O sindicalismo comunista ameaçado
O PCP não tem sido poder a nível governamental, mas tem sido contra poder, por via da sua acção política através da CGTP. Se há coisa que este governo fez foi implementar as bases que enfraqueceram e ainda mais enfraqueceriam essa posição confortável de força de bloqueio (bastante nociva) onde os comunistas se instalaram. Na legislação laboral, nas regras para a contratação de professores, na privatização das empresas do sector dos transportes públicos, etc... o PCP não pode ter deixado de sentir que parte da sua identidade foi fortemente atacada, fragilizada e está em risco de perder-se (este governo não teve o seu momento thatcheriano com os mineiros, mas também fez a sua mini-revolução na relação de forças entre estado, sociedade e sindicalismo). Por isso mesmo, ao contrário de quem só tenta ler a nova atitude do PCP à luz de uma estratégia para entalar o BE ou o PS, acho que há também qualquer coisa de desespero, de tentativa de salvar-se a ele próprio, não pela via do entalanço dos outros, mas antes pela via da procura de pontos de consenso que possam reverter as medidas deste governo que os ameaçam. Entenda-se: o PCP sente-se forçado a arriscar, porque sente que parte daquilo que é está em risco de se perder.