Quem paga as contas?
É notória a pressão da imprensa inglesa/norte-americana - e até de algumas instituições destes países (exemplo) - para que a zona Euro passe a funcionar como uma única unidade política, nomeadamente passando a existir transferências orçamentais acentuadas das regiões mais ricas para as regiões mais pobres. É fácil para os ingleses/norte-americanos fazerem este jogo: não são eles que pagam as contas e, no fim, se a zona Euro assumisse essa formulação, isso acabaria por ter benefícios para os próprios ingleses/norte-americanos (quanto mais não fosse, no que isso representaria, pelo menos no curto-prazo, de maior estabilidade económica numa região cuja economia ainda está profundamente desequilibrada). Mas a zona Euro funcionar como uma única unidade política implica essa coisa extraordinariamente complicada, que ingleses/norte-americanos nunca aceitariam/aceitaram na sua pátria, mas agora exigem, imagino que com algum gozo diplomático, aos alemães e outros povos da Europa: a anulação da pátria e dos seus interesses, em nome dos interesses de uma zona mais ampla. E, note-se a ironia, nem os povos que supostamente mais teriam a ganhar, pelo menos do ponto de vista económico, com esta nova unidade política, os mais pobres, revelam grande interesse na coisa: porque o trade-off evidente, pelo menos no imediato, para assegurar maiores transferências dos países mais ricos para os mais pobres é o maior controlo por parte dos primeiros das finanças dos segundos. E os segundos vêem nisso uma intromissão inaceitável e inegociável na sua soberania. E é deste jogo cujo resultado final deixará sempre muita gente insatisfeita, se não toda a gente, que os nacionalismos vários, do norte ao sul da Europa, proliferam. Entenda-se: ceder a um lado para acalmar certas tendências nacionalistas, implica acentuar as tendências nacionalistas do outro lado. A manta é curta. A provar isso mesmo está o próprio Reino Unido: o país da mesma imprensa que pede aos europeus para acentuarem os seus laços é o país cujo partido nacionalista de direita UKIP tem disparado nas urnas; onde um referendo para decidir a manutenção ou não na UE está em cima da mesa; e usa-se todos os meios diplomáticos disponíveis para contribuir o menos possível para o OE da UE. Isto tudo e nem estão no Euro. Imagino se tivessem. Ao contrário do reforçar de laços que solicitam aos outros, estariam aos pulos e aos berros ainda mais do que a imprensa alemã.