We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Tsipras descobriu que quando as coisas tornam-se sérias é preciso colocar o «socialismo na gaveta». Coisa que os portugueses bem sabem desde os tempos de Mário Soares como primeiro-ministro. Mas, felizmente para nós, Soares não precisou do tempo de Tsipras para chegar a igual conclusão. É uma coisa pela qual sempre lhe terei gratidão.
«Todo o PS está contra esta bandalheira», porque o PS é ele. «Este é um caso político», Costa agita-se. «Toda a gente acredita na inocência do ex-primeiro-ministro», ouvem-se risos. «Os malandros que estão a combater um homem que foi um primeiro-ministro exemplar», esses malandros, pá: suspenda-se toda e qualquer investigação ao homem. «Isto é tudo uma infâmia [...] Afinal o que é que ele fez?», não fez nada, é um santo e Soares põe as mãos no fogo por ele, é uma cabala. Esta visita do ex-Presidente da República, fundador do PS, a Sócrates, num dia em que não há espaço para visitas naquele estabelecimento prisional, com estas declarações despudoradas e gravíssimas, dizem muito sobre o nosso regime. Como a defesa por parte de Soares de Salgado já dizia. Como o abraço a Isaltino já indiciava. Era suposto os que faziam parte da cúpula dos poderosos manterem-se intocáveis. Mas a cúpula rachou e está tudo com medo que parta de vez. «Isto é muito estranho», dado que não os podemos mandar embora, é prender os juízes, nomeadamente Carlos Alexandre, que isto tudo regressa logo à normalidade.
Quando o caso BES já estava bem quente e Salgado praticamente queimado, Mário Soares alegou que «nós fizemos tudo e estamos a fazer tudo para arrasar o nosso próprio país e isso é inaceitável, de maneira nenhuma aceitável», acrescentando que teve «sempre o culto da amizade. E [teve] sempre o culto da amizade por muita gente.». Na altura, suspeitei que o ex-presidente tinha, entre outras coisas, Ricardo Salgado - e o que sucedia ao BES - na cabeça. Julgo que não me equivoquei. Até porque agora, em declarações à RTP, disse ainda que «Quando ele [Ricardo Salgado] falar, e vai falar, as coisas vão ficar de outra maneira. Ao princípio era tudo banditismo, mas agora os portugueses já perceberam que não é assim». Proença de Carvalho tem aqui um belo adjunto e se o branqueamento das actividades fraudulentas do amigo Salgado, ainda que a imprensa internacional tenha dado grande destaque ao caso (exibindo-o como um irmão metralha), é para levar em frente no âmbito nacional, o amigo Soares dá um bom tiro de partida. Acrescente-se que na mesma reportagem exibida hoje na estação pública, Mário Soares contou com brevidade a história de como o BES, aquando da privatização, regressou à família Espírito Santo por sua intervenção directa: em conversa onde Soares solicitava a Salgado para assumir o controlo do banco, este respondeu-lhe que não tinha dinheiro para concretizar tal operação, mas super Mário logo o tranquilizou, dizendo que dinheiro não era um problema. Bastou um telefonema a François Mitterrand, o Crédit Agricole foi metido ao barulho e, voilá, fez-se luz. E o dinheiro nunca mais foi um problema. Até agora. Quando tantos falam na promiscuidade entre poder político e económico como algo de muito negativo, achei esta uma bela história. É, aliás, exemplar de um certo modus operandis enraizado na sociedade portuguesa. Assim geraram-se os grupos de amigos influentes que deviam favores uns aos outros e garantia-se a preservação do status quo [Cavaco - Dias Loureiro - Oliveira e Costa: a mesma história precisamente]. Nunca houve um só «dono disto tudo», existem é os que se julgam e, em parte, têm sido «donos disto tudo». É um grupo, não é uma individualidade. E Soares faz parte desse grupo. De resto, bem diz Seguro que quem apoia Costa tem mais queda para a promiscuidade.
Sobre o manicómio, uma das ironias adoráveis é ver quem ressuscita Salazar com os argumentos conhecidos - «não roubava»; «não mexia no dinheiro público» -, depois andar a bajular Lula da Silva.
Como é que é possível? E ainda assim chegou a Presidente da República? Viva Abril! Viva a Democracia! Viva a Liberdade! Ainda que alguns queiram fazer do 25 de Abril a sua coutada, usando-o para promover a elevação dos valores da esquerda aos valores do regime e censurar os valores da direita que, aliás, é sempre tida como estando contra o 25 de Abril. Contra esse "25 de Abril", de censura à direita, a qualquer valor da direita - diga-se que só em Portugal é que a Democracia e a Liberdade podem, de alguma forma, ser confundidas com um Partido Comunista -, não há como a direita não ser do contra, não é? Ao outro, ao 25 de Abril da Democracia e da Liberdade que, conjugado com o 25 de Novembro, permitiu a toda e qualquer direita chegar ao poder pelo voto popular, não há como não estar agradecido. E se Cavaco nunca usou um cravo, como se isso importasse, também nunca obteve 14% numas eleições. Concorreu a muitas e obteve sempre resultados acima disso. Acabo por onde comecei: viva Abril! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!
Eusébio, nestes últimos anos, fazendo-se notar o desgaste natural causado pela idade e os problemas de saúde que foi tendo, deu algumas entrevistas onde disse várias coisas despropositadas. Entre elas, recordo-me de algumas declarações infelizes sobre o Sporting. Outra grande figura nacional, a propósito do próprio Eusébio, seguiu o mesmo caminho. Tal como como no caso das declarações de Eusébio, não passam de um pequeno faits divers. São declarações para compreender, perdoar e esquecer.
(Retratos com História; 25 Anos do Expresso, 1998)
«Perante um auditório cheio, maioritariamente masculino e com poucos jovens», ou seja, um auditório semelhante ao que brindou Soares recentemente na Aula Magna, ainda que neste último caso não tivesse sido propriamente para uma homenagem. Mas depois o que fica ouvindo os que vão a estas coisas, seja por que objectivo for, é sempre o mesmo: já não há homens destes. Pois eu acho que os jovens devem procurar referências no passado que sejam exemplos de conduta e integridade, está claro, mas também devem ter presente - e julgo que têm, também por isso a sua ausência destas brigadas do reumático - que devem trilhar o seu próprio caminho e que os tempos de hoje exigem homens com ideias diferentes das do passado. E imponho esta nota mental a mim mesmo: quando chegar a uma certa idade, conto nunca vir com a ladainha de que «no meu tempo é que era».