishful thinking e eleições antecipadas
Um «cidadão reformado» afirmou que o executivo parece afrontar propositadamente o Tribunal Constitucional na ânsia de criar um pretexto para se demitir. Isso, pareceu-me, queria ele. Mas não está sozinho: há quem, mesmo entre os apoiantes do Governo, pareça acreditar que este deverá demitir-se se o TC chumbar-lhe novamente medidas fundamentais. Como sabem, fui da opinião que o Governo devia ter-se demitido nas primeiras vezes que o TC barrou-lhe o caminho que pretendia seguir. Não o tendo feito, seria, no mínimo, incoerente recorrer a tal pretexto para se ir embora numa fase em que faltará cerca de um ano para acabar a legislatura. Não o fizeram quando deviam, agora sejam responsáveis e aguentem-se até ao fim. Mas ainda que o Governo seja responsável e leve o seu mandato até ao fim, sobrariam duas hipóteses para irmos para eleições antecipadas. A primeira hipótese seria o Presidente deitar abaixo o Governo. Não me parece credível: além da sua insistência na necessidade de estabilidade política, Cavaco Silva deu a hipótese ao PS de eleições antecipadas aquando da crise política (quiçá com segundas intenções, antecipando o resultado das negociações); o PS recusou ceder aos intentos de Cavaco; se este agora, sem que o acordo que exigia tivesse sido alcançado, oferecesse a cenoura ao PS e levasse este governo de maioria absoluta ao chão, estaria, no mínimo, a ser incoerente consigo próprio. Duvido que alguém que conheça a fundo o pensamento de Cavaco acredite nesse cenário. A outra hipótese era o «plano cautelar» ser de tal forma um «segundo resgate» que quem manda na Europa viesse a exigir o comprometimento formal do PS com a coisa. Nesse caso, o PS seria atirado para um acordo à força que não gostaria de assinar, até porque iria revelar toda a treta em que assenta o seu discurso político, mas teria poder negocial suficiente para, por si só, forçar eleições antecipadas. Também há muita gente a acreditar neste último cenário. Há algum tempo que acho que estão muito equivocados. O «programa cautelar» não obrigará a nada disso. Se o obrigar, cá estarei para reconhecer o meu erro de análise.