«Depois de ti mais nada»
Um dos argumentos mais extraordinários para justificar a permanência de António Costa na liderança do PS depois do desaire ocorrido é a de que não há ninguém no partido em condições e com capacidade para substituir o actual líder. Quando é que o PS deixou-se cair nesta pasmaceira em que, como se já não bastasse não ter candidatos fortes e credíveis para apoiar nas presidenciais, alguns sugerem não existir ninguém com qualidade suficiente para subsituir um candidato que liderou o partido rumo a uma derrota estrondosa e que ocupou a liderança da forma como o fez? O partido vai ficar quieto? Permitir ao falhado Costa continuar a liderá-lo? Enfim, por um lado, talvez agora comece-se a compreender melhor uma das coisas que atormentou Costa durante toda a campanha: a solidão. Há um deserto de figuras credíveis moderadas dispostas a ir à luta pelo partido e uma mão cheia de jovens turcos a pretenderem tomar conta do partido, ainda que nenhum com força e credibilidade suficiente para assumir a liderança efectiva. Por outro lado, também se percebe que temos um Costa, produto das jotas (aderiu com 14 anos à JS e tem todo um percurso ligado à política e ao partido, ainda que extraordinariamente nunca se tenha associado ao ex-edil lisboeta o mesmo rótulo que se associa a um Seguro ou a um Passos), agarrado ao poder que nem uma lapa, controlando o aparelho e contando com este para evitar ataques à sua frágil liderança (a ironia, depois de tudo o que dizeram do Tozé). Mas este desespero de Costa que leva-o a não pretender abandonar o palco, ainda que, por um qualquer milagre, consiga mesmo evitar que o tirem de lá, acabará por resultar em prejuízo do PS. Costa, por maioria de razão, nunca conseguirá ser figura para unir e pacificar o PS. Não o foi antes, muito menos o será agora. Costa não está em condições de ser agora o que Passos Coelho foi em 2009 no PSD, porque é antes disso a Manuela Ferreira Leite da mesma altura. Se no PS andam tão alucinados que não percebem isso e vão apostar na lógica do manter actual líder com base no argumento «depois de ti mais nada; nem sol nem madrugada; sem ti não há amor; a vida não tem cor», a coisa só pode correr-lhes mal. A coligação sorri.