We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Com acordo escrito entre PS, BE e PCP que desse garantias de estabilidade governativa para toda a legislatura, na minha modesta opinião, Costa devia ser imediatamente indigitado. Sem acordo escrito, tem de ser sujeito à necessidade de derrubar o governo formado por quem teve mais votos e conquistou mais deputados nas eleições. O importante é responsabilizar formalmente e inequivocamente Costa e o PS por qualquer solução que, dos resultados eleitorais, ponha o partido menos votado a governar. A partir dai, PSD e CDS só têm de aceitar tal resultado e assumirem o seu papel de partidos na oposição. Até porque seria inadmissível um governo de gestão. O Cavaco que para tudo avisou, só não imaginou que do resultado das legislativas poderia formar-se uma aliança contra a qual daria imenso jeito ter um Presidente com capacidade para ameaçar com a convocação de eleições antecipadas. Para o PS, com essa ameaça em cima da mesa, teria sido ainda mais difícil avançar para esta aliança improvável e de enorme risco com a extrema-esquerda.
Sem levar um acordo fechado a Belém, Costa empurra a decisão sobre a queda ou não do Governo para mais tarde. Mas se levasse um acordo sólido e credível de governo de coligação PS+BE+PCP poderia entalar logo Cavaco Silva e daria uma outra validade à conversa do «a esquerda ganhou e a direita perdeu». Assim, fica mais uma vez em evidência que a direita ganhou e a esquerda e a extrema-esquerda andam a ver se dão a volta a esse resultado eleitoral.
António Barreto anda equivocado. O PSD não foi o partido mais votado e é impossível dizer se sozinho teria mais votos do que o PS. A PàF foi a força mais votada. É verdade que o PSD tem o maior grupo parlamentar, mas também só o tem porque concorreu coligado com o CDS às eleições. No dia em que Passos Coelho e Paulo Portas decidiram coligar os seus partidos e concorrer como PàF, mataram qualquer hipótese de coligação que só incluísse um dos partidos da PàF em caso de vitória eleitoral, como veio a acontecer (os dois partidos seguirem caminhos diferentes depois de terem ganho as eleições seria um desrespeito enorme por quem votou neles). Mas como tenho visto o argumento repetido, ainda não percebi: um governo de bloco central não pode ser constituído por PàF mais PS por que motivo? Porquê que com o PSD era viável e com o PSD/CDS não o é? Na única sondagem que conheço sobre o tema, dados os resultados eleitorais, até seria a solução preferida dos portugueses. Mais: não julgo que essa solução tenha sido vedada pela PàF: «a disponibilidade vai ao ponto de admitir a entrada de António Costa ou outros nomes do PS num futuro Governo». Passos, aliás, volta a mostrar que a porta está aberta quando escreve agora em resposta a Costa que «se o PS prefere discutir estas matérias enquanto futuro membro de uma coligação de Governo mais alargada, então que o diga também com clareza». Qualquer pessoa que preste atenção à forma como decorreram as negociações entre PàF e PS fica com uma ideia clara sobre quem é que não quer discutir o que quer que seja nesses termos (nem, aparentemente, em quaisquer outros): o partido liderado pelo homem que disse em campanha, de forma bastante irresponsável, que chumbaria o orçamento da PàF. Que o PS não queira participar num governo de coligação com o PSD/CDS, ainda compreendo - a própria PàF, ainda que não feche essa porta, talvez também não tenha muito interesse nisso -, mas que o PS não aceite discutir de forma séria a viabilização do governo formado pelo vencedor das eleições parece-me muito mais difícil de compreender. Ainda que compreenda que ter o centro-direita a comportar-se como um bloco único levante enormes problemas ao PS, porque a esquerda está e vai continuar dividida (é ver as presidenciais: ai vem outra candidatura da área da esquerda), divisão que se repercute no próprio PS. Não se pode pedir é ao centro-direita que se divida só para resolver o imbróglio à esquerda onde, verdadeiramente, não existe um bloco, mas dois: o de centro-esquerda e o da extrema-esquerda. Sendo a realidade a que é, agora convinha que o PS, perante a preferência manifestada pelos eleitores, anunciasse de vez e sem rodeios quem julga estar em melhores condições de participar e garantir uma solução governativa estável e responsável para o país (Costa não contava ter uma posição consolidada sobre a matéria até ao final desta semana?). Se optar por um caminho que implique a ideia de que a preferência revelada pelos eleitores coloca o país numa situação ingovernável e traduz-se em instabilidade, nas próximas legislativas é pedir ao eleitorado do PS que decida e resolva pelo partido aquilo que ele mostra-se incapaz de decidir e de resolver por si: quem prefere o país governado pelo bloco de centro-direita, vota no centro-direita; quem prefere o país governado pela extrema-esquerda, vota na extrema-esquerda. Até ver, não há motivo para ser o eleitorado dos outros blocos a deslocar-se para o PS. Sendo certo que o PS teme que a partir do momento em que tome uma posição parte do seu eleitorado faça mesmo um desses percursos (fuga de votos para o bloco preterido). Não está fácil a vida para os socialistas.
Como previsível, na primeira sondagem que vejo sobre o tema, é inegável a vontade maioritária por uma solução que permita à força vencedora das eleições continuar no governo. Mas há mais: «Por fim, a Aximage quis saber qual a opinião dos eleitores em relação àquilo que deve fazer António Costa e o PS no caso de Cavaco Silva nomear Passos Coelho primeiro-ministro de um Governo minoritário PSD/CDS. Sabendo-se que o BE e a CDU apresentarão moções de rejeição se verificado tal cenário, 63,7% dos inquiridos defendem que os socialistas deveriam abster-se, viabilizando assim o Executivo, enquanto 29,8% acham que o PS deveria votar contra, o que resultaria na queda do Governo». O cerco vai-se apertando, companheiro Costa.
O BE joga ao ataque e decreta o fim do governo de Passos e Portas. Aumentando as expectativas e preparando-se para enterrar Costa e o PS caso estas não sejam cumpridas. Catarina fala com a autoridade de quem já manda no PS e tem o partido de Costa na sua mão. PSD/CDS esperaram pelo fim da reunião para dar as primeiras migalhas a Costa. No PS, ensaia-se o discurso de que o PSD/CDS até já aceitam governar com o programa do PS, narrativa de recuo táctico que dará muito jeito para justificar a não formação do governo de esquerda. Afinal, é preciso referendar o governo de esquerda? Outro sinal de fuga em frente e desresponsabilização da lideranda de Costa. Isto tem tudo para acabar em beleza. Do meu ponto de vista, a posição de PSD/CDS para com este PS costista e a sua ideia de um governo dependente do BE e do PCP devia ser aquilo a que chamaria a posição Dirty Harry. Imaginem só: pelo que vem nas notícias, BE e PCP mais não aceitam do que pôr Costa a governar sozinho em minoria. Ou seja, teríamos a força menos votada nas eleições a governar, enquanto a força mais votada, inclusive o partido que ficará com o maior grupo parlamentar, ficaria na oposição. Para isto, Costa teria de ter e dar garantias explícitas a Cavaco Silva e ao povo português de que um governo destes aguentaria até ao final da legislatura e, verificando-se à posterior outra coisa que não esta, ele e o PS teriam de assumir total responsabilidade pela opção irresponsável que tomaram. Não me parece que estrategicamente, para a direita e tendo em conta os resultados eleitorais, fosse má opção levar Costa a ir a jogo desta forma. Entretanto, um pormenor delicioso sobre o que faz alguns à direita tremerem de medo: «Ou seja, confrontados com a possibilidade de chegar ao governo, muitos socialistas não quererão pôr de lado essa hipótese. “A clientela é muito grande”, aponta-se do lado da coligação onde ganha adeptos a teoria de que Costa pode não estar a fazer bluff». Ou como a clientela do PSD/CDS treme por saber que a clientela do PS pensa como eles.
Mais uma ajuda para compreender o motivo pelo qual uma tentativa da esquerda de impedir a PàF de governar tem tudo para lhes rebentar na cara: Independente do PS contra governo à esquerda. Ou como a esquerda que ainda não recuperou do resultado eleitoral gosta agora de dizer, muito animada que anda com o sonho de uma coligação unitária de esquerda: mais um dia de desespero para a malta do PSD/CDS.
Há uma certa sensação de pânico instalada entre alguma malta de direita com as movimentações de Costa em torno do PCP e do BE. Mas pensemos um pouco sobre o assunto. Primeiro, permitam-me repetir que não acredito que um governo saído de tal caldo venha a acontecer e apostava forte em como não acontecerá, mas imaginemos que aconteceria, seria assim tão mau? Trazer o BE e o PCP a jogo não acabaria por ser óptimo para corrigir o erro de base do nosso sistema eleitoral? Tirar uma parte significativa da esquerda da posição de protesto e dar-lhe finalmente responsabilidade - quanto mais não fosse na aprovação de um orçamento que cumprisse as regras do Tratado Orçamental - não seria extraordinário? Como é que ficava essa força de bloqueio chamada CGTP no meio disto tudo? Percebem o impacto benéfico de um acontecimento desse tipo? Sim, a força liderada por Passos é que ganhou as eleições, mas se toda a esquerda se entendesse, eles é que têm a maioria absoluta e respeitar a democracia também passa por respeitar um entendimento desse género. Dir-me-ão que o radicalismo dessa esquerda irá chocar de frente com a realidade e ser nefasto para o pais. Mas quão nefasto? E sendo nefasto, tratando-se de um entendimento a três, previsivelmente instável, quanto tempo acham que duraria? E quais os potenciais efeitos de uma tal decisão, ainda para mais quando a vitória da PàF nas legislativas estará sempre a pairar durante o tempo que esse governo durar? Fuga significativa de algum eleitorado para a direita? Adivinho que sim. Mas, igualmente, fuga de eleitorado do BE e do PCP para o PS, não? Um pouco como aquando da divisão do Syriza na Grécia, a ala mais radical foi aquela que quase foi varrida do mapa. Aliás, um governo PS-BE-PCP não seria o nosso próprio Syriza? Com o P(A)S(OK) tradicional português, entenda-se, os socialistas moderados de centro-esquerda, a serem relegados para uma posição de irrelevância eleitoral? António Costa um dia terá mostrado a Graça Fonseca que «até as vacas podem voar». Nunca vi uma vaca a voar, mas admito que há sempre uma primeira vez para tudo.
As movimentações teatrais à esquerda começariam a preocupar-me no dia em que tivesse de ler isto: Costa reúne-se com Jerónimo e Orçamento é prioridade absoluta. Enfim, as encenações socialistas para ganharem poder negocial nas negociações, essas sim coisa muito mais séria, do orçamento para 2016 têm graça, mas a dada altura o país será confrontado com a realidade espelhada no discurso de Cavaco Silva (que, precisamente por tocar na ferida, irritou alguma malta): o país tem compromissos internacionais assumidos e das eleições legislativas resultou um inegável alinhamento do povo português com os partidos que tradicionalmente honram esses compromissos. Tal como em 2011, onde o arco da troika (PSD, CDS e PS) ficou com larga vantagem para com o arco do radicalismo ideológico. De resto, dizer que mais de 60% do eleitorado rejeitou a política do PSD/CDS faz tanto sentido quanto dizer que quase 70% do país rejeitou o programa económico do PS ou que mais de 80% do país rejeitou o radicalismo da extrema-esquerda. Como se o voto fosse apenas e só uma «rejeição daquele em quem não se vota» e nunca uma «preferência pelo programa daquele em quem se vota». Como se todo o eleitorado socialista tivesse mais afinidade com as forças à sua esquerda do que com as forças à sua direita. Mas, também por isto, para ajudar a um maior esclarecimento sobre o assunto, gostava de ver uma sondagem que respondesse à seguinte pergunta: perante os resultados eleitorais, preferirá o povo português um governo PS/BE/PCP ou um governo PSD/CDS viabilizado pelo PS? Qual será a solução mais viável e estável? Não tenho muitas dúvidas sobre qual será a resposta a esta pergunta, mas admito que possa ser surpreendido.