«Extraordinário»
Bloco vai apoiar o governo do partido que defendeu (muitos ainda defendem) José Sócrates.
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Bloco vai apoiar o governo do partido que defendeu (muitos ainda defendem) José Sócrates.
Se Cristiano Ronaldo foi a personalidade internacional do ano para a BBC Sports, Ricado Salgado não lhe fica atrás e, para a mesma BBC, leva o prémio de pior CEO mundial do ano. Caso para dizer: «Quem sabe, sabe e quem ganha é que sabe».
Se era tão fácil ao Governador do Banco de Portugal tirar a idoneidade a Ricardo Salgado com base na prenda de 14 milhões que este recebeu do construtor civil José Guilherme, como é que fica a idoneidade do homem que foi primeiro-ministro deste país e que tinha uma relação absolutamente privilegiada com o construtor civil Santos Silva? Era tudo amizade. E depois ainda há quem goze com os pareceres dos professores doutores de Coimbra, meu Deus!
Uma vítima. Este país é tão injusto.
Quando o caso BES já estava bem quente e Salgado praticamente queimado, Mário Soares alegou que «nós fizemos tudo e estamos a fazer tudo para arrasar o nosso próprio país e isso é inaceitável, de maneira nenhuma aceitável», acrescentando que teve «sempre o culto da amizade. E [teve] sempre o culto da amizade por muita gente.». Na altura, suspeitei que o ex-presidente tinha, entre outras coisas, Ricardo Salgado - e o que sucedia ao BES - na cabeça. Julgo que não me equivoquei. Até porque agora, em declarações à RTP, disse ainda que «Quando ele [Ricardo Salgado] falar, e vai falar, as coisas vão ficar de outra maneira. Ao princípio era tudo banditismo, mas agora os portugueses já perceberam que não é assim». Proença de Carvalho tem aqui um belo adjunto e se o branqueamento das actividades fraudulentas do amigo Salgado, ainda que a imprensa internacional tenha dado grande destaque ao caso (exibindo-o como um irmão metralha), é para levar em frente no âmbito nacional, o amigo Soares dá um bom tiro de partida. Acrescente-se que na mesma reportagem exibida hoje na estação pública, Mário Soares contou com brevidade a história de como o BES, aquando da privatização, regressou à família Espírito Santo por sua intervenção directa: em conversa onde Soares solicitava a Salgado para assumir o controlo do banco, este respondeu-lhe que não tinha dinheiro para concretizar tal operação, mas super Mário logo o tranquilizou, dizendo que dinheiro não era um problema. Bastou um telefonema a François Mitterrand, o Crédit Agricole foi metido ao barulho e, voilá, fez-se luz. E o dinheiro nunca mais foi um problema. Até agora. Quando tantos falam na promiscuidade entre poder político e económico como algo de muito negativo, achei esta uma bela história. É, aliás, exemplar de um certo modus operandis enraizado na sociedade portuguesa. Assim geraram-se os grupos de amigos influentes que deviam favores uns aos outros e garantia-se a preservação do status quo [Cavaco - Dias Loureiro - Oliveira e Costa: a mesma história precisamente]. Nunca houve um só «dono disto tudo», existem é os que se julgam e, em parte, têm sido «donos disto tudo». É um grupo, não é uma individualidade. E Soares faz parte desse grupo. De resto, bem diz Seguro que quem apoia Costa tem mais queda para a promiscuidade.
Se vale para a desresponsabilização do "pequeno" accionista, porque não pode valer igualmente para ele: segundo conta-nos o Expresso, a ideia de que «a intervenção do Banco de Portugal agravou o problema no BES» poderá fazer parte do argumentário de defesa de Ricardo Salgado. Não tarda estará também a exigir uma indemnização ao Estado. Entretanto, esta história, onde o ex-presidente do BES esteve directamente envolvido, é exemplificadora do poder que Salgado, pelo conhecimento de que dispõe, continua a ter na vida política e empresarial portuguesa.
1. Carlos Costa muito nervoso durante a comunicação, quiçá por saber que lhe é de todo impossível não sair chamuscado com tudo o que ocorreu nos últimos tempos.
2. Num país normal e perante tudo o que Governador do Banco de Portugal disse sobre a gestão anterior do BES, quanto tempo poderia/deveria ficar Ricardo Salgado fora da cadeia?
3. O óptimo seria que a regulação ainda tivesse actuado mais atempadamente e com maior eficácia, mas perante o problema do BES tal como está actualmente, em teoria, a solução encontrada, que segue as novas directivas comunitárias - por exemplo, na penalização forte e feia dos accionistas -, não me parece má de todo, embora continue com dúvidas no que toca ao risco e grau de exposição do contribuinte ao caso se a coisa vier a correr mal (nomeadamente por dúvidas quanto à responsabilidade assumida por todo o sistema bancário no âmbito do fundo de resolução e como se processará o reembolso abordado no penúltimo parágrafo desta notícia). Contudo, uma hecatombe tipo BPN parece que foi, definitivamente, evitada.
4. Quaisquer dúvidas que tenha sobre o tema não conseguiram ser elucidadas pelo especialista Pedro Adão e Silva que a SIC Notícias colocou a comentar o caso. Os socráticos no twitter gozam muito, algumas vezes não sem razão, diga-se, com os comentários de José Gomes Ferreira; mas ainda não percebi o motivo pelo qual não acham igual ou até mais graça aos comentários de Pedro Adão e Silva. Por falar nisto, permitam-me acrescentar que, infelizmente, durante o dia de hoje não tive oportunidade de ouvir Constança Cunha e Sá sobre o tema, mas tenho a certeza que também terá opinião muito informada sobre o mesmo.
5. Uma dúvida que só o tempo esclarecerá é como reagirão os actuais depositantes e clientes do BES, agora Novo Banco, ao que foi anunciado? Uma reacção positiva é fundamental para a preservação do valor da nova instituição. E, também por isso, aguardo que o processo de colocação do mesmo em mercado para venda e entrada de novos accionistas não demore muito.
6. Para terminar, até posso compreender alguns accionistas, mas entre estes e os contribuintes a minha preferência vai sempre para a defesa dos últimos. Nesse sentido, não tenho pachorra para o choro dos primeiros com o que lhes acontece. É verdade que quem subscreveu o último aumento de capital pode ter algumas razões de queixa, mas, vamos lá, também não foi como se não tivesse existido aviso de que os riscos seriam acrescidos.
Este homem já não tem amigos influente, nem saberá nada sobre ninguém que possa prejudicar alguém. Não há quem lhe deva favores. Este homem é um ex-poderoso. Que, por ser ex-poderoso, foi detido de forma cruel pela justiça. Justiça que tem de dar explicações sobre a detenção do homem. Antes essas explicações que outras sobre o motivo pelo qual o rácio de poderosos neste país condenados em tribunal é tão pequeno. São santos os nossos poderosos. Ah, já vos disse que este homem é um ex-poderoso e que há muita gente preocupada com a forma como decorreu a sua detenção? Se fosse poderoso, não tinha essa sorte. Felizmente, entre os nossos opinadores há esta inclinação saudável para a defesa dos pequeninos.