We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Perante uma recusa grega em aceitar outro tipo de solução mais profunda e confiável para o seu problema - até porque o eleitorado grego já deixou claro até onde está disposto a ir -, a decisão de não deixar aos gregos melhor opção do que a de abandonar a zona Euro é uma decisão ao nível da de Thatcher de não meter o Reino Unido na União Monetária. É impossível tomá-la sem levantar ondas de choque e é preciso enorme coragem para levá-la adiante. E tem racional semelhante a justificá-la: a Alemanha sabe que se for ela a ceder no essencial, abre a porta à perda de controlo sobre o que fazer ao dinheiro dos contribuintes alemães, estando portanto a abdicar em larga medida da sua soberania. Entenda-se: o que se decide por estes dias em Bruxelas tem implicações muito mais vastas do que o mero caso grego. Perante isto, a questão que importa colocar neste momento é: Merkel, a pessoa com maior poder de decisão e definição na zona Euro, tem os "tomates" para levar tal coisa adiante? Não sei, mas quanto ao lugar na História, ao contrário dos fantasmas com que outros acenam, tenho para mim que ficaria a ganhar se os tivesse. Tal como Thatcher ficou. Oxi oxi oxi.
Aqui há uns tempos, foi-me recomendado que visse o Antonia's Line. Se bem me recordo - e sou dos que se esquece rapidamente das obras a que não acha particular graça -, o filme, dirigido pela feminista Marleen Gorris, atribui papéis periféricos aos homens, na categoria (permitam-me simplificar e caricaturar um pouco) de canalha, violador, submisso, cobarde, suicida, tonto, playboy; enquanto reserva para as mulheres, a começar na personagem principal Antónia e passando pela sua filha e a sua neta, o estatuto de independência, liberdade, inteligência, justiça, fulgor. A título de exemplo, numa das histórias do filme, a filha de Antónia "produz" a neta desta última, de forma premeditada, num encontro com um qualquer playboy de quem se desfaz prontamente, sem o avisar do resultado do seu "trabalho", para assumir a recém-nascida como mãe solteira, acabando por se envolver posteriormente numa relação lésbica. A neta de Antónia, por seu lado, acabará por revelar-se um prodígio de inteligência (incompreendida por um professor limitado do sexo masculino) que, após a passagem de vários pseudo-intelectuais pelos lençóis da sua cama, acaba por aceitar juntar os trapos com um conhecido de infância com um QI bastante inferior ao seu, por mera questão de comodidade, e quando dessa relação resulta uma filha (o filme também se podia chamar o estranho caso das gajas que só dão à luz gajas), rapidamente demonstra desinteresse total na mesma, dando preferência às profundas questões intelectuais que fazem parte do seu trabalho. Não vou dizer que tudo no filme é mau, nem ignorar que o mesmo procura, parcialmente, reflectir no feminino aquilo que é a representação que é feita com naturalidade do lado masculino, demonstrando com isso as diferentes expectativas que recaem sobre «eles» e «elas» - o choque que me causou é propositado, portanto [e note-se que o filme é de 1995, vinte anos passados as expectativas já se alteraram alguma coisinha] -, mas também não vos vou mentir ao ponto de dizer que não considero algumas dessas diferentes expectativas como naturais, tão naturais como o facto de à mulher ter sido dada pela natureza a função de engravidar (e amamentar o recém-nascido) e ao homem maior força física (destas e outras diferenças, algumas diferenças socioprofissionais têm de resultar; a igualdade absoluta em todos os campos é uma impossibilidade). E vem isto a propósito da forma como o feminismo está de novo na berra: seja pela actuação recente da Beyonce no VMA (foto no topo) assumindo a palavra como uma que a define, seja pelo discurso de Emma Watson na ONU no mesmo sentido. Mas uma mera palavra, como se sabe, pode esconder em si diferentes significados e, embora as feministas não gostem que tal seja dito, algumas delas deram mau nome à causa ao não conseguirem esconder a misandria subjacente ao seu pensamento. Além disso, diz-me a experiência (e a lógica: lembre-se que é o enquadramento do que é bem aceite socialimente que elas pretendem mudar), que típico das feministas pretenderem ser polícias dos costumes e advogadas de acusação pelo novo politicamente correcto que procuram criar - lembram-se da treta da criminalização dos piropos? -, o que é somente das coisas que mais detesto. Suspeito, aliás, que uma esquerda que vai perdendo as suas bandeirinhas possa ter nessa ressurgência em força do feminismo outra a que se agarrar. Entretanto, noto, estabelecendo associação clara entre as duas coisas, que Hillary Clinton (citada no discurso de Watson) está à beira de se recandidatar à presidência dos Estados Unidos. Hillary que, para alguns sectores - onde se incluem muitas feministas -, tem de ser eleita Presidente dos Estados Unidos só porque sim, ou, melhor dizendo, porque é mulher. E será de estranhar que Hillary seja tão do agrado de muitas feministas, enquanto Merkel, igualmente mulher, não provoque igual delírio? Talvez o defeito de Merkel seja não precisar a toda a hora de fazer vingar o seu estatuto de mulher enquanto argumento político: ela é boa política porque é boa política. Na prática, ela representa a concretização daquilo a que as feministas deviam aspirar, não? Também por isso, abaixo Clinton, viva Merkel.
Primeiro eram as eleições francesas que iam mudar a política «ideologicamente extremista» da Europa. Venceu quem os socialistas queriam que vencesse. Mas pouco mudou na política europeia: o socialista Hollande, pelo contrário, adoptou mesmo a política «ideologicamente extremista» como sua (a expressão de Assis é adorável, mas não se preocupem que assim que os nossos queridos socialistas forem para o governo descobriremos que o discurso extremado do actual PS não era para levar a sério). Depois eram as eleições alemães. Nem sequer ganhou quem os socialistas queriam. Ainda assim, Merkel para governar precisou de coligar-se com o SPD e as últimas novas que tivemos numa área tutelada por uma ministra do partido que partilha o partido político europeu com os nossos queridos socialistas foi esta. Agora, são as eleições para o Parlamento Europeu que são decisivas e vão mudar a política europeia (note-se que, para já, o mais certo até é terminarmos com a direita a dominar o Parlamento Europeu e Juncker à frente da Comissão Europeia, embora isso nem interesse tanto quanto isso). Alguém acredita? Enfim, sempre que alguém argumentar a favor da importância das eleições europeias para uma alteração da política que tem vindo a ser seguida pela Europa, das duas, uma: ou é eleitoralismo básico, de quem quer iludir para ganhar votos - atribuindo uma importância a uma eleição que não a tem -, ou é ignorância pura. O eleitor que decida.
A propósito do debate sobre a reestruturação da dívida, muito boa gente lembrou e bem que o PCP foi o primeiro a assumir esse discurso frontalmente e sem receio. Contudo, lembremos igualmente que o PCP não se intimida com a saída do nosso país do Euro, pelo contrário, o seu cabeça de lista à eleições europeia afirmou mesmo que «é evidente que o futuro do país é inviável dentro do euro». Concorde-se ou não, é uma posição relativamente coerente e que só depende dos governantes portugueses o seu prosseguimento, ou seja, é uma verdadeira alternativa ao que tem vindo a ser feito (anda, anda, ainda teremos daqui a uns anos um manifesto de não sei quantos notáveis, da esquerda e da direita, a pedir a saída do Euro). Recordo isto a propósito da forma como algumas figuras do PS, falando em nome do partido, comentam as nossas relações com a Alemanha e mais propriamente com a sua recém-reeleita chanceler, Angela Merkel (a título de exemplo, hoje acusaram-na frontalmente de ignorância - podiam limitar-se a manifestar, cordialmente, opinião diferente, mas isso, pelos vistos, já não basta -; e quando foi reeleita brindaram a coisa como uma má notícia para a Europa). Enfim, a não ser que o PS também ache que a saída do Euro é bom caminho, não se percebe como é que conseguirá uma reestruturação da dívida sem o consentimento da líder alemã e o que ganha em hostilizá-la desta forma (estes "assomos patrióticos" têm tanto de poético quanto de tonto). Mais: o PS finge esquecer o tempo em que Sócrates, no Governo, ajoelhava-se perante Merkel e suplicava ao telefone para que esta lhe desse uma alternativa à troika. Ignorará porventura o PS que se voltar ao poder em 2015 terá de lidar com Merkel? Não ignorará certamente, mas o PS optou pelos óculos de ver ao perto. Se até para obtermos um programa cautelar, coisa muito menos problemática do que uma reestruturação da dívida, estamos completamente dependentes de Merkel - entenda-se: do que o povo alemão pensa, não ignoremos que esta neste momento até governa coligada com os parceiros alemães do PS no Partido Socialista Europeu -, como pensa o PS obter da chanceler aquilo que diz que é preciso que ela nos dê num futuro não tão longínquo quanto isso? Não pensa, o PS neste momento só pensa em como obter votos dos portugueses. Acabará por cair no ridículo.
Angela Merkel chegou à liderança da CDU no ano 2000. Tornou-se chanceler da Alemanha, a primeira mulher a ocupar o cargo, em 2005, e acaba de conquistar um terceiro mandato para governar o país com a sua melhor votação de sempre. Lidera a nação mais poderosa da Europa, posição que ajudou a reforçar, e terá papel decisivo naquilo que será o futuro da UE e do Euro, projectos que vivem uma fase crítica. À sua volta, no Reino Unido, tem um David Cameron chegado ao poder em 2010 e cujas sondagens dizem não ser popular. Em França, um François Hollande chegado ao poder em 2012 e cujas sondagens dizem ser extremamente impopular. Em Itália, um Enrico Letta caído do céu, chegado ao poder em 2013 e que lidera uma coligação altamente instável não se fazendo ideia de quando cairá e do que se seguirá a seguir. Em Espanha, é o que se sabe. Enfim, na Europa, parece só existir uma pessoa em condições de se afirmar como um(a) grande líder. Quem andou a clamar pela falta de grandes líderes no presente e a sonhar com os grandes líderes do passado, tendo em conta que muitas vezes o que os irritava era a hegemonia alemã que pretendiam ver mitigada, esta consagração de Merkel como única e exclusiva grande líder europeia é o pior dos cenários. Mas, tirando o wishful thinking de quem punha os alemães a votar em consonância com os interesses difusos europeus e não com os seus próprios interesses, era absolutamente expectável que viéssemos a ser confrontados com este jogo de xadrez onde só há uma rainha e não há reis. Não é o melhor cenário para Portugal? Pode ser que sim, mas as coisas são o que são e temos de aprender a lidar com elas. Mas, já agora, se me permitem a opinião e apesar de tudo, confesso preferir saber que há uma cabeça pensante a definir a estratégia da Europa do que pensar que não existe cabeça pensante alguma.
A situaçãogrega é presença constante na campanha eleitoral alemã. A CDU de Merkel lá saberá porquê.
Nota: pela importância que muitos admitem que o resultado das eleições alemãs poderá ter nas nossas vidas, não deixa de ser curioso o pouco destaque dado pela imprensa nacional à campanha alemã.