We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Já aqui escrevi que seria favorável a uma antecipação das eleições legislativas, mas tal teria sempre de ter a concordância dos partidos que apoiam o Governo. Faz parte das regras que assim seja e outra coisa que não esta seria uma farsa. Como farsa é o discurso de crítica a Cavaco Silva nesta matéria em concreto (ainda para mais quando este até deu a hipótese de mudarem as regras a meio do jogo; hipótese que o PS, na altura segurista, não quis/soube aproveitar). Sobre a questão do bom senso, se das regras (dos prazos eleitorais) agora discordam (ao ponto de pretenderem que sejam alteradas no fim do jogo), Ferro, Costa e restantes socialistas têm primeiro e acima de tudo de se responsabilizarem a si próprios, dado que a lei eleitoral em vigor, datada de 1999, foi aprovada com os votos favoráveis do PS e do PCP (mais Verdes) e resultou de trabalho desenvolvido pelo próprio do António Costa. Bem sei que «as ideias são estúpidas independentemente de quem as tem», mas que quem as teve esteja na linha da frente a criticá-las como se não tivesse nada a ver com elas, bem, não lembra a ninguém e só passa sem crítica num país desmemoriado. O PS que meta o oportunismo político num saco que não há pachorra.
A entrevista completa pode ser vista aqui. Mas o que verdadeiramente me interessa (a novidade) está no vídeo: as perguntas e as citações. Inquirição e confrontação permanente, relativamente bem preparada, sem hesitação. Não tremia quando Sócrates - que, confesse-se, foi apanhado que nem um patinho -, fazendo uso do seu truque habitual, tentava tornar o entrevistador no entrevistado. Rodrigues dos Santos também teve os seus momentos maus: equivocou-se na questão do consenso e do IRC, onde as explicações de Sócrates foram óbvias e aceitáveis. Mas, no essencial, há muito que o ex-PM transformado em opinador merecia ser entrevistado desta maneira. Um formato que devia ser usado igualmente para ex-ministros das finanças e demais ex-governante que ocupam os espaços de comentário político sem que alguma vez sejam confrontados com o seu passado. E o passado de Sócrates é tão merecedor de ser relembrado (até ao próprio, que fala tanto em crescimento, mas já não se lembrava que tinha deixado o país em recessão): às tantas, o ex-PM - um génio que garantiria austeridade (a que visivelmente prefere chamar de «rigor orçamental»), com aposta no investimento e sem tocar nos salários e nas pensões, excepto naquilo em que efectivamente tocou (coisa de que não gosta de ser recordado) - fazia referência aos programas a que se dedicou enquanto governante e que, dizia ele, este governo não tinha nem um para apresentar: entre os programas de que o homem tanto se orgulha meteu as eólicas. Diga-se que nesta fase, Rodrigues dos Santos, pecou: devia ter-lhe imediatamente atirado à cara as rendas excessivas no sector eléctrico. Não o tendo feito, permitiu ao animal feroz acrescentar ainda em forma de lamento que é tão difícil construir, mas tão fácil destruir. Pelo contrário, o problema principal é outro, tal como as rendas excessivas no sector eléctrico comprovam-no: fácil foi gerá-las, difícil é acabar com elas. Tal como é difícil acabar com um défice de 9,9% (2010) que ele deixou como legado a quem lhe sucedeu ou com a manifesta tendência de subida do desemprego que ele, apesar da promessa dos 150 mil empregos, não conteve [2005: 7,6%; 2010: 10,8%; 2011 (com quebra de série): 12,8%]. Mas voltando aos programas governamentais em que apostou, acrescente-se que o homem esqueceu, muito convenientemente, as auto-estradas feitas em regime PPP - foi assim, é sempre bom lembrar, que, em parte, ele garantiu investimento público nos primeiros anos da sua governação: com PPPs (correram bem, não correram?); ou os sonhos - era o programa que se seguia e de que ele certamente muito se orgulharia - com a OTA e o TGV que, felizmente, nunca passaram disso mesmo, sonhos. Enfim, nunca se percebeu muito bem de onde o sujeito achava que viria o dinheiro, mas parece estar convencido de que o dinheiro havia de vir de algum lado e não pararia de jorrar. Mas, não, não pode estar: o que estamos aqui confrontados é com pura treta útil à narrativa do personagem: com Sócrates e os socráticos a substância conta pouco, o que verdadeiramente conta é a convicção com que se afirma o que quer que seja, é por isso que o homem que diz uma coisa ontem e o seu contrário hoje é sempre brilhante, dê lá por onde der. Confesso, tento sempre não voltar a Sócrates, mas é mais forte do que eu.
Não foi mal negociado, avançou-se foi para ele demasiado tarde. Devíamos ter recorrido à troika na mesma altura da Irlanda e não quando estávamos a entrar em plena bancarrota. O PS não tem moral para criticar Gaspar sobre a acusação de memorando mal negociado, ainda o mesmo tinha acabado de ser negociado pelo PS e este já pedia para que fosse revisto (uma chatice esta coisa da memória). O PECIV, que Vieira da Silva usa para explicar a "má" negociação, é a maior treta que continua a alimentar largos sectores da opinião pública e da política portuguesa. Este não evitaria de todo o nosso afastamento dos mercados, na altura já evidente, e Sócrates só andou continuadamente a adiar o inevitável para se defender a ele próprio e arranjar um pretexto para sair sem dar parte fraca, aproveitando ao mesmo tempo para fingir que defendia o país quando só o afundava cada vez mais (mesmo depois do chumbo do PECIV, acabou por ter de ser Teixeira dos Santos a forçar a vinda da troika, recordemos). Mas há narrativas fantasiosas que persistem, aliás, pior que isso, ganham força, pelo que concluo que uma mentira repetida muitas vezes compensa em política e há eleitores que gostam de ser tratados por parvos. Só mais um sinal de um país que não tem remédio.
Em 2008, se alguém se atrevesse a sugerir que se tomassem algumas das medidas que foram tomadas nos últimos anos seria crucificado na praça pública. No entanto, é olhar para o que foi feito desde então e contar a quantidade infindável de propostas que seriam, do ponto de vista político e social, «inaceitáveis», mas que se tornaram tão «aceitáveis» num curtíssimo espaço de tempo que foram mesmo postas em prática. A reacção ao relatório do FMI tem muito disto. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Necessidade a quanto obrigas.
A seguinte frase: «Quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que estamos a aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por este governo»; ou ainda esta: «Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos»; e esta, confesso, é a minha favorita: «Pedi que com imaginação e capacidade criadora o Ministério das Finanças criasse um novo tipo de receitas, daí surgiram estes novos impostos». A resposta à pergunta formulada pode ser encontrada aqui.
Uma das cenas mais deprimentes de uma certa esquerda portuguesa é a incapacidade de reconhecerem que Cavaco, para o bem e para o mal, fez muito daquilo que eles gostariam que tivesse sido feito por um governo socialista (o governo socialista que se seguiu quis repetir a dose de Cavaco, não percebendo que tal não era repetível, nem sustentável). Essa é uma das marcas cavaquistas que tanto irrita os socialistas, Cavaco bateu-lhes no que eles julgavam ser o seu jogo. Teve as circunstâncias da época a seu favor? Teve, mas isso não invalida que fez muito do que a esquerda gostaria de ter sido ela a fazer.