Diz o homem que ainda não tem acordo à esquerda para mostrar
Carlos César considera incompreensível "demora" de Passos e critica silêncio de Cavaco
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Carlos César considera incompreensível "demora" de Passos e critica silêncio de Cavaco
E no fim terminou com uma ditadura: Governos de curta duração? Já tivemos 51 executivos entre 1910 e 1926...
Na Polónia, ganhará por larga margem o partido eurocéptico (já esteve no poder, mas alcançará agora o melhor resultado da sua história e pode mesmo vir a ter maioria absoluta). O resultado foi influenciado em parte pela questão migratória que tem estado em foco na agenda europeia, com o partido a adoptar uma linha dura em relação ao acolhimento de imigrantes (note-se, além disso, numa perspectiva meramente nacional, que esta vitória terá quase de certeza impacto negativo em empresas portuguesas, nomeadamente no BCP e na Jerónimo Martins). A Europa, sob a liderança de Merkel, que começa a sofrer nas sondagens o impacto da forma como tem lidado com a crise migratória, desdobra-se em reuniões para tentar encontrar uma solução para o problema migratório. Isto de acelerar a entrada da Turquia na UE para resolver essa crise parece-me evidente fuga em frente que pode ajudar a resolver um problema no imediato, mas criará outro no futuro (e alimentará ainda mais populismos vários contra a UE). Entretanto, na reunião que houve hoje, já se falava num «ambiente de fim dos tempos para a UE». Perante isto, o recurso a partidos eurocépticos para dar suporte a um governo português até parece uma gota num oceano. Ainda assim, uma gota suficiente para ser aproveitada e deturpada pela imprensa inglesa (aqui e aqui) que gosta de pintar a UE como o pior dos mundos e com caracterísitcas anti-democráticas (um tema quente no Reino Unido até porque vem ai referendo em breve). É certo que também tenho a minha costela eurocéptica - para mim, a UE foi longe de mais e devia regredir em alguns aspectos -, mas o actual clima na Europa começa a aquecer e radicalizar demasiado para uma pessoa não começar a temer uma ruptura mais abrupta que gerará uma situação ainda pior do que a actual, com uma regressão mais acentuada do que a que seria desejável, até para um eurocéptico como eu.
Ignoremos por um momento o absurdo da comparação, mas será que quando Sócrates faz referência ao caso Luaty Beirão e compara-o com o seu, dado que a lei que permite manter sem acusação um cidadão em prisão preventiva também é da sua responsabilidade enquanto ex-governante, está-se a comparar indirectamente a José Eduardo dos Santos? Quiçá foi isto. Até porque Eduardo dos Santos também leva uma vida de luxo com dinheiro angariado com um empréstimo da CGD da forma que todos podemos tentar adivinhar.
Do lado da política económica, ter o PS dependente do BE e do PCP é péssimo, mas note-se que essa dependência também terá coisas boas: não sendo poder absoluto, o renascer de um polvo tipo o socrático, tenho para mim, é muito mais complicado (pelo menos, enquanto a relação de forças for a que é). E, de certo modo, antes um governo minoritário do PS com apoio do BE e do PCP do que um governo de maioria absoluta do PS. Este último era coisa para me meter muito mais medo. Não me esqueço, aliás, como muitos comunistas e bloquistas partilharam comigo o desprezo absoluto e sincero pelo que José Sócrates representou para o país. Esse mérito não lhes tiro. Até por isso, agora gosto de brincar com eles perguntando-lhes como é que é andar de mãos dadas com os amigos de José Sócrates. Na verdade, muitos gostam e respeitam tanto este PS quanto eu. Mas lá vão ter de engolir o sapo. Faz parte. É jogo político.
É impossível desligar as presidenciais do novo quadro parlamentar e da novidade gerada após as legislativas: quem receia que algo de mal possa vir do governo de esquerda e quer garantir que fica mais difícil a uma tal "coligação" guinar demasiado à esquerda na sua orientação política, só tem um candidato em quem votar. Não é o candidato perfeito, mas é o candidato que há: Marcelo Rebelo de Sousa. Embora Maria de Belém também se tente posicionar nesse campo, para aquele eleitorado volátil do centro não me parece difícil perceber qual dos dois candidatos o serve melhor. E para o eleitorado de direita, então, a coisa ainda é mais relevante quanto me parece óbvio que para controlar os excessos da esquerda não existirá Tribunal Constitucional que nos valha. Só a instituição Presidência da República pode funcionar como controlo e contrapeso efectivo e relevante ao novo poder governamental esquerdista.
Acordo de esquerda ainda só garante OE-2016
Em breve, teremos um novo poder em Portugal. Acho que esse novo poder resulta do PS estar a escolher o caminho errado, mas é o caminho deles, problema deles. A direita era o poder, irá ficar sem ele. Aceite isso de vez, deixe de ser piegas. A circunstância em que se dá a troca de poder não é a melhor, mas era certo que a direita não ficaria lá eternamente. Mais do que chorar sobre o leite derramado, é aproveitar a circunstância em que perde o poder para tentar regressar a ele mais cedo e com mais força. O quadro político-partidário tradicional, sem que os partidos tradicionais em Portugal tenham sofrido muitas perdas, ficou esfrangalhado: de três blocos distintos na AR, passaremos a ter apenas dois. Um bloco de esquerda e outro de direita. A direita, daqui para a frente, deve deixar o PS, com Costa ou após Costa, entregue aos seus novos companheiros de caminho. Espero que aprendam essa lição e não mais sonhem em recuperar o que já lá vai. O novo poder, até por ser construção recente, parece-me ser evidentemente frágil e mau, logo, mais fácil de se lhe fazer oposição. É aproveitar e atacar em força. Até porque não existirá governo de esquerda em estado de graça. E, é possível, existirá desgraça. Essa será a parte muito grave em que o caminho escolhido deixará de ser apenas problema do PS para ser problema de todos nós. Depois das contas públicas descontroladas de Guterres e da bancarrota socrática, se o PS de Costa voltar a entregar o país esfrangalhado a um outro governo, como arrisca fazer, será ainda mais difícil encontrar palavras para descrever este pais e a irresponsabilidade que se apoderou de uma parte do espectro político. Mas, pensando bem, como estranhar, se os rostos são, afinal de contas, praticamente os mesmos? Aos quais se somam uns jovens turcos que em nada melhoraram a pintura. Triste geração esta a que tomou conta do PS. Triste geração esta que está na calha para substituir a antiga. Tristes de nós que teremos de levar com eles (outra vez).
Há quem diga que 60% do eleitorado votou contra Passos e Portas. Mas um caso ainda mais forte pode ser feito em torno do argumento de que 70% do eleitorado votou em forças europeístas, partidos que têm a tradição de honrar os nossos compromissos internacionais. Quem faz a interpretação dos resultados eleitorais com base no último caso dirá que o eleitorado excluiu PCP e BE da governação. Essa é, aliás, a posição mais coerente não só com o que tem sido a nossa prática política, mas também com os programas eleitorais dos partidos em causa. Recorde-se, inclusive, que ainda em 2011 quem foi votar fê-lo com a noção de que votar PS, PSD e CDS era aceitar o programa da troika e votar BE e PCP era rejeitá-lo. Portanto, como se depreende da argumentação do Presidente da República, não foi ele que exluiu PCP e BE da governação, foi o eleitorado português. Não julgo que seja difícil compreender esta posição, ainda que alguns, inebriados pela luta político-partidária, façam de conta que a argumentação de Cavaco não é sólida.