We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Eu tenho uma ideia sobre o porquê da Grécia ter voltado a votar Tsipras. Aquilo que vai ter de aplicar é radicalmente diferente do que prometeu na campanha que culminou na sua chegada a primeiro-ministro no ínicio deste ano, mas, afinal de contas, não foi ele que levou a Grécia para a situação de bancarrota em 2010. Bancarrota essa que ainda hoje faz sentir os seus efeitos. Tsipras errou? Sim. Muito? Certamente. Mas a bancarrota não foi sua responsabilidade, mas antes de partidos como o Pasok e a Nova Democracia. E os gregos, apesar de descontentes - notório na subida brutal da abstenção: o Syriza manteve a percentagem de Janeiro, mas teve muito menos votos -, reconhecem isso. É a minha opinião. E é também isso, aparentemente, que pode estar a valer à coligação no embate com o PS. É que nós por cá já nem temos troika, mas temos certamente um partido da bancarrota.
Passos Coelho é acusado frequentemente de ser mentiroso e a sua palavra não ter credibilidade. Há vários factos que suportam este tipo de discurso contra o actual primeiro-ministro e, portanto, nem vou tentar negar essa realidade. Meteu-se a jeito, agora leva por tabela. Posso recordar, contudo, que quem mais usa este discurso contra Passos (não é toda a gente, atenção) dava cobertura a José Sócrates, esse sim tragicamente e compulsivamente mentiroso, mas adiante, porque o ponto que pretendo marcar neste post é outro: a grande mentira da política portuguesa é aquela que passa pela explicação socialista para os eventos que resultaram na chamada da troika em 2011 e aquilo que se lhe seguiu. Essa grande mentira é suportada pela adulteração de três pilares base que explicam praticamente tudo o que de mau nos aconteceu: 1) a troika (entenda-se: a austeridade que se associa à troika) tornou-se inevitável por políticas irresponsáveis seguidas no passado e não por qualquer outro factor; 2) o PS assinou um memorando de entendimento onde comprometia-se com praticamente todas as medidas difíceis que se seguiram (sim, no memorando vinha lá escrito que se as medidas explicitadas no memorando não fossem suficientes para alcançar as metas desejadas, mais medidas seriam adoptadas) e essas medidas resultariam nos efeitos práticos negativos que se conhecem (não se corrigiam anos e anos de políticas erradas sem dor); 3) o Governo de Passos Coelho, não tendo em nenhum momento atingido as metas previstas no MoU (metas essas que, recorde-se, eram muito menos duras do que a aquelas com que os socialistas pretendiam comprometer o país no PEC 4), nunca foi além do acordado, tendo ficado sempre aquém. Na versão socialista, a grande e maior mentira política contada em Portugal por estes dias, a história é a de que 1) o país estava relativamente bem governado até 2011; 2) a oposição lixou-nos a vida com o chumbo do PEC IV; e 3) depois da assinatura do memorando e das eleições, quase tudo o que se lhe seguiu é responsabilidade do novo governo em funções, o tal que teve de gerir a bancarrota, porque foi muito além do plano maravilho que Sócrates ainda assim nos deixou e, nesse sentido, pouco ou nada é responsabilidade do governo anterior que deixou o país em falência não oficial. É como se a falência não oficial fosse um mero pormenor, coisinha insignificante. Enfim, quem nisto acredita, bem pode chamar aldrabão a Passos ou coisa algo pior, mas acaba por ser pior do que o aldrabão que critica, pois acredita e propaga uma aldrabice ainda maior. Diria mesmo a maior aldrabice política de todas as que foram contadas nos últimos cinco anos. Noto, portanto, com alguma graça, o caricato que é porem permanentemente em causa a seriedade de outro quando são tão pouco sérios na forma como abordam toda a situação por que passamos. Mas compreendo-os: como sem esta aldrabice é muito difícil justificar racionalmente o voto no PS, há quem forçosamente se veja obrigado a acreditar nela. O pior cego...
Reparem neste furo do jornal de campanha socialista Público: «A carta de Passos a Sócrates em 2011 prometia apoio à vinda da troika». Como se não estivéssemos perante uma coisa há muito conhecida e, particularmente, irrelevante. Uma das coisas mais deprimentes da vida política/jornalística portuguesa é a forma como alguns apostam permanentemente na tontice do eleitor/leitor. Não me parece difícil perceber, parece-me mesmo bastante óbvio, aliás, a diferença entre desejar/defender, a partir de determinada altura, a vinda da troika e ser o responsável pela vinda da troika. Confundir os dois planos pode dar jeito a alguns chico-espertos, mas só não percebe a diferença entre ambos quem ou é tonto ou está de má-fé. A responsabilidade pela vinda da troika encontra-se evidentemente nas políticas irresponsáveis que meteram o país numa situação de pré-bancarrota e tiraram-nos o acesso aos mercados da dívida. Foi isto, nada mais do que isto, o que chamou a troika. A partir do momento em que estávamos nessa pré-bancarrota, qualquer pessoa responsável e com dois dedos de testa só podia suspirar pela vinda da troika, precisamente porque só esta evitaria a bancarrota efectiva. Perante isto, querer levar a discussão para um jogo de vontades é, como dizê-lo, pateta. E como quem não aprende com os erros do passado está destinado a repeti-los, bastaram uns dias de discussão sobre quem «chamou a troika» para pôr em evidência algo que tenho há muito como garantido: noutros países pode não o ser, mas em Portugal discutir o passado contínua a ser fundamental.
Pedro Silva Pereira, clone do Sócrates, responde a Catroga e lá voltamos, novamente, a debater quem chamou a troika. O PS desde o primeiro momento que anda a tentar reescrever a história: quer o motivo pelo qual tivemos de chamar a troika (o pec IV é a maior história de ficção da política portuguesa), quer o que lá estava assinado (bastou um ou dois meses de governação de Passos Coelho para o partido socialista já mostrar um enorme esquecimento sobre aquilo com que se tinha comprometido). Mas note-se outro pormenor interessante: no meu post anterior faço referência a declarações de Lello, neste a declarações de Silva Pereira; se no outro dia, quando a TVI meteu Relvas a comentar o debate de Passos com Costa, tal foi de uma enorme maldade para com Passos, a constante presença dos amigos socráticos por estes dias nas notícias, também são uma enorme maldade para Costa. As coisas são o que são.
A Grécia tem um PS, chama-se PASOK. Acho que é mais assim o que Costa, para ser sincero, devia dizer: a Grécia é a dramática ilustração do que teria acontecido em Portugal se o memorando de entendimento tivesse sido aplicado pelo PS. Felizmente, quer para o país, quer para o PS, foi um governo de direita quem acabou por aplicar o programa da troika. E se hoje o PS pode sonhar voltar ao poder sem temer consequências como as que afectaram o PASOK, tal deve-se a todo o trabalho que foi feito nestes últimos anos e que colocou o país, como Costa reconheceu perante chineses, melhor do que estava aquando do ínicio da intervenção externa.
Sempre que apanho um comentador a dizer que os bailouts da troika à Grécia serviram sobretudo para salvar os bancos alemães e franceses, como se repete abundantemente por ai, sei que estou perante um comentador, no mínimo, mal informado. A dada altura, isso até poderia ser argumentado. Em 2012, com o haircut que os privados tiveram de fazer à Grécia, esse argumento ruiu, lamento informar.
* Notas para a recordação do meu mestre Caeiro, Álvaro de Campos
Se há conversa tonta é aquela de que o Governo foi além da troika. É bom recordá-la a propósito disto. E aquilo nem é o mais relevante, porque se há coisa que me anima no cenário do PS é, precisamente, a da baixa da TSU para os empregadores. Um Governo que tivesse ido além da troika nunca teria deixado cair o «game changer» como o actual deixou. Mais, ao contrário do que alguma malta quer dar a entender, se há mais alternativas hoje do que no passado é porque há maior margem orçamental e o financiamento está muito mais facilitado - fruto, parcialmente, do trabalho deste governo, tenha-se noção disso - e não porque se comprove que, afinal, havia alternativa ao discurso do «não há alternativa». Mais: o cenário macro do PS revela que parte daquilo que se entende como alternativas mais não são do que variantes de um mesmo caminho que este governo percorreu, tentou percorrer ou está a percorrer. Há questões estruturais da economia portuguesa que têm mesmo de ser resolvidas e o que tem de ser tem muita força. Nesse sentido, onde outros vêem grandes diferenças, eu vejo muitas semelhanças. Aliás, se nos basearmos na retórica que dominou Portugal nos últimos anos, faria mais sentido algumas propostas do cenário macro do PS saírem de alguém com um mindset de direita do que um de esquerda. A diferença é que se essas mesmas medidas tivessem sido apresentadas por um partido de direita, caia o carmo e a trindade. Não o sendo, passam a ser boas e aceitáveis. As medidas são boas ou más não pelo seu valor intrínseco, mas por quem as apresenta. Como por aqui escrevi, tocar na TSU deixou de ser estúpido e a reposição parcial dos salários deixou de ser inconstitucional. Ah!, sobre aumento do salário mínimo o cenário macro do PS nada pressupõe, optando antes pelo crédito fiscal que tal como citado na notícia acima era ideia que a própria troika admitia. É, portanto, por quem se posiciona à direita, possível tecer elogios ao cenário do PS, não se percebe é a continuação da conversa que tenta fazer da troika o monstro mau.