É por esta e por outras que não me aproximo de uma urna de voto este ano
Passos desiste de mexer nas pensões actuais e corta nas futuras
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Passos desiste de mexer nas pensões actuais e corta nas futuras
No referendo grego, a avaliar por isto, os jovens votaram maioritariamente no «não» e os mais velhos no «sim».
«disse ainda Henrique Neto, revelando que se tornou, hoje, associado da APRe!»
Este senhor é o ministro da Segurança Social, mas para este senhor parece que só há um problema na Segurança Social se o PS também entender que o há. Este senhor não me quer dizer claramente se considera que há um problema de sustentabilidade da Segurança Social e muito menos revelar-me, existindo esse problema, a sua preferência para solucioná-lo: se alguns dos actuais pensionistas devem suportar a correcção do desequilibrio do sistema ou se todo o custo deve ser novamente atirado para cima das gerações mais novas. Este senhor, aproveitando a forma como a ministra das finanças colocou o problema, não é honesto. E é incompetente: porque foi ministro do sector durante todos estes anos e deixou a resolução de um problema grave para outro ministro no futuro (depreende-se pela sua posição pública que deve considerar que só um socialista está em condições de levar adiante a reforma do sistema). Enfim, no meio da forma pouco séria e obscura para onde se decide atirar o debate de um assunto tão importante quanto este - por exemplo, já reparam como não há números e estudos a suportar as posições dos nossos queridos governantes? -, pelo menos ganhamos em transparência numa coisa: esta posição ridícula deve-se, como é por demais evidente, ao CDS. Tem sido uma sina dos últimos quatro anos: foram muitas as vezes em que, no que à demagogia diz respeito, o CDS não se importou de andar de braço dado com o PS. Tudo em nome do santo eleitoralismo. E é em nome disso mesmo que questões importantes como esta não de devem discutir antes das eleições. «Falemos depois das legislativas».
«Temos de encontrar alternativas complementares às contribuições patronais do lado dos salários, através de um sistema que também leve em linha de conta os lucros das empresas [IRC social]». Portanto, não só o PS vai travar a descida do IRC como pretende subi-lo para ajudar a garantir a sustentabilidade da SS? Brilhante (eu sei que o carissimo socialista demagogo, ex-ministro socrático, acrescenta «sem pôr em causa o valor global da contribuição patronal», mas se não põe em causa esse valor, qual o objectivo da mudança, de que forma é que a medida se reveste de garante da sustentabilidade do que quer que seja?). Enfim, quanto ao resto, não adianta perder muito tempo com a demagogia socialista. É como a história do combate ao défice que não se resolve com austeridade, mas antes com crescimento. Claro que se o emprego disparar, os emigrantes regressarem e os salários aumentarem, a segurança social pode entrar numa rota de sustentabilidade. O problema é que uma evolução (super) positiva destas variáveis é coisa que nem o PS, nem qualquer outro partido, pode garantir. Mais: qualquer pessoa com bom senso não acredita nisso. Como a reforma da SS do próprio Vieira da Silva, uma reforma que já à altura afectou gravemente as perspectivas dos mais jovens, deixando sem penalização os mais velho, é exemplo evidente: todas as previsões assumidas na elaboração desse documento falharam redondamente (e já agora, perguntemo-nos: porquê que foi necessária tal reforma? Não bastava o crescimento do emprego e yada, yada, yada?). Esta lógica socialista do «não precisamos de tomar medidas impopulares porque o futuro é rosa e tudo o que hoje parece um problema pode ser resolvido sem dor» é a maior conversa da treta que conheço. E mete nojo, para quem percebe que muito do que o país passou nos últimos anos derivou dessa mesma conversa da treta que se pauta pela inacção e pelo adiar da resolução de problemas inadiáveis.
Vai acabar a lixar a malta que ainda não recebe pensão. Mas o discurso de Costa é o discurso certo para o eleitorado que não consegue largar a lógica do pensamento «dia-a-dia». Uma lógica limitada e tonta, ainda que compreensível numa sociedade onde parte da população vive amedrontada e sem grande esperança e perspectiva para o futuro. Mas responde o PS a essa falta de esperança? É o PS factor de confiança? Enfim, o PS quer dar certezas no curto-prazo, aumentando a incerteza e imprevisibilidade do futuro. Todo o discurso do PS está carregado desta carga imediatista, de resolução dos problemas do presente num abrir e fechar de olhos. Tivemos toda a primeira década do século XXI nesta lógica, tem corrido optimamente como se constata. No final da década de noventa do século passado, qual era o futuro risonho que o PS prometia para a primeira década do século XXI, lembram-se? E durante a governação socrática, durante a segunda metade da primeira década do século XXI, qual era o futuro risonho que o PS prometia para a segunda década do século XXI, lembram? E agora, na segunda metade da segunda década do século XXI, qual é o futuro risonho que o PS nos promete para a terceira década do século XXI? Aqui já não é uma questão de lembrança, é mais de confiança. Confiança de que o futuro risonho com que o PS acena nunca se irá concretizar, com todas as consequências que dai advirão para quem agora, no presente, não souber fazer as escolhas acertadas, desbaratando o futuro em nome do curto-prazo. Há aquele provérbio do «engana-me uma vez, a vergonha é tua; engana-me outra vez, a vergonha é minha». Como é que isto fica para quem se deixar enganar uma terceira vez?
Claro que pode: autor do plano do PS admite que idade da reforma pode aumentar. O que não se pode fazer é tocar nos sagrados actuais pensionistas dos direitos adquiridos que beneficiaram de um regime muito mais favorável do que aquele de que irão beneficiar quem agora está a contribuir para o sistema.
O país entrou no programa de ajustamento com uma convicção: a de que tínhamos uma carga fiscal mais alta do que aquela que a nossa economia permitia suportar. Era preciso, portanto, mudar de vida. Vai sair do programa de ajustamento com uma carga muito mais elevada do que a que tinha quando nele entrou. Não só não mudou de vida, como está mais atolado do que estava. Mais, as decisões do TC permitem perceber que essa carga fiscal vai permanecer elevadíssima durante muitos anos. Não sairemos tão cedo do atoleiro. Neste contexto, é bonito ver a malta conciliar a defesa das decisões do TC com a ideia de que o país precisa de crescer e de apostar em salários altos. É tipo: vou-te amarrar a um pedregulho, agora corre o mais depressa que puderes. É óbvio que o país assim não irá longe. Já o corte na despesa, fosse em pensões ou em salários dos funcionários públicos, garantia condições para o país progredir liberto do pedregulho a que está amarrado. Não é possível o país libertar-se do pedregulho (reparem que as decisões do TC não custam só x num ano; custam x a cada ano que passa: ou seja, uma enormidade de impostos que terão de ser arrecadados e que de outra forma não teriam)? Não temos outra solução que não aguentar e acreditar que o burro de carga vai arrastar-se penosamente, sem que alguma vez faltem-lhe as forças e acabe por cair morto de cansaço.