O homem que se não fosse ter sido apanhado nas teias da justiça, ainda acabaria na pole position dos candidatos do PS à Presidência da República
No fundo, esta ideia de que devia ser o Supremo a julgar Sócrates, além de basear-se no pressuposto engraçado de que um tipo «uma vez PM para sempre PM», é saudades do Noronha do Nascimento. De resto, depois da campanha de intoxicação por parte da defesa que passava por fazer de conta que não sabia o que era uma investigação em curso, afinal, já se confirmam os índicios de corrupção e pelo menos alguns dirão respeito ao tempo em que o homem nos governava (mas continuemos a fazer de conta que o caso também não é político). A partir de um certo ponto, nestas coisas basta seguir o rasto do dinheiro e já terá sido depois da prisão preventiva que o Procurador Rosário Teixeira teve acesso às contas em nome de Santos Silva na Suiça. Perante isto, à falta de melhor, resta a esta malta - que não se reduz a Sócrates - a tentativa de fazer a vida negra a Carlos Alexandre, com sucessivas denúncias anónimas de que o homem violou o segredo de justiça (a que se acrescenta igualmente a denúncia, esta relativamente nova, de que beneficiou financeiramente com isso). E, claro, a sempre recorrente tentativa de anular a prova produzida, alegando erros processuais. Para terminar: recorde-se o caso de António Preto e como este foi usado para atacar Ferreira Leite. Na altura, não houve presunção de inocência. E bem: porque a presunção de inocência, em matérias políticas, não vale muito. No caso Sócrates, basta a história em torno do livro dele sobre a tortura para qualquer cidadão que não queira enterrar a cabeça na areia se envergonhar de ter tido o homem como primeiro-ministro. Que no PS continuem sem fazer uma demarcação clara em relação a esse passado triste, só os pode prejudicar. A mim, por exemplo, basta-me ouvir falar em reabilitar a construção e penso logo nas histórias que se contam relacionadas com o Grupo Lena e afins.