We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Não cheira a campanha eleitoral, estamos já em plena campanha eleitoral. É diferente. Evidência disso foram os discursos feitos nas jornadas parlamentares do PS, nomeadamente o de António Costa, onde a cada duas frases, uma era treta e a outra era semi-treta. Por exemplo, esta mensagem propagandística que os socialistas insistem em propagar é isso mesmo: propaganda. E da mais rasteira e insultuosa à inteligência de quem se depara com ela que pode haver. Nem precisamos de nos concentrar na análise dos números, pois basta ficarmos pelo essencial: com que então a acção deste governo fez o país recuar décadas numa série de indicadores? Já a acção governativa de Sócrates que deixou o país de rastos não tem nada a ver com isso, não é assim? E pessoas aparentemente inteligentes propagam isto? Sim. Acreditam nisto? Não creio. Ou como a política nunca foi terreno fértil para malta com honestidade intelectual. Enfim, do discurso de Costa que ouvi com particular atenção, fica evidente que o PS assenta a sua narrativa em inúmeras falácias e mentiras. Por exemplo, queixa-se António Costa que a política adoptada por este governo falhou, como se a política deste governo não tivesse sido a única política possível depois do legado de Sócrates, política que o próprio PS assumiu como sua quando em 2011 concorreu às eleições com o mesmo programa eleitoral do PSD e do CDS: o memorando de entendimento. E falhou porquê? Diz Costa, por exemplo, que a dívida não parou de subir: verdade, mas isso está muito longe de contar a história relevante: a dívida não parou de subir, mas o ritmo de subida da dívida é hoje bastante inferior ao que teve a partir 2008, quando a dívida começou a crescer ao ritmo insustentável de mais de 10 pontos percentuais por ano (não tendo ainda a dívida começado a descer, nesta fase estamos num ponto em que é provável e expectável que isso aconteça a muito curto-prazo: e esta evolução mais positiva da situação da dívida liga, evidentemente, à evolução também ela positiva do défice, sempre em queda). Ignoram também os socialistas, muito convenientemente, a forma como parte dessa subida da dívida deveu-se a dívida que já estava lá, assumida pelos socialistas, mas que não estava reflectida nas contas.
Mas há mais: a forma como os socialistas falam de emigração é tópico para me irritar pelas doses de demagogia que trazem ao debate. O gráfico acima deixa claro quem é que trouxe de volta o tópico emigração à sociedade portuguesa: foram eles, os socialistas, com as suas políticas irresponsáveis. Em variação absoluta foi no ano da bancarrota Sócrates que se deu o maior pulo no número de emigrantes permanentes (passou de 23760 para 43998: mais 20238 emigrantes num só ano) e em termos de variação relativa foi em 2008 que sucedeu o maior aumento (passou de 7890 para 20357: um aumento de 158%). Claro que na narrativa socialista o grande problema foi o actual governo - e nomeadamente o seu PM - terem de certa forma acarinhado a ideia de emigração (os socialistas podem ser os responsáveis, mas como é óbvio nunca acarinham os efeitos e as necessidades que as suas próprias políticas geram). Como não acarinhá-la se depois da bancarrota Sócrates a emigração tinha o efeito extraordinariamente benéfico de aliviar a pressão ao nível do desemprego e dos salários? Além disso, garantia maiores remessas num país depauperado e em profundo desequilíbrio nas contas com o exterior. Note-se, aliás, que uma das declarações de Passos que gerou polémica foi quando disse aos professores que ficaram desempregados que, se quisessem continuar professores, mais valia emigrarem, porque o país não tinha condições para empregar tanto professor, nem, mais importante, precisava deles (ainda que tivesse condições orçamentais para os empregar). Os socialistas, claro, quando no poder adoptaram outra resposta para esta problemática: inventaram trabalho para os professores, nomeadamente com os cursos de novas oportunidades, que foi mais um daqueles programas particularmente tontos e sem grande efeito prático na sociedade portuguesa que os socráticos levaram adiante. Sem retorno que se tivesse visto desse tipo de programa, no final o resultado só podia ter sido o que foi: o país "faliu" e esses programas foram, em boa parte, descontinuados. Mas Costa, a partir da falácia de que o que o país precisa é de aumentar as qualificações dos seus trabalhadores (note-se que a falácia não é a da necessidade de investir na qualificação das pessoas, mas antes em assumir que as novas oportunidades qualificavam determinantemente os portugueses e contribuíam para esse desiderato, quando no fundo este tipo de programa serviu essencialmente para garantir empregos a professores), pelo discurso que lhe ouvi, quer recuperá-los: devemos ficar preocupados? Temo que sim. Aliás, o mesmo Costa que diz que o problema do desequilíbrio externo está longe de estar resolvido, é aquele que nas medidas que vai sugerindo como suas prioridades - reabilitação urbana (empregos para a malta da construção); novas oportunidades (emprego para os professores); e baixa do iva da restauração (empregos para empregados de mesa) -, só pode estar focado no mercado interno e, portanto, em menos de nada destruirá completamente o resultado obtido ao nível das contas externas. Nesta medida, serão sustentáveis as poucas políticas que os socialistas vão sugerindo pretender seguir? Não, não são.
Para terminar, em artigo recente no Público, Pacheco Pereira, com um texto que podia perfeitamente assumir carácter propagandístico para o PS, distinguia entre uma crise em 2011 e outra crise em 2015. Esta ideia de duas crises distintas pode dar jeito a quem quer separar a governação Sócrates da realidade de hoje - isto porque não quer que o partido dos socráticos continue a ser julgado nas eleições deste ano, apesar dos socráticos continuarem todos por lá, antes e acima de tudo pretendendo concentrar o julgamento no governo de Passos e Portas -, mas é absolutamente e particularmente tonta. Que a realidade de hoje é, na sua maior parte, a consequência da crise que culminou em 2011 com a chamada da troika é inegável. E que estes efeitos; 1) porque a dívida subiu muito e vai ser difícil reduzi-la; 2) porque o desemprego subiu muito e parte dele tornou-se estrutural; 3) porque a anterior estrutura produtiva (construção, restauração, professores, etc.), alicerçada numa alocação de recursos ineficiente e insustentável, rebentou e uma nova estrutura produtiva não aparece de um dia para o outro; 4) porque não podemos, nem devemos, recorrer ao endividamento externo para dar a volta por cima; vão perdurar no tempo também o é. Só que em 2011 esta evolução já era de todo esperada e expectável, bastava ver a tendência que vinha de trás. E foi na imperiosa necessidade de contenção do que estava para vir que 2011 tornou-se um marco na nossa história democrática, pois ao contrário do que conta Pacheco, a actuação política de então era tão mais limitada do que a actual que PS, PSD e CDS viram-se obrigados a concorrer às eleições com o mesmo programa eleitoral, coisa que já não sucederá em 2015. E não acontece porque estamos numa fase em que é possível aliviar alguns desses efeitos: o que só pode ser entendido como um sucesso deste governo. Enfim, diz Pacheco que em «2011, Portugal conheceu uma grave crise financeira, ficando a um passo da bancarrota», enquanto em «2015, Portugal conhece uma grave crise económica, social, política e moral». Achar que a crise de 2011 - que não é verdadeiramente de 2011, porque vem de muito antes disso -, não foi também ela «económica, social, política e moral» é de quem não está a pescar nada disto. Mas eu acho que esta malta pesca, não quer é dizê-lo, por isso tem de inventar narrativas.
Aqui este pobre coitado contínua desesperado. Percebe-se, o coitado não está com vida fácil. Enquanto os alemães já aprovaram a extensão do programa grego por larga maioria no Parlamento, alguns gregos voltaram às manifestações com vidros partidos, sendo que as divisões no Syriza em relação àquilo que foi acordado continuam a se fazer sentir. Cerca de 1/3 dos deputados do Syriza não gosta do que foi assinado e fá-lo por demonstrar, ao mesmo tempo que é colocado em causa o quê que aquilo que foi assinado obriga e compromete o novo governo em funções (que, aparentemente, assina coisas sem garantir de assegurar todas as implicações legais do que assina). Mais, o superstar Varoufakis, que nas palestras antes de se apanhar no poder era muito assertivo e sabia como resolver tudo, agora, revelando no mínimo amadorismo, tem de perder tempo no twitter a tentar explicar histórias que continuam por explicar (a história em causa está relacionada com algo que muita gente suspeita, para não dizer que existe certeza sobre o assunto: o documento enviado pelos gregos com aquilo que se comprometiam a fazer, teve de ser minimamente negociado com as instituições antes do draft final tornar-se público). Mas há mais: uma das coisas que o Syriza tenta apresentar como uma vitória relativa das negociações com o Eurogrupo é a possibilidade de maior flexibilidade no objectivo para superavit primário. Essa narrativa tem apenas um pequeno problema (bem sabemos como o diabo pode estar nos detalhes): os gregos tinham um objectivo que estava fixado para um país que já tinha alcançado superavit, contudo, desde que ficou claro que o Syriza ia conquistar o poder, parte dos gregos cortaram nos impostos que pagavam e o superavit que já tinham, se não virou défice, desapareceu quase por completo, o que significa que qualquer potencial ganho de menor austeridade passível de ser obtido pela flexibilidade da meta tenderá a ser perdido por irem partir para o cumprimento daquilo com que se comprometerem de um ponto de partida pior. Também por isso, não é de estranhar que para quem vinha com a conversa do fim da austeridade, dê alguma graça ver que já admitem uma contribuição extraordinária dos mais ricos. Mas a austeridade já não tinha acabado? Ou como é sobre os gregos ricos já não conta como austeridade? Com tudo isto, o dinheiro dos bancos, esse, teima em não regressar à Grécia descapitalizada (pelo contrário, continua a sair, o que contradiz declarações do ministro das finanças grego). Mas, enfim, nesta fase do campeonato, quem é que pode dar grande credibilidade a este bando de amadores e utópicos que tomou o poder na Grécia? Eles que continuem a espernear que eu sinto-me muito feliz por ver o meu país a par com a Espanha a ser tratado pelo poder grego como se da sua Coreia do Norte e Irão se tratassem.
A polémica contextualizada: depois de em 2011 termos chamado a troika, Portugal hoje estaria sempre melhor do que estava há quatro anos (o quadro "clínico", ou seja, o quadro macroeconómico, ainda que continue a apresentar uma situação difícil, é muito mais favorável do que era há quatro anos). E seria sempre assim mesmo que tivéssemos deixado Sócrates a governar isto (enfrentar e ter de resolver parte dos nossos problemas tornou-se quase uma inevitabilidade, mais do que um fruto do mérito e clarividência do governo do momento). Contudo, dirão os críticos, durante estes quatro anos vários indicadores sociais sofreram uma degradação? Claro que sofreram. Mas isso é consequência da "doença" que nos obrigou a chamar a troika. Há processos de cura que implicam sofrimento.
O nosso Governo, na frente interna, está-se a queimar tanto com a questão grega e a colagem à Alemanha que se os partidos da maioria tinham alguma ideia de vir a obter um bom resultado nas legislativas, podem esquecê-lo. Contudo, fico contente por ver o governo - seja por convicção, seja por considerar que não tinha melhor estratégia -, colocar-se nesta posição: tenho-a como a correcta e a que melhor defende aquilo que pretendo para Portugal. Mas as minhas posições políticas são um nicho de mercado. Quanto ao acordo que os gregos obtiveram no final, à primeira vista, pode nem ser melhor do que alguns que Vítor Gaspar alcançou sem precisar de provocar qualquer drama (recorde-se as sucessivas revisões da meta para o défice que fomos obtendo). Mas este teatro grego está-lhes no sangue e é absolutamente indispensável a um partido como o Syriza. Não vem sem o seu lado negativo: durante este período negocial, fugiram milhares de milhões de euros dos bancos gregos o que para uma economia que quer crescer e já se encontrava descapitalizada, deve ser um bom sinal (tão bom sinal que fez parte da pressão que foi feita sobre o governo grego para aceitar quase tudo o que lhe foi exigido). O «não pagamos» a dívida, entretanto, parece ter desaparecido do discurso de Vourafakis, o que deve ser uma desilusão para a nossa extrema-esquerda e até outros famosos signatários de manifestos (ironicamente, durante estes dias, quem acabou por avançar mais uns passinhos na reestruturação da dívida foi Portugal, não a Grécia). E ainda veremos, na segunda-feira, dia em que o Syriza vai ter de começar a revelar finalmente como é que pretende governar, como é que fica a subida do salário mínimo grego (note-se que em Portugal, na minha opinião estupidamente, os partidos que nos governam já subiram o nosso). O Syriza que vai começar a governar sem austeridade, mas com rigor orçamental (continuam obrigados a obter superavits: o que deve ir dar algumas dores de cabeça depois de parte substancial dos gregos ter decidido não pagar impostos com a provável vitória do Syriza, abrindo novo buraco orçamental); e sem troika, mas com as instituições (a quem vão ter de continuar a prestar contas). Dado que a figura da troika foi uma invenção grega - foi a imprensa local que deu essa alcunha às três instituições que ficaram responsáveis por aplicar um programa de ajustamento no país -, faz sentido que sejam eles a acabar com ela (e note-se que quando o terceiro programa de apoio à Grécia estiver acordado, é praticamente certo que esta figura de três instituições a gerir o mesmo parece condenada a não ter seguimento: o problema e a urgência do Syriza é que queria que ela acabasse já). Mas o essencial da política de então e que estava em vigor, para já, pelo menos no papel - use-se a linguagem que bem se entender -, manter-se-à. Entretanto, Tsipras, no Parlamento grego, à boa moda do ministro da propaganda iraquiano, foi anunciar que os gregos «venceram uma batalha, mas ainda falta vencer a guerra» (este gajo quer vender-se a si próprio ainda melhor do que o Leónidas). Compreende-se a necessidade de propagandear o resultado obtido copiando o nosso querido Sócrates aquando do anúncio do nosso primeiro e único programa de resgate (os gregos já vão para o terceiro): se com tanto apoio popular e em estado de graça, meteram as fichas todas e perderam a batalha; que possibilidade tem o Syriza nos próximos quatro meses de vencer a guerra se começarem a existir brechas nesse apoio popular? Já devem estar a ver a vida a andar para trás. Por fim, Varoufakis na sua conferência de imprensa falou muito em recuperar a confiança dos restantes parceiros europeus nos gregos. Tem graça ver um gajo de um partido que acabou de chegar ao poder e começou logo a anunciar medidas que iam contra o que estava acordado a falar em confiança. Lamento muito não partilhar do mesmo entusiasmo de muitos opinadores e jornaleiros tugas, mas não suporto nada este gajo.
A Grécia já beneficiou de um perdão muito generoso da sua dívida. Nessa altura, contudo, para conveniência do poder político europeu, só o sector privado foi envolvido no perdão da mesma e era evidente pelas projecções que se faziam na altura que ainda assim o haircut não seria suficiente para resolver o problema da dívida grega. Nesse sentido, o Syriza tem alguma razão. A minha interpretação para o perdão de então ter ficado aquém do que seria necessário foi a de que não só houve a necessidade de não meter directamente ao barulho os contribuintes dos restantes países europeus, mas também a ideia de que havia a necessidade de manter os gregos com a corda ao pescoço, de forma a tirar-lhes poder negocial no futuro e obrigar-lhes a tomar as medidas estruturais que, evidentemente, não pretendiam tomar. O tempo, nesse sentido, deu razão ao poder europeu. E o Syriza agora bem pode anunciar o fim da austeridade (e o fim da troika) que o problema para o partido da esquerda radical - note-se que são os próprios que se denominam dessa forma: Coligação da Esquerda Radical -, é que do ponto de vista negocial as instituições europeias têm a faca e o queijo na mão e o fim da austeridade está completamente dependente (do dinheiro) destas. Nem uma eventual ameaça com a saída do Euro por parte da Grécia fará grandes estragos porque, apesar dos contribuintes dos países credores irem arcar com boa parte dos custos, entretanto os mercados tiveram muito tempo para se adaptar a essa situação e vigora a ideia de que a mesma será bastante gerível. Um dos motivos que demonstra o quão mais gerível a situação se tornou deve-se à descolagem evidente da Irlanda e de Portugal do caso grego (por aqui já não é preciso vir nenhum partido da esquerda radical com anúncios tontos do fim da troika: a troika já se foi embora e bastou para isso que os programas de ajustamento tivessem sido relativamente cumpridos). Além disso, não é só na questão financeira/económica que acabam os problemas gregos, há também o problema político: os gregos até podiam sonhar com alguma ajuda por parte do poder político na Europa que considera que ajustes à política económica devem ser feitos, mas com o Syriza no poder é difícil ver como se pode concretizar tal sonho: os socialistas espanhóis, por exemplo, estão mortinhos para que as coisas corram muito mal aos gregos nesta fase experimental e o próprio Hollande, em França, só pode desejar mal ao Syriza, pois só assim sai bem na fotografia perante aqueles que à sua esquerda lhe chamam fraco. No fundo, o Syriza é um corpo estranho e distante não só da a direita, mas também da esquerda moderada, que teme com o seu eventual sucesso uma legitimação de formas de organizações políticas mais radicais. Só o nosso PS, ignorando a debacle do seu colega de família política PASOK, é que quase atreve-se a colar ao Syriza. Com tanta alegria socialista ontem, só superada, em larga escala, confesse-se, pela do BE, até parecia que o PS tinha ganho na Grécia. PS: Partido Syriza. Mais a sério: parece-me, portanto e evidentemente, que a posição institucional da União Europeia será, por amplo consenso, de grande inflexibilidade perante o caso grego. Para terminar, diga-se que o apoio da Frente Nacional de Le Pen ao Syriza também ficou por demais justificado com o parceiro de coligação escolhido pelo partido liderado por Tsipras. Quer num caso como no outro, a lógica é: inimigo do meu inimigo, meu amigo é.
«Sempre fizemos tudo para impedir a intervenção estrangeira». Os deputados da maioria recorreram ao riso em resposta a esta estapafúrdia e vergonhosa declaração de um ex-ministro socrático, mas a mim este tipo de discurso apenas causa náusea. Este novo PS retorna ao delírio e não consegue fazer mea culpa em relação aos erros que inegavelmente cometeu quando esteve no poder, coisa que parecia-me indispensável para poder voltar a ele: com este discurso, o regresso ao poder dos socialistas será coisa indigna de um país sério (ainda que reconheça a limitação com que o eleitorado está confrontado: já é tempo de correr com estes que nos governaram no pós-socratismo, mas opções não abundam). Entretanto, algo relacionado, sobre esta coisa da «intervenção estrangeira», convém recordar os discursos do «Portugal é a Grécia com um ano de atraso» ou do «antes fossemos a Grécia»: pois bem, a Grécia «está longe» de poder financiar-se só nos mercados. Ou seja, terá de continuar a sujeitar-se a uma ingerência externa de que nós já nos livramos.
Deste relatório do Banco de Portugal. Nesta passagem recente da troika por Portugal, os salários reais dos trabalhadores caíram muito menos do que aquando da segunda intervenção do FMI, em 1983, e menos do que na primeira intervenção do FMI, em 1977. Ou deu-se um milagre desta vez e a intervenção da troika é um extraordinário sucesso, ou temos aqui indicio de que os salários ajustaram menos do que o que seria necessário para voltarmos a crescer a partir de uma posição sustentável. Já sei, os nossos salários são baixos? Verdade, mas ainda eram mais baixos na década de 70 e 80 e nem por isso deixaram de cair. Porque não caem agora? Porque, como o primeiro gráfico demonstra, não é possível fazer os salários cair, subindo-os. No contexto da zona Euro, com inflação praticamente inexistente; com o TC a decidir como decide; e com os políticos a pretenderem discutir aumentos de salário mínimo; isto vai correr bem, pois vai.
Parece que não houve escolha, fomos forçados a uma «saída limpa». E isto é dito como se fosse uma grande crítica ao Governo e à sua "escolha", dando aparência de estarmos perante tema de suma importância. Enfim, relevante é saber se estamos ou não em condições desta «saída limpa» correr bem. Existindo condições para a «saída limpa» ocorrer com sucesso, interessa lá saber se os parceiros europeus deram-nos outra possibilidade de escolha ou não? Se tivéssemos sido forçados a um «programa cautelar», nesse caso, sim, haveria falta de mérito evidente do Governo; numa «saída limpa» sucede precisamente o contrário: independentemente do que nos levou a sairmos do programa de assistência desta forma, salvo se algo correr extraordinariamente mal no futuro próximo, há mérito evidente na política aplicada nos últimos três anos.
Não me apetece entrar na politiquice sobre a «saída limpa» praticada por Governo e oposição em doses iguais (noto, contudo, que alguns ministros apareceram a dar a cara no anúncio da «saída limpa», mas quando foi necessário dar a cara por medidas extremamente impopulares foram poucos os que apareceram e alguns andaram frequentes vezes em viagens pelo estrangeiro). Mas, diga-se, uma coisa é óbvia, embora muitos recusem reconhecê-lo: nos últimos três anos melhorou em muito a qualidade dos pilares em que assenta a economia portuguesa. E isso é tão, mas tão óbvio, que esse debate, entre economistas que revelem alguma honestidade intelectual, é um desperdício de tempo pois nenhum conseguirá chegar a outra conclusão que não essa. Os tópicos verdadeiramente discutíveis são 1) se o caminho para aqui chegar foi o melhor possível; 2) se por outro caminho os resultados não poderiam ser ainda melhores; 3) se o que foi feito foi suficiente para nos garantir um futuro melhor (e é ai que começam a entrar aqueles indicadores que levam a malta a achar que isto piorou bastante nos últimos três anos: o nível do desemprego; da dívida; dos impostos; etc...). Mas se aparecer algum tonto a achar que a economia do início de 2011, que aguentava-se de pé por via de uma vertiginosa dependência de crédito externo, estava em melhor forma do que a actual, não passa disso mesmo, um tonto.