Está de regresso o discurso do animal feroz
Já cá faltava esta argumentação que ouvi muitas vezes na boca do outro. No desespero, foi beber à mesma fonte. Não tarda está a visitar o número 33 da Abade Faria para ter lições.
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Já cá faltava esta argumentação que ouvi muitas vezes na boca do outro. No desespero, foi beber à mesma fonte. Não tarda está a visitar o número 33 da Abade Faria para ter lições.
Se ontem elogiei uma deputada do BE, hoje digo que este tipo de intervenção da «porta-voz» do partido é, no mínimo, tonta. A venda do BPN, enquanto «caso político», é um nada absoluto. O caso político está a montante, mas claro que isso tem o defeito de não permitir atacar este Governo o que é uma chatice para a oposição. Mas há mais que importa dizer sobre o caso BPN: neste, o PS defendeu fortemente o governador do Banco de Portugal da altura. Compare-se essa defesa com a acusação insistente que faz agora do trabalho do actual governador no caso BES. Sim, bem sei, o PSD também terá invertido o seu lugar: mas, note-se, será que as falhas de regulação foram tão graves num caso como no outro? Serão mesmo comparáveis? Qual a dimensão do BPN em comparação com o BES? E o buraco de ambos, como é que comparam entre si? Tivesse o BES caído num buraco tão grande quanto o BPN e tivesse o governador do BdP, sem prejuízo de também ter cometido erros, tido uma actuação tão passiva quanto a do seu antecessor e coitados de nós.
Mudanças sugeridas pelo Banco de Portugal na gestão do Grupo Espírito Santo servem também para preparar chegada do BCE à supervisão da banca portuguesa. Em boa parte, é por causa disto que o BdP anda a cair em cima do BES: toda a banca nacional anda sujeita a uma pressão que lhe era, de todo, desconhecida. E cair em cima é chateá-los permanentemente. Pedir informações. Insistir nos pedidos. Queixar-se na comunicação social que o banco não responde aos pedidos de informação. Solicitar auditorias. Usar o poder de que dispõe para fazer exigências. Ontem, João Galamba, no twitter, usava o caso para desculpabilizar Constâncio. Dizia ele que Constâncio tinha feito o mesmo em relação ao BPN. Não, não fez. Não com a mesma insistência e urgência. E essa alegação seria mesmo motivo de chacota, não fosse estarmos perante coisas muito sérias. Constâncio, ao seu tempo, usou uma coisa muito típica que foi «o deixa andar» e «o que é preciso é não levantar muitas ondas». Enfim, isto dito, e podendo ter a União Bancária no espaço europeu alguns efeitos positivos como o que agora se constata ao nível de uma maior exigência ao nível da supervisão, fico á espera que isto nunca se confirme (a notícia é de 2012): Vítor Constâncio apontado para a presidência da União Bancária europeia.
Face à gravidade deste caso, acho que só resta aos partidos do arco dos pedidos de demissão pedir a demissão de Aníbal Cavaco Silva.
Chipre pode ser modelo para futuros resgates. Depois suavizou as declarações, mas o aviso estava dado e dirige-se a países com bancos falidos que poderiam pensar em pôr todos os contribuintes da zona Euro a fazer o bailout total dessa mesma banca. E aqui está uma opinião com a qual todos os portugueses que criticam a nacionalização do BPN devem concordar: «Não queremos que os contribuintes salvem os bancos. Os bancos têm que se salvar a eles próprios». Em Espanha, e um pouco por toda a zona Euro, sentiu-se o tremor de terra.
Desculpas não se pedem, evitam-se. Mas continuemos: ao nível da responsabilidade pelo buraco do BPN que todos pagamos é muito maior a quota parte que cabe a Carlos Zorrinho do que a que cabe a Franquelim Alves, se é que cabe alguma a este último. Um esteve míseros 10 meses ligados à SLN na fase em que a própria SLN começava a comunicar ao regulador as fraudes de Olveira e Costa e companhia; o outro esteve desde sempre no Governo de José Sócrates, o mesmo Governo que nacionalizou o banco e que, sobretudo, geriu pessimamente a situação do banco nacionalizado, arrastando o processo e intensificando os prejuízos do mesmo que pesam agora no bolso do contribuinte. Não fiquem dúvidas: este secretário de Estado não devia ter sido escolhido, mas se é por uma suposta associação do próprio ao buraco do BPN que entrou-se no delírio dos últimos dias, também tenho a minha proposta: até por uma questão de coerência, a todo e qualquer cidadão ligado ao Governo de José Sócrates, o mesmo Governo que promoveu igualmente Constâncio para a vice-presidência do BCE, deve ser aplicado tratamento de choque igual ao que está a ser aplicado a Franquelim Alves. Obrigado.
Compra do BPN foi precipitada e pouco transparente, títula o DN, em referência a entrevista de Horta Osório ao jornal onde a crítica essencial recai sobre a forma como o banco foi nacionalizado e a demora verificada em proceder à sua reprivatização. Venda do BPN foi “precipitada e pouco transparente”, diz Horta Osório, títula a SIC (não é caso único entre a nossa imprensa). Nem vos vou dizer o que penso disto.
A este tipo de declarações também se pode chamar uma coisa muito feia. Francisco Louçã, na tentativa desesperada de marcar a agenda política a cada debate parlamentar, recorda-me o porquê de merecer estar na lista de personagens políticos mais detestáveis deste país.
Adenda: O primeiro-ministro disse ainda que «durante anos evitou-se a reprivatização para que isso não contasse para o défice», e isso «custou muito dinheiro aos portugueses». Claro: evitou-se a reprivatização porque esta obrigava a um reconhecimento imediato do dinheiro que tinha de ser enterrado com a nacionalização do BPN. «Custou oito mil milhões», diz Louçã. Muitos mil milhões terá custado, mas esse não foi o preço de um activo valioso, foi o preço de um buraco quase sem fundo que o Estado, bem ou mal, decidiu assumir como seu. Até podia ter sido o BE a ganhar as eleições em 2011 que o valor da factura não mudava. Aliás, quer pela sanha que o BE tem às privatizações, quer pela ideia de que as dívidas assumidas pelo Estado não são para pagar, tenho a certeza que acabaria por sair mais cara.
«A reestruturação e a venda do BPN têm menores custos para os contribuintes do que a liquidação do banco, de acordo com a nossa análise». Sendo assim, as dúvidas que eu tinha sobre a venda ficam praticamente arrumadas. É que a coisa do «preço de saldo» não faz sentido. É da pura lógica: houvesse preço de saldo e tinham aparecido muitos outros interessados na compra do banco. Não apareceram.