Popcorn
Por vezes, acho que é colocada demasiada ênfase na necessidade de um artista se reinventar. O que não falta são autores consagrados que fazem obras e mais obras sempre com uma replicação dos mesmos elementos que não se perdem/desvalorizam por causa disso (sei lá, estou a pensar num Murakami na literatura ou de um Clint no cinema). Há algum conforto na repetição e na homogeneidade. Os Blur, neste seu último álbum, podem ter feito uma coisa totalmente diferente de qualquer outra coisa que a banda fez no passado, mas não aprecio propriamente o novo som. O Go Out do vídeo acima e o Lonesome Street ainda dão para ouvir, mas estão longe de me entusiasmar como os grandes temas do passado. Talvez seja esse o problema: para mim, nesta fase, Blur é nostalgia. Blur é década de noventa. Não me apetece nada ir a um concerto dos Blur para ouvir uma sonoridade nova.
Como já escrevi, sou algo crítico do excesso de filmes de super-heróis, mas se pensarmos bem na coisa, este período não será muito diferente de outros onde existiu uma insistência temática semelhante, por exemplo, basta pensar nos filmes de cowboys ou samurais. Faz parte: dar ao público que frequenta cinema aquilo que ele quer. Enquanto o público não dar mostras de estar cansado - é olhar para os números do box office do último Avengers para perceber que não está -, continua-se a alimentá-lo com a mesma coisa invariavelmente. Até que a moda passa. Passa sempre. Por falar em bons resultados no box office, dediquei finalmente algumas horas da minha vida a ver toda a série do Fast and Furious. Sim: não é cinema intelectualmente estimulante. Mas isso tem particular relevo? Só para quem acha que não deve existir espaço para o cinema de entretenimento puro. E nesse capítulo, entre filmes melhor ou pior conseguidos, a série até consegue ser competente. E a explicação para o seu sucesso passa muito pelo novo mundo globalizado em que vivemos: um elenco variado (negros, latinos, brancos, asiáticos), locais de filmagem igualmente variados (Los Angeles; Rio de Janeiro; Tóquio; Londes; etc) e um elenco feminino que, parcialmente, não se limita a participar nas cenas de acção numa atitude passiva (nota: se pensarmos no sucesso Game of Thrones, ainda que num tom completamente diferente, verifica-se algumas semelhanças em relação a este quadro de sucesso). Desta forma, algo surpreendentemente, apesar do cliché carros e gajas boas, o que podia parecer uma série de filmes para ser apreciada essencialmente pelo público masculino, é olhar para as votações no imdb (por exemplo: Fast Five; Furious 6; Furious Seven) e notar que elas, em média, avaliam os filmes com melhor nota do que eles.
Por fim e para ir a cinema mais sofisticado, vi pela primeira o Miller's Crossing dos manos Coen. E que belo filme sobre gangsters num jogo interessante de aparências, onde «cima é baixo, preto é branco, e nada é o que parece». Também, «não há nada mais tolo do que um homem perseguindo o seu chapéu». Mas, no fim, não é o chapéu que o personagem do Byrne, numa interpretação absolutamente fantástica, deixa escapar sem perseguição. É sempre um prazer ver um filme que deixa na memória cenas que nem tão cedo vou esquecer. Só a banda sonora já é um luxo.