We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Na Polónia, ganhará por larga margem o partido eurocéptico (já esteve no poder, mas alcançará agora o melhor resultado da sua história e pode mesmo vir a ter maioria absoluta). O resultado foi influenciado em parte pela questão migratória que tem estado em foco na agenda europeia, com o partido a adoptar uma linha dura em relação ao acolhimento de imigrantes (note-se, além disso, numa perspectiva meramente nacional, que esta vitória terá quase de certeza impacto negativo em empresas portuguesas, nomeadamente no BCP e na Jerónimo Martins). A Europa, sob a liderança de Merkel, que começa a sofrer nas sondagens o impacto da forma como tem lidado com a crise migratória, desdobra-se em reuniões para tentar encontrar uma solução para o problema migratório. Isto de acelerar a entrada da Turquia na UE para resolver essa crise parece-me evidente fuga em frente que pode ajudar a resolver um problema no imediato, mas criará outro no futuro (e alimentará ainda mais populismos vários contra a UE). Entretanto, na reunião que houve hoje, já se falava num «ambiente de fim dos tempos para a UE». Perante isto, o recurso a partidos eurocépticos para dar suporte a um governo português até parece uma gota num oceano. Ainda assim, uma gota suficiente para ser aproveitada e deturpada pela imprensa inglesa (aqui e aqui) que gosta de pintar a UE como o pior dos mundos e com caracterísitcas anti-democráticas (um tema quente no Reino Unido até porque vem ai referendo em breve). É certo que também tenho a minha costela eurocéptica - para mim, a UE foi longe de mais e devia regredir em alguns aspectos -, mas o actual clima na Europa começa a aquecer e radicalizar demasiado para uma pessoa não começar a temer uma ruptura mais abrupta que gerará uma situação ainda pior do que a actual, com uma regressão mais acentuada do que a que seria desejável, até para um eurocéptico como eu.
Um partido que obteve 4.7% dos votos, conseguiu 8.6% dos deputados (MP: Member of Parliament na terminologia britânica). Outro que obteve 12.6% dos votos, conseguiu 0.2% dos deputados. Com 36.9% dos votos chega-se à maioria absoluta. Com as suas vantagens e desvantagens, convém ir lembrando que o sistema eleitoral pode estar organizado de várias formas e o nosso modelo não é necessariamente o melhor. Aquilo que o sistema britânico perde em representatividade partidária, ganha em grau de proximidade entre eleitores e eleitos (o que consiste numa forma do eleitor se sentir mais e melhor representado). Além disso, parece-me claro que um sistema como o britânico é garante de maior estabilidade governativa.
Ontem, a vitória dos Tories no Reino Unido deu-me um enorme gozo: porque deixou a redacção do Público com um grande melão; porque deixou os socialistas com outro melão ainda maior (e preocupados, ó se estão preocupados); porque contrariou escandalosamente o que as sondagens diziam; porque irritou os burocratas e federalistas europeus (o referendo, meu Deus!); porque são os "ventos da mudança" de Costa; porque foi a «grande vitória da democracia» de Manuela Ferreira Leite; porque, enfim, ganhou o lado com que mais me identifico. E as explicações para a derrota estrondosa do Labour? Algumas são maravilhosas: consegue-se ao mesmo tempo argumentar que o mal do Labour foi ter-se colocado demasiado à esquerda ou ter-se deixado ir pelo discurso da direita, não assumindo uma perspectiva radicalmente diferente da de Cameron (há até quem sugira que o Labour tinha um Seguro na liderança, nunca, mas mesmo nunca, um Costa); por fim, a minha argumentação favorita: foi o medo que levou o eleitorado a votar Conservador. O medo que, como se sabe, é essa coisa humana, mas irracional, em que os partidos de direita apostam quando ameaçam que a vitória do partido adversário irá acabar de uma vez por todas com o Sistema Nacional de Saúde.
No Reino Unido, tal como é tradição nos Estados Unidos, alguma imprensa decide declarar o seu apoio por um dos lados em batalha nas próximas eleições. Por exemplo, a The Economist deu o seu apoio ao Partido Conservador, enquanto o The Guardianfavorece o Partido Trabalhista. Quem lê as duas publicações em causa, não estranha este posicionamento, mas o mesmo torna tudo muito mais transparente. Em Portugal, deviam fazer o mesmo: o Público, por exemplo, que anda nos últimos anos a tentar replicar o posicionamento estratégico do The Guardian, podia fazer um editorial com o título «Porque apoiamos o messias Costa e sabemos que com este o pensamento mágico irá triunfar». O Sol também teria o seu editorial: «Depois de anos a spinnar a favor deste Governo, ganhamos coragem para dizé-lo finalmente: Passos é o nosso grande amor». O do Expresso seria mais deste género: «Ainda tentamos um combate de boxe entre o Nicolaço e o Vieira Pereira para decidir quem apoiar, mas no fim decidimos que desde que ganhe o bloco central, nós ganhamos também». O CM não deixaria margem para dúvidas: «O PS cheira a Sócrates, PSD/CDS é a melhor opção». No JN, um director Camões emocionado, com a benção de Proença de Carvalho, deixaria escrito em editorial: «O apoio ao PS arranja emprego, vote PS». E, para terminar, no DN escrever-se-ia: «A secção laranja deixou-nos e foi toda para cargos de nomeação governamental, está na hora de ser dada a mesma oportunidade à secção rosa, vote PS».
É notória a pressão da imprensa inglesa/norte-americana - e até de algumas instituições destes países (exemplo) - para que a zona Euro passe a funcionar como uma única unidade política, nomeadamente passando a existir transferências orçamentais acentuadas das regiões mais ricas para as regiões mais pobres. É fácil para os ingleses/norte-americanos fazerem este jogo: não são eles que pagam as contas e, no fim, se a zona Euro assumisse essa formulação, isso acabaria por ter benefícios para os próprios ingleses/norte-americanos (quanto mais não fosse, no que isso representaria, pelo menos no curto-prazo, de maior estabilidade económica numa região cuja economia ainda está profundamente desequilibrada). Mas a zona Euro funcionar como uma única unidade política implica essa coisa extraordinariamente complicada, que ingleses/norte-americanos nunca aceitariam/aceitaram na sua pátria, mas agora exigem, imagino que com algum gozo diplomático, aos alemães e outros povos da Europa: a anulação da pátria e dos seus interesses, em nome dos interesses de uma zona mais ampla. E, note-se a ironia, nem os povos que supostamente mais teriam a ganhar, pelo menos do ponto de vista económico, com esta nova unidade política, os mais pobres, revelam grande interesse na coisa: porque o trade-off evidente, pelo menos no imediato, para assegurar maiores transferências dos países mais ricos para os mais pobres é o maior controlo por parte dos primeiros das finanças dos segundos. E os segundos vêem nisso uma intromissão inaceitável e inegociável na sua soberania. E é deste jogo cujo resultado final deixará sempre muita gente insatisfeita, se não toda a gente, que os nacionalismos vários, do norte ao sul da Europa, proliferam. Entenda-se: ceder a um lado para acalmar certas tendências nacionalistas, implica acentuar as tendências nacionalistas do outro lado. A manta é curta. A provar isso mesmo está o próprio Reino Unido: o país da mesma imprensa que pede aos europeus para acentuarem os seus laços é o país cujo partido nacionalista de direita UKIP tem disparado nas urnas; onde um referendo para decidir a manutenção ou não na UE está em cima da mesa; e usa-se todos os meios diplomáticos disponíveis para contribuir o menos possível para o OE da UE. Isto tudo e nem estão no Euro. Imagino se tivessem. Ao contrário do reforçar de laços que solicitam aos outros, estariam aos pulos e aos berros ainda mais do que a imprensa alemã.
A UE do Euro (moeda), centralista, prepara-se para correr com o Reino Unido do seu projecto, em troca da escolha de um luxemburguês, adepto da mentira e de debates obscuros, para a liderança da Comissão Europeia. Os burocratas europeus deliram com a possibilidade de afastar do seu caminho, finalmente, o país que mais se tem oposto àquilo que nos corredores de Bruxelas se decidiu definir como o verdadeiro espírito "europeu", que passa por apenas considerar um «europeu a sério» aquele que defenda um caminho que leve a maior integração política/económica dos membros da UE. Em nome desse "europeísmo" de pensamento único, curiosamente, está disposta a UE a abdicar de alguma vez poder ser confundida com a Europa, retirando do seu espaço um país como o Reino Unido. De qualquer forma, sem a Rússia, já era um mito confundir a UE com a Europa. E certo é que nos corredores europeus, a transbordar de espírito "europeu", para que exista entendimento e compreensão, mesmo sem Reino Unido, não deverão deixar de falar em inglês uns com os outros. Um pequeno detalhe, certamente.