«Extraordinário»
Bloco vai apoiar o governo do partido que defendeu (muitos ainda defendem) José Sócrates.
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Bloco vai apoiar o governo do partido que defendeu (muitos ainda defendem) José Sócrates.
Estas declarações de Pedro Nuno Santos são a todos os títulos vergonhosas. Quer porque a herança pesada sabemos muito bem quem a deixou e quem teve de lidar com ela, quer porque mais sabem os socialistas que o Novo Banco não é um custo. Pelo menos, não é um custo sob o ponto de vista demagógico a que o deputado, o tal que queria pôr as pernas dos banqueiros alemães a tremer, sugere. O défice em 2014 fica mais alto, mas não foi porque o Estado atirou dinheiro para um buraco sem fundo - como, por exemplo, aconteceu no caso BPN -, mas antes porque emprestou dinheiro a um fundo de resolução que é suportado por todo o sistema financeiro (e o Estado não só está a receber juros por isso, como conta recuperar todo o dinheiro desse empréstimo de volta). E é também por isso mesmo que ninguém está à espera de ver Bruxelas a nos pedir medidas adicionais de austeridade por causa do processo Novo Banco, ainda que o valor do empréstimo tenha acabado por ter impacto negativo no défice no ano em que o mesmo foi concedido. Da mesma forma, à medida que o empréstimo for sendo pago, esses pagamentos irão ter reflexo positivo nas contas futuras do Estado, anulando o efeito negativo que teve de ser reconhecido em 2014. Por isto tudo, discutir o impacto do défice em 2014 como um custo que vai sair caro aos contribuinte é, em bom rigor, demagogia barata. Mas, diga-se, fica giro ver Nuno Santos e outra malta socialista alinhada com a demagogia bloquista de uma Mariana Mortágua.
Mas sobre a questão de fundo, mais uma vez, disse zero.
A seguir este caminho, começará a fazer lembrar a gestão do processo BPN, ainda que seja o Governador do Banco de Portugal quem, pelo menos na aparência, controla e decide tudo: O adiamento será menos difícil de justificar, sobretudo porque as necessidades de recapitalização só deverão ser conhecidas convenientemente em Novembro (data de divulgação dos testes de stress pelo BCE), ou seja, depois das eleições. Protelar a decisão de venda do banco para adiar a prestação de contas é péssimo sinal. E começo a lamentar, muito, ter escrito este post. Até porque, da mesma forma que Carlos Costa plantou notícias falsas na imprensa para favorecer o processo negocial, também começo a suspeitar que o governo não está tão interessado na venda imediata do banco quanto tem tentado passar cá para fora.
Não é preciso ser muito inteligente para perceber de onde veio o dinheiro do Sobrinho que tem alimentado o Sporting. Mas o que curto mais é a malta sportinguista que tapa os olhos a isto, mas ataca o Governo e o Banco de Portugal pelo que aconteceu no BES/GES e ainda se diz muito preocupada com quem perdeu dinheiro com o sucedido. É a hipocrisia, no futebol e na política, sempre a vir ao de cima.
Aqui está outro investidor campónio e iletrado que não fazia ideia daquilo onde tinha o seu dinheiro investido. Se fosse um daqueles tipos que tudo sabe e sobre tudo se pronuncia na tv é que tínhamos o caldo entornado, ainda para mais se passasse o tempo a falar mal da medida de resolução do BES imposta pelo governador do Banco de Portugal e criticasse a passividade do governo no caso em apreço.
A propósito da medida de resolução do BES, muita gente tem alertado para o prejuízo em que deverá incorrer a CGD por ter de participar no fundo e como isso custa dinheiro aos contribuintes indirectamente. É muito grave, fazem saber com ar indignado. Já para com este tipo de negócio ruinoso - esqueçamos as possíveis implicações judiciais agora reveladas -, nunca lhes ouvi um pio. É comparar o racional de uma e de outra situação e perceber que se há coisa que não preocupa esta malta é o contribuinte ou a forma de manifestar a indignação teria outras prioridades. Aliás, recorde-se outra história já desta legislatura para perceber aquilo para que o banco público devia servir segundo algumas cabeças bem pensantes.
Um deles, Fernando Fernandes, um empresário do Porto, considera que os clientes lesados estão a ser tratados como crianças. Bem pelo contrário: estão a ser tratados como adultos, responsáveis por aquilo que assinaram e os riscos que incorreram. Eles é que se atiram para a posição de crianças quando acham que sempre que têm problemas em contratos privados devem começar a chorar na praça pública pelo auxílio do paizinho Estado, nomeadamente na exigência de que o Governo tome posição sobre o assunto. Se têm queixas e sentem-se injustiçados, o Estado tem um mecanismo a partir do qual podem esgrimir argumentos: o sistema judicial.
Silva Lopes dizia coisas interessantes sobre a natureza de quem tem poder mediático e faz barulho quando tocam nos seus interesses. Raramente são os mais necessitados que o fazem. Vendo o tempo de antena dado pela comunicação social, permanente e continuamente, a um universo de duas mil e quinhentas pessoas que tinha dinheiro suficiente para ter em aplicações de papel comercial um montante de 520 milhões de euros, tenho-me lembrado muito disso. De resto, bem sei que o assunto é complexo e o facto do Banco de Portugal ter andado aos ziguezagues não ajuda, mas não há economia de mercado que resista se gente que andou a aplicar o seu dinheiro em produtos financeiros com risco, correndo o negócio muito mal, acabassem por se safar sem perdas.
Quem ouve as gravações do Conselho Superior do GES, não pode deixar de achar que o que José Maria Ricciardi fez envolveu alguma, se não muita, coragem. Há quem queira colá-lo ao seu primo Salgado, quase dando a entender que não há diferenças entre os dois e são praticamente co-responsáveis pela queda do grupo, mas numa qualquer análise séria essa "teoria" não passa de pura tontice, que na maior parte das vezes só é avançada para criação de mera narrativa interesseira. Aquilo que fica por demais evidente das conversas do Conselho Superior é que Ricciardi - pessoa por quem não nutria simpatia, mas agora até tenho alguma -, a dada altura, enfrentou a família quando todos os outros optaram pela «solidariedade familiar» que apregoava Salgado a cada reunião. Isso garantiu-lhe então ter ficado isolado no seio familiar, mas permite-lhe hoje, para incómodo de muitos, ser o único que fala de cabeça levantada. E como fala: as cartas a malhar em Marcelo Rebelo de Sousa, sendo esta a última, que alguns gostam de atirar para o canto da lavagem de roupa suja - procurando com isso tirar-lhes importância -, são deliciosas, sendo que o que lá vem escrito, para quem não quiser tapar os olhos, destrói toda e qualquer réstia de credibilidade que o comentador ainda pudesse ter. No fundo, Ricciardi constata uma evidência sobre esta história do BES e as opiniões do professor em torno dele: Marcelo vai nu. E bem pode dizer adeus à Presidência da República que não é digno do cargo.