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E seria ainda muito pior se tivesse saído do papel. E não faltou muito para ter saído: «A crise é mais uma razão para o fazermos». Só faltou o dinheiro porque entretanto entramos em alta velocidade rumo à pré-bancarrota. Ou ao «século XXI», como explicava aqui, com simplismo, Leonel Moura no blogue Simplex. A campanha das eleições 2009 e tudo o que se lhe seguiu, o grau de delírio que afectava alguns governantes e a malta que defendia Sócrates com unhas e dentes, deverá constar como um dos pontos mais baixos da nossa vida política nacional pós-1974. Na melhor das hipóteses, foram tempos de loucura a que gostaria de nunca mais regressar. Na pior, foram tempos em que as vigarices falaram mais alto e alguns deixaram-se iludir pelo conto do vigário. Se bem que quando apanho gente a discutir que uma entrevista não é uma entrevista, temo sempre que o regresso a esses tempos possa estar logo ali ao virar da esquina.
1. França trava taxa Tobin sobre transacções financeiras. Finalmente, deu-lhes para serem um pouco crescimentistas ou não existisse um estudo solicitado pela própria comissão que dava conta do impacto negativo da taxa ao nível do crescimento económico. Que o governo de David Cameron tenha decidido colocar o Reino Unido à margem desta loucura, aumentando os riscos e potenciais perdas de uma medida do género para os restantes países envolvidos, também estará a contribuir decisivamente para a nova posição francesa.
2. Continuando nos franceses, uma boa pergunta, esta: «Que promessa foi esta de garantir linhas de TGV a todos os eleitos?» E nós bem sabemos como essa promessa alastrou muito além das fronteiras francesas. Ou como alegam os socialistas para defenderem-se das asneiras que cometeram na gestão da nossa dívida pública: nós endividamo-nos porque foi essa a estratégia definida inicialmente pela UE para responder à crise internacional.
«Eu defendo a posição que o governo defender», diz o ministro da Economia. Ainda descobriremos que a desvalorização fiscal ficará pelo caminho e o TGV seguirá adiante. Assim sendo, o ser que aparentava ter pensamento próprio no Desmitos bem podia ter acrescentado que agora defende o que o governo anterior defendia.
TGV low-cost em estudo. A confirmar-se será só mais um caso para relembrar o velho slogan do "mudar para ficar tudo na mesma".
Esta questão do TGV é outra que, tal como no caso da privatização da RTP, também deve responsabilizar o ministro das finanças. Concordo com tudo o que escreve o Ricardo Arroja no post linkado, mas acrescento que não acho aceitável que decisões como a não privatização da RTP ou o avanço do TGV não necessitem de autorização directa do ministro das finanças. Ou ao ministro das finanças é dada autoridade para "mandar" em todos os restantes ministros, ou como guardião do dinheiro dos contribuintes fará tão bom trabalho quanto a personagem que o antecedeu no cargo.
O alcaide de Vigo lamentou hoje a decisão de supressão pela CP do serviço ferroviário que liga aquela cidade galega ao Porto e apelou ao Governo Regional para encetar contactos com Portugal para travar o processo. Tenho um conselho para o alcaide espanhol, a de que vá exercer pressão sobre a Renfe, operadora ferroviária espanhola, para que estabeleça uma ligação semelhante. Contudo, a empresa espanhola mandou avisar que a ligação não é interessante dada a sua fraca procura. Ora bolas! Acho que isto só se resolve com uma ligação por TGV entre as duas cidades.
Perante factos, responde-se com retórica. Logo, o que nós gostaríamos de saber era o que Álvaro Santos Pereira teria feito de diferente para reagir a tais circunstâncias - mas, se possível, sem nos gritar aos ouvidos, escreve Pinto e Castro. A prova de que Pinto e Castro não compreende a relevância dos factos enunciados é que continua a ignorar o que não devia ter sido feito, isto:
Estádio do Algarve - Aeroporto de Beja - Túnel do Marão
Parafraseando Álvaro Santos Pereira: Só não vê quem não quer mesmo ver. E quando continuamos a ler coisas destas: Sócrates garante que TGV avança mesmo, podemos até pensar estarmos perante uma notícia de dia 1 de Abril, mas não, foi mesmo uma garantia dada ontem pelo ainda primeiro-ministro. O homem da bancarrota considera que ainda não fez todo o seu trabalho e nem a presença da «troika» parece atenuar a sua loucura.