O país político e o Benfica
No outro dia assisti a uma entrevista bem-humorada do ex-presidente do Benfica, Manuel Vilarinho. A dada altura, Vilarinho referiu, visivelmente emocionado, o período de Vale e Azevedo e o quão orgulhoso ficou do mandato que fez depois de ter corrido com a «fera» (expressão apropriada, quase podia ter-lhe chamado «animal feroz»). Vilarinho recordou que o Benfica praticamente não ganhou nada durante os três anos em que ocupou a presidência, mas nem por isso o próprio deixou de se colocar entre os melhores presidentes que o clube já teve. E, provavelmente, terá razão. O que importava era criar as bases para o Benfica voltar a ser o que tinha sido no passado (o próprio até referiu uma redução de 240 para 60 funcionário durante o seu mandato) e 14 anos depois do afastamento de Vale e Azevedo, na verdade, o clube prepara-se para festejar o seu terceiro título em seis anos. Dito isto, por vezes, na brincadeira, alguns portistas explicavam que o Benfica devia ser mesmo o clube que melhor representava o panorama geral português, num certo sentido de caso de insucesso permanente, que vivia na sombra do que havia sido, e sempre num quadro-mental de quem, apesar de tudo, achava-se o melhor e que só perdia por culpa de factores exógenos. Até nisso gostei de ouvir Vilarinho: o Benfica não perdeu campeonatos para o Porto por responsabilidade das arbitragems, mas porque os plantéis que tinha não prestavam. E também recuperou entretanto porque cortou totalmente com Vale e Azevedo. Agora, imaginem que depois dos três anos de Vilarinho, invés de subir ao poder o Luís Filipe Vieira, numa linha de continuidade, tinha subido a malta que andou com Vale e Azevedo ao colo? Pois, talvez o Benfica nisso não se venha a confundir com o país. É que, bolas, António Costa à sua volta está cheio da malta que andou com o «animal feroz» às costas e essa malta que todos os dias apanho nas tvs a falar em nome do partido - um caso recente paradigmático: Rui Paulo Figueiredo sobre a TAP -, pelos vistos não considera que devia sujeitar-se a um período de nojo. Bem, Costa também foi o número dois da «fera» e nunca se demarcou do bicho, pelo que o que estranho eu?