We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Há quem imagine um cenário em que, a determinada a altura, o PS terá de recorrer ao PSD para lhe aprovar alguma cena relevante para a governação. E vão ainda mais longe sugerindo que o PS terá capacidade para pressionar o PSD junto da opinião pública para lhe aprovar o que for necessário quando chegar essa altura. Na verdade, este cenário é muito pouco realista: quando e se o PS entrar em ruptura com um dos dois partidos à sua esquerda, isso não teria necessariamente de levar a novas eleições, mas teria certamente de levar à queda do governo de Costa. Não me passa pela cabeça que sendo o PSD necessário para garantir a aprovação de algo indispensável à governação do país, dado o resultado eleitoral e o actual quadro parlamentar, o aceitasse fazer que não na circunstância de ser ele próprio a liderar o executivo. O PS perdeu as eleições. O PS tem menos deputados do que o PSD. É importante perceber isto: o que o PS está a fazer só pode partir do pressuposto de que nunca necessitará do PSD para o que quer que seja. É essa a aposta deles. E é por essa aposta (que na prática poderá significar uma tentativa forçada de desvirturar o que foi o resultado eleitoral efectivo) que terão de ser julgados.
Como conciliar ideia de buraco nas contas públicas com isto: Cedências da PàF ao PS custam €1309 milhões em quatro anos. Adiante: uma possível explicação para a conversa da «surpresa desagradável», sendo certo que há nuvens no horizonte (novos desafios à governação são o pão nosso de cada dia e agora qualquer novo desafio pode ser visto como facto que confirma o presságio costista): sem governo de esquerda consolidado - a capa da acção socialista do Público já fala num impasse nas negociações à esquerda -, o PS não pode impedir o governo PSD/CDS de entrar em funções, mas começa já a ensaiar o discurso para justificar o derrube desse governo e a convocação de eleições antecipadas (e, para isso, tudo servirá, toda a situação negativa que aconteça verá a sua gravidade empolada pelo partido socialista, um pouco como aconteceu com toda a informação negativa que surgiu durante a campanha eleitoral). Dito isto, na capa do DN, depois das declarações absurdas de Costa que deram força a especulação variada, Mário Centeno, em manifesto controlo de danos, aparece a dizer que «o mais importante das reuniões com a PàF é o que não foi dito». Se não se tratasse de coisa séria, isto até tinha graça. Muitas vezes, chego a dar por mim a torcer para que esta coisa do governo de esquerda ande para a frente. Como não lhe adivinho longa vida, no médio/longo-prazo seria a solução que melhor serviria o país (e a direita política).
Mas calma que Lains tem outra solução: que Passos se demita. Esta gente nem inventada. E depois, se for preciso, ainda vêm dizer que a dupla PSD/CDS é que não percebeu os resultados eleitorais. Igualmente brilhante é o argumento de que o PSD radicalizou quando é o PS que anda a negociar com a extrema-esquerda. É preciso encontrar forma de justificar o injustificável (nota: o PS na campanha usava uma pergunta para atacar a PàF que era aquela do «pode alguém ser quem não é?», curiosamente, a mesma pergunta é perfeita para ser feita aos novos "companheiros" do PS: o BE e o PCP).
Sobre o voto da emigração, no círculo da Europa: o PS perdeu mais de três mil votos em relação a 2011, a PàF perdeu menos de mil votos. Com tanto discurso do PS e de outros comentadores lusos nacionais sobre os emigrantes irados com a PàF, só com a PàF, não se compreende.
Imaginem que a coligação não tinha existido e PSD e CDS tinham-se apresentado sozinhos ao eleitorado. Imaginem que o resultado desse acto eleitoral teria correspondido a 40% dos deputados para a força mais votada, o PS, 36% para o PSD e 15% para o CDS. Portanto, apesar do PS ser a força mais votada, o PSD mais o CDS tinham maioria absoluta. Devia ser o PS a governar? Não, não devia. Caso PSD e CDS formassem um governo conjunto, nunca deveria ser o PS a governar. E isso, mesmo à luz da nossa tradição, seria facilmente entendido. Mas agora imaginem que só o PSD queria ir para o governo, em minoria, com uma representação parlamentar inferior à do PS, e o CDS preferia ficar como uma força independente e sem responsabilidade governativa no Parlamento, o quê que a esquerda diria desta solução? Alguém quer tentar adivinhar? Esta coisa de dizer que a esquerda venceu as eleições faz sentido se a esquerda quisesse e mostrasse ser uma força una e coesa para toda uma legislatura. Sem compromissos sérios e credíveis nesse sentido, será sempre muito difícil engolir um PS minoritário a governar. Por isso, vá lá camarada Jerónimo, indo para o Governo ou ficando fora dele, toca a garantir, perante determinados pressupostos que terão de ser aceites pelo PS, a aprovação de todos os orçamentos socialistas durante uma legislatura. Não custa nada. Ou será que custa?
Porquê que a tradição importa na altura de escolher quem deve formar governo? Por questão de previsibilidade. É evidente que boa parte do eleitorado não imaginava que os resultados eleitorais que ocorreram pudessem originar um governo de esquerda que resultasse de entendimento entre PS, BE e PCP. Podem dar a volta que quiserem ao tópico que esta minha observação é inegável. Nós não somos nórdicos, nem a tradição de compromisso dos nossos partidos é igual à dos partidos nórdicos. Alguma evolução nessa matéria é bem-vinda, mas a ruptura completa com a tradição é outra coisa completamente distinta (e que devia, pelo menos, ter sido muito bem sinalizada antes das eleições e não no dia após as mesmas). Sabendo isto, alguns, incluindo com graça o camarada Porfírio, apontam para uma notícia do Expresso que sugeria isso mesmo, mas essa mesma capa não resultou de declarações de António Costa e este foi frequentemente questionado directamente sobre se tentaria formar um governo com as forças à sua esquerda e chutou sempre para canto. Muito eleitor socialista tem vindo a dar conta disso mesmo, sentindo-se enganado. Aliás, tenho como certo que se fizerem uma sondagem onde perguntem aos portugueses se «perante os resultados eleitorais verificados, prefere um governo que resulte de um qualquer entendimento entre o PSD+CDS+PS ou um outro entre PS+PCP+BE?», a preferência tenderia a cair para o governo liderado para a opção de governo que incluísse a força que ganhou as eleições (da minha parte, continuo à espera de uma sondagem do género). Note-se que basta cerca de 1/3 dos eleitores do PS preferirem a solução favorável ao governo PSD/CDS do que à do governo PS com apoio do BE/PCP para a primeira solução ficar com maioria absoluta no seguimento dos resultados eleitorais de 4 de Outubro. O PS não pode deixar de saber isto e é por isso que se levar a ideia do «governo de esquerda» adiante entra logo com o pé esquerdo e tem tudo para correr mal. Muito mal. A sua legitimidade será sempre questionada; não gozará de estado de graça; a conciliação do programa do PS com as propostas do BE e do PCP, que terão de ser enquadradas no Tratado Orçamental, provocarão enorme desgaste; e a coligação PSD/CDS que era suposto ir para o governo, ficando dependente da boa vontade do PS, a fritar em «lume brando», para usar a expressão de Alberto João Jardim, ficará de fora a assistir e a combater esse governo vermelho com enorme gozo. Sabendo que, com elevada probabilidade, não demoraria muito tempo a voltar ao poder com maioria absoluta renovada. Ou como Catarina "Pirro" Martins, com evidente excitação, declarou ontem: «O governo de Passos e Portas acabou hoje». Para voltar mais forte amanhã?
O BE joga ao ataque e decreta o fim do governo de Passos e Portas. Aumentando as expectativas e preparando-se para enterrar Costa e o PS caso estas não sejam cumpridas. Catarina fala com a autoridade de quem já manda no PS e tem o partido de Costa na sua mão. PSD/CDS esperaram pelo fim da reunião para dar as primeiras migalhas a Costa. No PS, ensaia-se o discurso de que o PSD/CDS até já aceitam governar com o programa do PS, narrativa de recuo táctico que dará muito jeito para justificar a não formação do governo de esquerda. Afinal, é preciso referendar o governo de esquerda? Outro sinal de fuga em frente e desresponsabilização da lideranda de Costa. Isto tem tudo para acabar em beleza. Do meu ponto de vista, a posição de PSD/CDS para com este PS costista e a sua ideia de um governo dependente do BE e do PCP devia ser aquilo a que chamaria a posição Dirty Harry. Imaginem só: pelo que vem nas notícias, BE e PCP mais não aceitam do que pôr Costa a governar sozinho em minoria. Ou seja, teríamos a força menos votada nas eleições a governar, enquanto a força mais votada, inclusive o partido que ficará com o maior grupo parlamentar, ficaria na oposição. Para isto, Costa teria de ter e dar garantias explícitas a Cavaco Silva e ao povo português de que um governo destes aguentaria até ao final da legislatura e, verificando-se à posterior outra coisa que não esta, ele e o PS teriam de assumir total responsabilidade pela opção irresponsável que tomaram. Não me parece que estrategicamente, para a direita e tendo em conta os resultados eleitorais, fosse má opção levar Costa a ir a jogo desta forma. Entretanto, um pormenor delicioso sobre o que faz alguns à direita tremerem de medo: «Ou seja, confrontados com a possibilidade de chegar ao governo, muitos socialistas não quererão pôr de lado essa hipótese. “A clientela é muito grande”, aponta-se do lado da coligação onde ganha adeptos a teoria de que Costa pode não estar a fazer bluff». Ou como a clientela do PSD/CDS treme por saber que a clientela do PS pensa como eles.