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Os Comediantes

We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession. If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all. We are bad comedians, we aren’t bad men.

Os Comediantes

We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession. If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all. We are bad comedians, we aren’t bad men.

Mr. Brown

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Ao cuidado dos tontos que não percebem e dos demagogos que fingem não perceber

Incluindo o candidato Costa que volta e meia usa o argumento de que o governo fracassou porque a dívida subiu:

 

À pergunta: Assumiram ao início que não se conseguiria reduzir a dívida? A resposta: No sector público é uma questão de aritmética. Começou-se com um défice muito elevado, reduziu-se, mas ainda se tem um défice, por isso continua a somar-se à dívida. E muita dívida que estava escondida apareceu. Era algo que não tinha sido antecipado. E é ver a malta que escondeu dívida a fazer de conta que não só não tem nada a ver com isto, como a dizer que os outros fracassaram. Se ao menos as pessoas tivessem ideia do que aconteceu em Portugal nos quinze anos antes da troika.

Não centremos o debate na dívida

Enganam-se, por isso, aqueles que acham que nada devemos fazer senão resignar-nos, assim, como os que acham que a prioridade está em centrar a discussão na dívida. Boa, Costa, deixa-me lá lembrar quem é que assinou o manifesto do 74 (onde nos subscritores internacionais aparecia essa figura de peso na cena internacional de nome Yannis Varoufakis). Ferro Rodrigues, Trigo Pereira, Quintanilha, Galamba, Sampaio da Nóvoa, Carlos César... tanta gente que andava enganada. Felizmente, Costa, que na altura considerou o manifesto «inteligente», existe para nos afastar do engano.

A panaceia

Sempre que aparece alguém a falar da reestruturação da dívida como uma alternativa à austeridade sei imediatamente que estou perante alguém que não faz a mínima ideia do que está a falar. A reestruturação significativa da dívida só se volta a colocar com força no caso grego por ser inevitável - facto para o qual a política tonta do Syriza muito contribuiu -, tal como a austeridade, até por isso, também o é: inevitável (e quanto mais alguns insistem que a dívida não é pagável porque há austeridade, resistindo por isso a esta última, mais vão contribuindo para tornar a austeridade um fenómeno permanente: esta tem sido, no fundo, a história grega). Note-se, aliás, que os gregos já tiveram uma enorme reestruturação da dívida, com perdão incluído, no segundo resgate, e não foi isso que os salvou da austeridade, nem nunca poderia ser. Se não é possível pagar a dívida, há sempre um ponto a partir do qual, após algum alivio da dívida, esta volta a ser dada como pagável: esse ponto não deixará de implicar sempre austeridade. Claro que este ponto não impede que exista um mix certo a negociar entre credor e devedor em relação à austeridade que se exige ao devedor e o alívio da dívida que o credor possibilita, mas uma coisa não vem sem a outra. No dia em que entenderem isto, pode ser que os sectores da nossa sociedade e não só que andam em modo delírio absoluto, se deixem de animar com relatórios da dinâmica de dívida grega, elaborados pelo FMI, que se há coisa que demonstram, em primeiro lugar e acima de tudo, é a irresponsabilidade do actual governo grego no poder e da sua estratégia. O Syriza, invés de acabar com a austeridade como prometeu, só garantiu que esta se mantivesse em força por mais tempo. Contudo, acrescentam os syrizos: «vamos conseguir uma reestruturação da dívida», óptimo, mas não me lembro é deste argumento ter sido importante na avaliação do segundo resgate.

A continuação da novela

Se o FMI não reconhece a sustentabilidade da dívida grega, nem percebo como é que poderia entrar num terceiro resgate. Aliás, seria inadmissível que o terceiro resgate à Grécia, mais do que ser a repetição do segundo, fosse um regresso ao primeiro resgate (onde também fizeram por ignorar a dinâmica da dívida). Realismo precisa-se. Mas esse realismo passa por assumir que a saída da Grécia do Euro também pode fazer sentido.

A Grécia não consegue pagar ou não quer pagar?

Uma das coisas que Schäuble diz e que é óbvia passa pela questão dos activos na posse do Estado grego. Como é que um Estado pode dizer que não consegue pagar a sua dívida quando tem activos valiosos dos quais não aceita abdicar, privatizando-os? É aqui, entre outras coisas, que a linha entre o «não consegue pagar» e o «não quer pagar» fica claramente definida. Os gregos até podem não conseguir pagar, mas antes e primeiro que tudo eles não querem pagar, por motivos ideológicos.

Perdão de dívida à Alemanha e à Grécia

Para os tontos, tipo Piketty, que falam do perdão da dívida alemã no seguimento da segunda guerra mundial (só o contexto histórico já devia fazer corar de vergonha quem usa tal argumento), exigindo igual tratamento para os gregos: «What's more, a huge event is completely ignored here. In 1948, Germany reformed its currency in a spectacular fashion, giving birth to the Deutsche mark. The change wiped out "approximately 90% of Germany's cash holdings and deposits," according to economist H. J. Dernburg, who was writing in 1954. It was that event, not the 1953 agreement, that provided the most dramatic reduction to German debt levels — but not without the extreme pain for anyone with any savings.»

O fim da zona Euro

Há quem argumente que a saída da Grécia da zona Euro é o fim desta. Há esse risco - que na minha opinião é mínimo -, mas o efeito principal funciona ao contrário: a cedência aos gregos é que representaria o fim da zona Euro. Os gregos levassem a sua avante e amanhã teríamos referendos em Espanha, Portugal, Irlanda, com todos os devedores a usarem referendos para ditar as regras aos credores. Não custa perceber que a zona Euro não sobreviveria a uma coisa dessas.

Uma pipa de massa em risco

Para quem não percebe o que está em jogo. Basicamente, os gregos chegaram a este ponto a precisar de um terceiro resgate igual ao segundo que não quiseram concluir (mais dinheiro, algum que nunca será recuperado, atirado para cima de um problema que já devia e podia estar resolvido). Está lá no documento, escarrapacho para quem o quiser perceber (estou farto de tontos, muitos deles jornalistas, que fingem não saber ler): «At the last review in May 2014, Greece’s public debt was assessed to be getting back on a path toward sustainability, though it remained highly vulnerable to shocks. By late summer 2014, with interest rates having declined further, it appeared that no further debt relief would have been needed under the November 2012 framework, if the program were to have been implemented as agreed. But significant changes in policies since then — not least, lower primary surpluses and a weak reform effort that will weigh on growth and privatization — are leading to substantial new financing needs». O Syriza faz implodir, paralisando-a, a economia grega, torna a dinâmica da dívida verdadeiramente insustentável e depois aparece feito tonto a dizer: vêem, até o FMI diz que a dívida é insustentável. Pudera. E com o Syriza no poder, o que nos garante que completariam um terceiro resgate em condições? Nada. Pelo contrário, temos quase a certeza que seria necessário enterrar ainda mais dinheiro na "salvação" da Grécia. Por mim, basta. E basta tanto de tontos como os gajos do Syriza como de tontos que acham que se deve estender a mão a gente deste calibre, que brinca com (e não respeita) o dinheiro dos outros.

«No bailout for you» (ou da hipocrisia norte-americana)


source: tradingeconomics.com

 

Economia em recessão há vários anos; fustigada por austeridade prolongada; desemprego elevado; emigração em massa; dívida galopante. Apresento-vos a Grécia Porto Rico. Ontem, aproveitando a boleia da Grécia, avançou para a tentativa de reestruturação da sua dívida (notícia em português e inglês). O governo federal norte-americano diz que não irá resgatar a ilha (novamente, em português e inglês). Deve ser mais fácil a Obama mandar recados sobre a Grécia. A crise humanitária em Porto Rico, território dos Estados Unidos que partilha a moeda com este e tem mais de 3 milhões de habitantes, pode esperar.

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