Raposa e galinheiro
É normalíssimo que um ladrão de bicicletas aconselhe os outros a investirem no negócio das bicicletas.
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É normalíssimo que um ladrão de bicicletas aconselhe os outros a investirem no negócio das bicicletas.
A propósito desta história, neste momento ocorre-me realçar um pequeno pormenor: gestor no privado com fundos públicos. A quantidade de gente em Portugal que ganhou dinheiro à pala do Estado é deveras impressionante. E depois gabam-se: Ah! Mas eu tenho experiência no sector privado e tal. Que rica experiência!
Nota: nestas coisas, recordo-me logo daqueles secretários de Estado do PSD que hoje estão bem instalados na vida com ligação profissional à área das energias renováveis.
Petit Patapon foi para a insolvência com 2,5 milhões do IAPMEI
CGD atira para a falência projecto no Alqueva considerado pelo Governo de "interesse nacional". O título é sintomático de como contínua a dominar em certos meios o pensamento de que o banco público deve ser o abono de família para alguns empresários nacionais.
Nota: outro, de interesse nacional, que talvez devesse ser igualmente financiado pela CGD, o da RPP Solar.
Gosto de ver o PM a conciliar o discurso do empreendedorismo com o de que «o nível da carga fiscal é insuportável em Portugal». Um jovem inteligente e que tenha possibilidade para isso não tardará a perceber que é melhor emigrar.
Espero bem que sim e os números dão-lhe alguma razão. Diga-se que esta «revolução», nas palavras de Tavares Moreira, é absolutamente essencial para o sucesso do programa de ajustamento que estamos a levar a cabo e, em nome da verdade, refira-se que teve início muito antes deste Governo ter chegado ao poder. Sobre o tema, permitam-me algumas notas: 1) como é o sector exportador que terá de liderar a retoma - não sei se com a velocidade que seria desejável -, o sucesso da economia nacional está hoje muito mais dependente da capacidade dos nossos empresários do que do Estado, é normal que alguns socialistas se irritem com isto; 2) há quem gostasse de voltar ao tempo em que o Estado, entre outras coisas, fazia obra para pôr a construção civil a carburar; são os que teimam em não perceber o que nos trouxe até aqui e escapa-lhes que não se sai de uma crise destas preservando o tecido produtivo do passado; e 3) é verdade que uma alteração grande e brusca do tecido produtivo tem como consequência nefasta o aumento do desemprego e alguns dos que serão atirados para tal situação não sairão desta até que se possam reformar - muitas das pessoas que trabalhavam na construção civil, por exemplo, não mais voltarão a ter emprego -, mas quanto mais tempo demorarmos a voltar a economia para as empresas do futuro - acrescente-se que o Estado não se deve pôr a adivinhar que empresas são essas, deve apenas gerar condições para que elas apareçam -, mais tempo demoraremos a quebrar o declínio da economia nacional e a ter a tão necessária geração de emprego para os jovens. E é sobretudo para estes que a economia tem de voltar a funcionar. Venha a revolução!
Álvaro, claramente deslocado na academia ou no ministério da economia e das obras públicas, devia ter soltado o empreendedor que há dentro dele. É por estas e por outras que o nosso tecido empresarial não se renova e o país não avança. Aqueles com maior potencial de se tornarem nos grandes empresários nacionais do futuro estão todos entretidos a fazer outras coisas.
O sistema fiscal holandês é o «ideal para empresas que estão em processo de internacionalização, como o Grupo Jerónimo Martins». Deveria a Jerónimo Martins limitar as suas ambições ao que lhe está permitido no contexto nacional? Por amor de Deus, que reacções mais paroquiais as que tenho assistido. Pedro Santos Guerreiro, num editorial com o qual concordo em boa parte, diz a certa altura que «investir fora do País não é traição. É apenas desistir dele»; confesso que não percebo a relação, ou terão a Microsoft, a Ikea, a Nike ou a Volkswagen desistido dos seus países de origem? Claro que a necessidade de uma empresa portuguesa estar presente na Holanda para internacionalizar-se não é facto agradável para Portugal, mas isso é especialmente culpa de opções políticas dos governantes nacionais a que qualquer empresário é alheio. A Jerónimo Martins simplesmente não quer ficar limitada às fronteiras nacionais, como há muito tempo não o está e ainda menos há de estar no futuro. Não devíamos criticá-la por isso, devíamos elogiá-la. Aqui há não muito tempo foi notícia que Pedro Gadanho vai ser curador no MoMA, em Nova Iorque. Alguém ficou irritado com isso? Não foi motivo de orgulho para muitos? Pedro Gadanho desistiu de Portugal? Se calhar desistiu, mas independentemente disso há uma coisa que tenho a certeza: oportunidade igual não teria dentro das nossas fronteiras. Com as empresas muitas vezes passa-se a mesma coisa. E agora podem continuar no berreiro anti-Pingo Doce e anti-Soares dos Santos.
A ideia de empresas privadas saudáveis, funcionais e muito lucrativas não é compatível com o pensamento do Bloco, do PCP e de alguns sectores do PS. Aos olhos desta gente lucro privado é oportunidade de taxar mais. Não imaginam como lamento que os crânios que estão metidos nestes partidos não criem as suas próprias empresas: isso sim é que era coisa de valor, podiam guiar os outros pelo exemplo.
Casos de sucesso que apresentam sinais de insucesso. Diz-se que um dos problemas é que a empresa sempre viveu muito à custa de subsídios e apoios vários, nunca alcançando um modelo de negócio onde fosse competitiva e pudesse sobreviver por si só, mas independentemente disso é bom lembrar que falhar deve ser palavra presente no dicionário de qualquer empreendedor. Falhar e tentar de novo. Parece-me, pois, que esta é uma boa altura para António Câmara demonstrar que muitos dos elogios que recebeu, onde se inclui o Prémio Pessoa 2006, foram merecidos.