O homem perdido no seu próprio labirinto
Costa falou ao eleitorado através de uma capa do Expresso, mas nunca confirmou o que vinha na capa do Expresso quando confrontado com o teor da mesma. Costa finge que o eleitorado mais do que devia saber que acordo PS, BE e CDS era possível. Costa finge que evolução do CDS de partido eurocéptico para europeísta convicto ocorreu da noite para o dia e no momento imediatamente a seguir a umas eleições. Costa agora trata Manuela Ferreira Leite como «a direita» que o insulta. Costa agora tem muito respeito pelo BE e os seus eleitores, antes era o partido «parasita que vivia da desgraça alheia». Costa acha que um orçamento apoiado pelo BE e o PCP gera confiança e atrai investidores. Costa sabe coisas de enorme gravidade económica sobre o país, mas não diz quais são. Costa está perdido no seu próprio labirinto. Para onde quer que olhe não vê saída. De um lado, mantém o poder mais tempo, mas embarca na irresponsabilidade (a solução preferida da trupe de jovens turco que o acompanham); do outro, é responsável, mas perde o poder. Mas, logo a abrir a entrevista, ensaiou o discurso do fim do sonho: só vai para o governo se tiver garantia de maioria estável com apoio para uma legislatura de 4 anos. Mais sabe ele que não o terá. Ana Catarina Mendes, aliás, antecipando isso mesmo e os problemas que tal coisa colocaria, estava agora mesmo a ensaiar no Expresso da Meia Noite o discurso de que uma ruptura até seria normal porque até nesta legislatura houve a ameaça de uma. Esqueceu-se da parte em que nesta legislatura estava no poder quem venceu as eleições. O PS pode dar as voltas que quiser, não consegue apagar é este facto: perdeu as eleições. E perdeu-as com larga margem de distância para quem as ganhou.