A panaceia
Sempre que aparece alguém a falar da reestruturação da dívida como uma alternativa à austeridade sei imediatamente que estou perante alguém que não faz a mínima ideia do que está a falar. A reestruturação significativa da dívida só se volta a colocar com força no caso grego por ser inevitável - facto para o qual a política tonta do Syriza muito contribuiu -, tal como a austeridade, até por isso, também o é: inevitável (e quanto mais alguns insistem que a dívida não é pagável porque há austeridade, resistindo por isso a esta última, mais vão contribuindo para tornar a austeridade um fenómeno permanente: esta tem sido, no fundo, a história grega). Note-se, aliás, que os gregos já tiveram uma enorme reestruturação da dívida, com perdão incluído, no segundo resgate, e não foi isso que os salvou da austeridade, nem nunca poderia ser. Se não é possível pagar a dívida, há sempre um ponto a partir do qual, após algum alivio da dívida, esta volta a ser dada como pagável: esse ponto não deixará de implicar sempre austeridade. Claro que este ponto não impede que exista um mix certo a negociar entre credor e devedor em relação à austeridade que se exige ao devedor e o alívio da dívida que o credor possibilita, mas uma coisa não vem sem a outra. No dia em que entenderem isto, pode ser que os sectores da nossa sociedade e não só que andam em modo delírio absoluto, se deixem de animar com relatórios da dinâmica de dívida grega, elaborados pelo FMI, que se há coisa que demonstram, em primeiro lugar e acima de tudo, é a irresponsabilidade do actual governo grego no poder e da sua estratégia. O Syriza, invés de acabar com a austeridade como prometeu, só garantiu que esta se mantivesse em força por mais tempo. Contudo, acrescentam os syrizos: «vamos conseguir uma reestruturação da dívida», óptimo, mas não me lembro é deste argumento ter sido importante na avaliação do segundo resgate.