Enleado na sua própria teia
Primeiro, segundo os socialistas, a economia começou a melhorar por responsabilidade do Tribunal Constitucional, mas como a economia não deixou de continuar a reforçar os sinais positivos, esse discurso foi ficando esgotado, pelo que agora é preciso passar o tempo a negar a realidade. A conversa sobre o desemprego, com a recém-descoberta pelo PS do desemprego "real", é isso mesmo, uma tentativa de negação da realidade por parte do partido que há dois anos fazia discursos catastróficos sobre um país a caminhar para o abismo em espiral recessiva. Qualquer que seja a forma como se queira medir o desemprego, a realidade incontornável é que a tendência dos últimos meses tem sido positiva. E não é muito difícil perceber porquê: a parte mais dura do ajustamento passou e a austeridade imposta pelo governo atenuou, coisa que, aliás, fica relativamente bem ilustrada no facto do actual orçamento ter sido o primeiro que não foi enviado pela oposição para o Tribunal Constitucional. Entramos numa fase de maior normalização da nossa vida política e social, o que somado a condições externas favoráveis, teria de ter reflexo económico positivo inevitável. De resto, este governo faz o que todos os governos antes dele fizeram: gere o ciclo político de forma a favorecê-lo. O recente relatório do FMI chama a atenção para isso mesmo, alertando para os desafios que o próximo executivo continuará a enfrentar. Mas também aqui, face ao que promete, o PS tem um problema: Galamba diz que relatório é um aviso ao governo, o que podia configurar uma crítica justa ao eleitoralismo que domina o discurso governamental, mas quando o PS promete dar e repor tudo muito mais depressa do que o actual executivo, como levar Galamba e a malta que o acompanha a sério? Não se pode. Em bom rigor, se o relatório do FMI é um aviso em relação ao que o Governo promete, é ainda maior aviso ao próprio PS e ao eleitorado que acredita no que este indica pretender concretizar. Ou como digo e repito: do ponto de vista lógico, o PS não consegue encontrar uma narrativa com sentido e encontra-se prisioneiro das suas contradições.