A política e os seus financiadores
O domínio da família Espírito Santo no BES, banco financiador de muita da megalomania de Sócrates, entrou em ruína parcial e a coisa chega a ser deliciosa - ainda que a solução encontrada esteja longe de dar garantias de que o BES entrou num novo ciclo -, só assombrada pelas nuvens negras de que o contribuinte ainda venha a ser chamado a dar uma ajudinha ao banco. Mas, admitindo que, como devia sempre acontecer, o contribuinte vai ficar à margem desta vez, diga-se que a delicia advém desta ser outra machadada no jogo que era habitual por cá entre o poder político, a banca e alguns empresários nacionais. As grandes obras públicas precisavam de financiamento; a manutenção de grandes centros de decisão nacional, também; e a banca queria negócios apetecíveis que gozassem do favorecimento do Estado. Era assim que funcionava o regime pré-troika (com menor intensidade, ainda funciona) e é desses tempos dourados que muitos têm saudades (o BES nem esconde e atira-se logo a Paulo Mota Pinto para chairman da instituição). O que compreende-se: neste jogo de acesso restrito, os interesses de um pequeno grupinho eram protegidos e estavam sempre em primeiro lugar. Políticos, banqueiros e empresários, tudo gente com muito poder; todos a dependerem uns dos outros; todos a protegerem-se uns aos outros. Que Passos, por opção ou outro motivo qualquer, pelo menos na aparência, não tenha cedido à tentação de dar guarida à poderosa família Espírito Santo ou, pior ainda e numa jogada também ela dentro do espírito socrático, aproveitado a fragilidade do banco para levar a cabo um assalto ao BES semelhante ao que fez Sócrates no BCP, são bons sinais. Mas é atentarem na conversa socialista e perceberão que a promiscuidade, provavelmente, não tardará a regressar e em força. O socialismo português, por paradoxal que pareça, uma vez que a aversão à banca encontra-se com maior força à esquerda, é por questões de circunstância muito mais propício a insistir nela (precisa desesperadamente da banca para os seus intentos). A conversa de Costa com a reindustrialização, por exemplo, cheira que vai nesse caminho (e nestas coisas só podemos confiar no olfacto porque medidas específicas nunca as há). Ou seja, mais do mesmo. E não nos esqueçamos, nunca, dessas palavras sábias ditas igualmente por Costa na Quadratura do Círculo: «é preciso pôr a construção a mexer». Mais do mesmo, a dobrar. Concluamos, então, com notícia do início do ano passado: Banqueiros apostam em António Costa. Ó se apostam.