Casos que não interessam para nada
Mais milhão, menos milhão, «desleixo» socialista? Who cares?
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Mais milhão, menos milhão, «desleixo» socialista? Who cares?
Na reacção à descida da taxa de desemprego, noto o desapontamento de alguns por a maior parte da criação de emprego ter acontecido no sector agrícola e no segmento dos salários baixos. São os mesmos que recusam-se a reconhecer a relação entre salários e emprego, particularmente forte numa crise com as características da que vivemos. Os mecanismos de ajustamento duma crise desta dimensão não são propriamente ciência oculta e no curto-prazo passariam sempre pelo que está a acontecer em Portugal, ainda que o tema possa ser tabu na comunicação social. Depois, há a questão da mudança estrutural, bem presente neste forte aumento do emprego na agricultura, um sector que sempre foi visto como o patinho feio onde os portugueses não queriam trabalhar - pelo menos em Portugal, que para Espanha sempre iam trabalhar com mais gosto, atraídos pelos salários mais elevados -, e não no da construção ou outros sectores tais, incluindo a restauração, sector que costumava ser o rei dos empregos de verão e agora já não é. Há sectores que tinham de dar o berro e para seguir em frente o país precisava de encontrar outros onde apostar. A agricultura, até porque tem uma componente quer de exportações, quer de substituição das importações, é um óptimo sector para isso. Dito isto, talvez seja boa altura para recordar este discurso e a actualidade do mesmo, recordando o quão criticado foi pelos parolos do comentarismo nacional.
Pode ser que o Alqueva seja aproveitado para aquilo que serviu como justificação à sua construção. Há cada vez mais jovens agricultores devido à crise? Ora, a falta de jovens agricultores também fará parte daquilo que está na origem da crise por que passamos, logo o regresso aos campos fará parte do processo pelo qual sairemos do atoleiro onde nos metemos. Uma boa notícia, portanto.
Um diz que «este tipo de iniciativas é muito comum noutros países» a outra fala em «práticas inadmissíveis» num quadro «desequilibrado e chocante». O ministro Álvaro, ao contrário do que era habitual, não tentou fazer do seu ministério um espaço que representasse os interesses de uns quantos empresários nacionais muito influentes. De tal forma que os interesses instalados tentaram correr com ele. A ministra Cristas é mais "esperta" e segue a linha antiga, o ministério da agricultura está ao serviço dos interesses dos agricultores, um grupo que do ponto de vista eleitoral o CDS há muito namora. O Álvaro governa a pensar no todo, a Cristas governa a pensar num grupo específico. E há quem aplauda esta última posição. Das duas uma: ou são agricultores, ou é gente que ainda não aprendeu nada com as práticas passadas. Depois não venham com o lamento de que existem sectores económicos em Portugal que beneficiam de rendas injustificadas.
Comissão Europeia processa Portugal por não proteger as galinhas poedeiras. Haja quem na Europa se preocupe com o bem estar das galinhas e com a concorrência "desleal". Não se riam porque o assunto é sério. Reparem que entre os países processados, por mero acaso certamente, estão Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Os países periféricos do sul, portanto. Que deslealdade a nossa para com os países ricos do norte mais as suas regrinhas de protecção das galinhas. Este mercado único tem muito que se lhe diga.