O eixo do mal ibérico *
Aqui este pobre coitado contínua desesperado. Percebe-se, o coitado não está com vida fácil. Enquanto os alemães já aprovaram a extensão do programa grego por larga maioria no Parlamento, alguns gregos voltaram às manifestações com vidros partidos, sendo que as divisões no Syriza em relação àquilo que foi acordado continuam a se fazer sentir. Cerca de 1/3 dos deputados do Syriza não gosta do que foi assinado e fá-lo por demonstrar, ao mesmo tempo que é colocado em causa o quê que aquilo que foi assinado obriga e compromete o novo governo em funções (que, aparentemente, assina coisas sem garantir de assegurar todas as implicações legais do que assina). Mais, o superstar Varoufakis, que nas palestras antes de se apanhar no poder era muito assertivo e sabia como resolver tudo, agora, revelando no mínimo amadorismo, tem de perder tempo no twitter a tentar explicar histórias que continuam por explicar (a história em causa está relacionada com algo que muita gente suspeita, para não dizer que existe certeza sobre o assunto: o documento enviado pelos gregos com aquilo que se comprometiam a fazer, teve de ser minimamente negociado com as instituições antes do draft final tornar-se público). Mas há mais: uma das coisas que o Syriza tenta apresentar como uma vitória relativa das negociações com o Eurogrupo é a possibilidade de maior flexibilidade no objectivo para superavit primário. Essa narrativa tem apenas um pequeno problema (bem sabemos como o diabo pode estar nos detalhes): os gregos tinham um objectivo que estava fixado para um país que já tinha alcançado superavit, contudo, desde que ficou claro que o Syriza ia conquistar o poder, parte dos gregos cortaram nos impostos que pagavam e o superavit que já tinham, se não virou défice, desapareceu quase por completo, o que significa que qualquer potencial ganho de menor austeridade passível de ser obtido pela flexibilidade da meta tenderá a ser perdido por irem partir para o cumprimento daquilo com que se comprometerem de um ponto de partida pior. Também por isso, não é de estranhar que para quem vinha com a conversa do fim da austeridade, dê alguma graça ver que já admitem uma contribuição extraordinária dos mais ricos. Mas a austeridade já não tinha acabado? Ou como é sobre os gregos ricos já não conta como austeridade? Com tudo isto, o dinheiro dos bancos, esse, teima em não regressar à Grécia descapitalizada (pelo contrário, continua a sair, o que contradiz declarações do ministro das finanças grego). Mas, enfim, nesta fase do campeonato, quem é que pode dar grande credibilidade a este bando de amadores e utópicos que tomou o poder na Grécia? Eles que continuem a espernear que eu sinto-me muito feliz por ver o meu país a par com a Espanha a ser tratado pelo poder grego como se da sua Coreia do Norte e Irão se tratassem.