Leon Bridges
Isto é tão bom, a fazer lembrar outros tempos:
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Isto é tão bom, a fazer lembrar outros tempos:
Por vezes, acho que é colocada demasiada ênfase na necessidade de um artista se reinventar. O que não falta são autores consagrados que fazem obras e mais obras sempre com uma replicação dos mesmos elementos que não se perdem/desvalorizam por causa disso (sei lá, estou a pensar num Murakami na literatura ou de um Clint no cinema). Há algum conforto na repetição e na homogeneidade. Os Blur, neste seu último álbum, podem ter feito uma coisa totalmente diferente de qualquer outra coisa que a banda fez no passado, mas não aprecio propriamente o novo som. O Go Out do vídeo acima e o Lonesome Street ainda dão para ouvir, mas estão longe de me entusiasmar como os grandes temas do passado. Talvez seja esse o problema: para mim, nesta fase, Blur é nostalgia. Blur é década de noventa. Não me apetece nada ir a um concerto dos Blur para ouvir uma sonoridade nova.
Como já escrevi, sou algo crítico do excesso de filmes de super-heróis, mas se pensarmos bem na coisa, este período não será muito diferente de outros onde existiu uma insistência temática semelhante, por exemplo, basta pensar nos filmes de cowboys ou samurais. Faz parte: dar ao público que frequenta cinema aquilo que ele quer. Enquanto o público não dar mostras de estar cansado - é olhar para os números do box office do último Avengers para perceber que não está -, continua-se a alimentá-lo com a mesma coisa invariavelmente. Até que a moda passa. Passa sempre. Por falar em bons resultados no box office, dediquei finalmente algumas horas da minha vida a ver toda a série do Fast and Furious. Sim: não é cinema intelectualmente estimulante. Mas isso tem particular relevo? Só para quem acha que não deve existir espaço para o cinema de entretenimento puro. E nesse capítulo, entre filmes melhor ou pior conseguidos, a série até consegue ser competente. E a explicação para o seu sucesso passa muito pelo novo mundo globalizado em que vivemos: um elenco variado (negros, latinos, brancos, asiáticos), locais de filmagem igualmente variados (Los Angeles; Rio de Janeiro; Tóquio; Londes; etc) e um elenco feminino que, parcialmente, não se limita a participar nas cenas de acção numa atitude passiva (nota: se pensarmos no sucesso Game of Thrones, ainda que num tom completamente diferente, verifica-se algumas semelhanças em relação a este quadro de sucesso). Desta forma, algo surpreendentemente, apesar do cliché carros e gajas boas, o que podia parecer uma série de filmes para ser apreciada essencialmente pelo público masculino, é olhar para as votações no imdb (por exemplo: Fast Five; Furious 6; Furious Seven) e notar que elas, em média, avaliam os filmes com melhor nota do que eles.
Por fim e para ir a cinema mais sofisticado, vi pela primeira o Miller's Crossing dos manos Coen. E que belo filme sobre gangsters num jogo interessante de aparências, onde «cima é baixo, preto é branco, e nada é o que parece». Também, «não há nada mais tolo do que um homem perseguindo o seu chapéu». Mas, no fim, não é o chapéu que o personagem do Byrne, numa interpretação absolutamente fantástica, deixa escapar sem perseguição. É sempre um prazer ver um filme que deixa na memória cenas que nem tão cedo vou esquecer. Só a banda sonora já é um luxo.
O ano passado já tinha gostado muito do estilo do Much Ado About Nothing, do Joss Whedon, filmado em preto e branco. Este ano gostei muito do A Girl Walks Home Alone at Night, de Ana Lily Armipour, também ele filmado no mesmo tom. Se bem utilizado, o preto e branco tem pinta. Quanto ao filme da Armipour propriamente dito, se gostam de um bom argumento, não recomendo, mas na cena mais marcante do mesmo (a da imagem), tem, provavelmente, o melhor video clip de 2014. No caso, feito para esta canção. Gostei.
Foi bonito ver o Beck a ganhar com o seu álbum o maior prémio dos Grammys. Quer porque Blue Moon foi uma das canções que mais me acompanhou o ano passado; quer pela reacção «quem é este gajo e o que faz aqui?» que despoletou, liderada pelo tonto do Kanye West. Menos bonito foi não ver a Iggy Azalea a ganhar o prémio de melhor álbum rap. Seria a primeira gaja a fazê-lo, mas no caso dela não bastava ser gaja, tinha de ser negra (no fim, acabou ganhando um gajo branco, o Eminem, e toda a gente ficou mais ou menos satisfeita). Mas a vitória da Azalea teria sido tão politicamente incorrecta que, só por isso, era-me impossível não torcer por ela. Ler coisas como «If “Fancy” is the only hip-hop single you purchased last year, you’re an unwitting participant in a tacitly racist marketplace» (daqui) já eram deliciosas, com a vitória dela, mais deliciosas seriam. Há racismo nos Estados Unidos? Claro que há, mas não me parece que tudo, nem a maior parte destes fenómenos, possam ser explicados por isso. Obama é o presidente. Beyónce é a artista mais bem sucedida do século. Mas as questões de identidade pesam e pesam também para os negros: nunca nenhum candidato que não Obama teve tanto apoio do eleitorado negro; Beyónce é casada com Jay Z, não com Eminem; e Kayne West é casado com Kim Kardashian, não com Paris Hilton. Este fenómeno de predilecção/maior identificação com quem é da mesma raça - será mais fácil às miúdas brancas, por exemplo, em maior número e com maiores rendimentos, identificarem-se com uma Azaela do que com uma Azealia -, coisa que inegavelmente existe, é racismo? Se o é - e há certamente uma carga racial e histórica que ajudam a explicar estes fenómenos -, então ele está bem presente em ambos os lados.
Por falar nestes fenómenos de identificação, quanto do sucesso de Taylor Swift (Shake it off, shake it off... vá, eu também lhe acho catchy) é explicado por se enquadrar no protótipo de cheerleader loira e esbelta norte-americano, de menina mais popular do liceu? Nada disto é novo, já assim tinha sido com Britney Spears, por exemplo. A diferença aqui é a capacidade e inteligência com que Swift e a sua equipa geriram a marca - que começou como um fenómeno de música country, fenómeno muito americano e muito branco (já aparecia um negro a fazer ao country o que os brancos fizeram ao rap) -, dando-lhe capacidade para crescer de forma sustentada e segura. A Madonna, entretanto, sem prejuízo de continuar a ter uma grande base de fãs, foi sentindo o peso de outro factor identitário que também se faz sentir: o da idade. Poucas miúdas sonham com tão tenra idade em tornarem-se uma «velha rabugenta». Isso nota-se, por exemplo, nas redes sociais, onde figuras como a Beyoncé, a Rihanna, a Kate Perry ou a Taylor Swift dão-lhe uma banhada (o terceiro vídeo clip do último álbum da Taylor Swift rapidamente ultrapassa em visualizações no youtube o primeiro vídeo clip do álbum mais recente da que ainda é considerada a rainha do pop). Aliás, ouvindo a última canção de Madonna, pergunto-me se à semelhança da malta que perguntava quem era aquele senhor velho que participava numa música com a Rihanna e o Kanye West (o senhor velho era apenas o Paul McCartney), já não há também quem pergunte quem é aquela senhora velha que imita a Lady Gaga.
Dito isto, só queria mesmo dizer que identifico-me muito com o tipo de música feita pela ruiva Florence (esta é novinha e ela este ano até vem a Portugal: o vídeo clip escusava era de ter uma introdução tão prolongada):
Daqui. Uma espécie de Mário Soares com saias da pop music.
A canção que, em versões diferentes a cada temporada (a do vídeo, a original de Tom Waits, está presente na segunda), acompanha o genérico da série «The Wire». Escutas? Investigação criminal? Baltimore decadente? Portugal decadente? Whatever. «You gotta keep the devil way down in the hole».
Oasis, Don't Look Back in Anger
Houve quem nunca gostasse deles pela excessiva colagem aos Beatles. Houve a famosa disputa promovida pelo marketing jornalísitico com os Blur pelo lugar supremo da britpop nos anos noventa (para que conste, ainda este ano Damon Albarn decidiu declarar os Oasis como os vencedores da contenda). Houve zangas frequentes entre os irmãos Gallagher (a última colocou um ponto final na banda). Houve uma criatividade que se esgotou demasiado cedo. Mas do que ficou, quando no seu melhor, os tipos foram realmente bons e marcaram uma época. Noel contou que para ser o vocalista nesta Don't Look Back in Anger teve de usar a Wonderwall (onde o irmão Liam acabou por ficar como vocalista) como moeda de troca. Na parte que lhe toca, ficou a ganhar, porque como o próprio constatou esta canção «is the one where every fucking body will sing at an Oasis gig, particularly the first chorus». Do extraordinário (What's the Story) Morning Glory?, um dos álbuns da minha vida, do tempo em que não havia o mp3, nem o youtube, e se ouvia e tornava a ouvir, vezes e vezes sem parar, todas as canções de um só álbum. No vídeo acima, versão inesquecível na terra natal da banda, Manchester, em 2005, no estádio onde joga o clube favorito da cidade e dos irmãos Gallagher, o City, com a voz de Noel a ser constantemente suplantada pela do público.
Depeche Mode, Never Let Me Down Again.
Tempos houve em que não gostava deles, mas nos dias que correm é das bandas cujas músicas mais tempo passo a ouvir. No vídeo, uma das boas performances ao vivo de uma canção que se tornou emblemática na história do grupo. Digressão de 1988, o tema é usado para o fecho de cada concerto. D. A. Pennebaker filma um documentário (álbum ao vivo) sobre a banda. Pasadena Rose Bowl. 60 mil espectadores. 101º e último concerto da tournée (o documentário acabaria por se chamar 101). Dave Gahan incita a turba a agitar os braços ao som desta canção. A turba não se fez rogada. A performance fez furor e a imagem ficou. Repetida, desde então, em milhares de concertos ao vivo sempre que este Never Let Me Down Again é tocado.