A radicalização e desunião da Europa?
Na Polónia, ganhará por larga margem o partido eurocéptico (já esteve no poder, mas alcançará agora o melhor resultado da sua história e pode mesmo vir a ter maioria absoluta). O resultado foi influenciado em parte pela questão migratória que tem estado em foco na agenda europeia, com o partido a adoptar uma linha dura em relação ao acolhimento de imigrantes (note-se, além disso, numa perspectiva meramente nacional, que esta vitória terá quase de certeza impacto negativo em empresas portuguesas, nomeadamente no BCP e na Jerónimo Martins). A Europa, sob a liderança de Merkel, que começa a sofrer nas sondagens o impacto da forma como tem lidado com a crise migratória, desdobra-se em reuniões para tentar encontrar uma solução para o problema migratório. Isto de acelerar a entrada da Turquia na UE para resolver essa crise parece-me evidente fuga em frente que pode ajudar a resolver um problema no imediato, mas criará outro no futuro (e alimentará ainda mais populismos vários contra a UE). Entretanto, na reunião que houve hoje, já se falava num «ambiente de fim dos tempos para a UE». Perante isto, o recurso a partidos eurocépticos para dar suporte a um governo português até parece uma gota num oceano. Ainda assim, uma gota suficiente para ser aproveitada e deturpada pela imprensa inglesa (aqui e aqui) que gosta de pintar a UE como o pior dos mundos e com caracterísitcas anti-democráticas (um tema quente no Reino Unido até porque vem ai referendo em breve). É certo que também tenho a minha costela eurocéptica - para mim, a UE foi longe de mais e devia regredir em alguns aspectos -, mas o actual clima na Europa começa a aquecer e radicalizar demasiado para uma pessoa não começar a temer uma ruptura mais abrupta que gerará uma situação ainda pior do que a actual, com uma regressão mais acentuada do que a que seria desejável, até para um eurocéptico como eu.