We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
We mustn’t complain too much of being comedians—it’s an honourable profession.
If only we could be good ones the world might gain at least a sense of style. We have failed—that’s all.
We are bad comedians, we aren’t bad men.
Quando Vítor Bento e João Moreira Rato foram escolhidos para ficar à frente do BES, houve quem os confundisse com os Armandos Vara do PSD. Por outro lado, outros não se cansaram de elogiar a escolha e, com isso, elogiavam obviamente quem os tinha escolhido. O pedido de demissão de Vítor Bento e de Moreira Rato, mostra, pelo menos, que Varas não eram certamente. Nada que incomode os que já eram críticos, agora criticam por outro motivo qualquer. Para esses, Vítor Bento, por questões políticas passadas, é alvo a abater, dê lá por onde der. Por outro lado, por parte de quem achava a escolha muito boa, agora descobre-se defeitos que anteriormente não tinham ou, se tinham, não haviam sido realçados como particularmente relevantes. A capa do DN deu o mote: «nova equipa com perfil mais técnico e menos político». O spin para responsabilizar Bento como uma má escolha (com o foco mais na escolha do que em quem escolheu) e justificar os novos como uma boa escolha, melhor do que a anterior, é evidente. João Vieira Pereira, jornalista do Expresso sempre muito benevolente para com Carlos Costa, escreve agora no twitter que «finalmente uma equipa de banqueiros». Maravilhoso, até porque ao que me recordo Vieira Pereira foi dos que concordou com a escolha de Vítor Bento. Mas a ideia que importa passar agora é a seguinte: Bento tinha perfil político e não era um técnico. Bento era má escolha. Bento era incompetente para o papel. Bento não aguentou a pressão. Bento andava aos papéis. Ainda bem que Bento foi-se embora. «Finalmente uma equipa de banqueiros»: que enorme lata! Por fim, e para não me alongar mais, ontem, Marques Mendes, hoje, Paulo Portas - o homem da «demissão irrevogável» (a diferença da dele para a de Bento é que a dele, reveladora de um homem sem palavra, foi apenas jogada estratégica para ganhar peso no Governo, meter o amigo Pires de Lima lá dentro e livrar-se de Santos Pereira) -, também trituram Vítor Bento. Sobre Carlos Costa, a alcoviteira do reino foi muito mais contida, do ministro não lhe ouvi sequer um único indicio de crítica. Nuno Melo, entretanto, também anda desaparecido em combate. Bento é o bode expiatório para explicar o insólito. Feliz dia o dele em que recusou ser ministro das finanças - já lhe teria acontecido o mesmo que aconteceu com Vítor Gaspar -, infeliz dia aquele em que decidiu aceitar a missão BES. Resumindo: em política, qualquer pessoa séria e integra está sujeita a ser enxovalhada.
A solução de Carlos Costa era a melhor possível dadas as circunstâncias? Com coisas destas, deixa rapidamente de o ser. Perceba-se: se o Novo Banco já tem andado a perder activos, com notícias insólitas deste calibre essas perdas só podem intensificar-se. Contudo, não me passa pela cabeça, ainda que com a (pouca) informação disponível, responsabilizar os gestores pela situação, estes apenas terão pretendido ser mais do que meros «verbos de encher» - recorde-se que foram chamados quando a realidade era o BES e não o Novo Banco e, mesmo quando a realidade mudou, teriam legítima pretensão de querer ter no banco papel semelhante ao de Horta Osório no Lloyds e não o papel de meros temporários que se limitarão a dar a cara pela venda apressada do mesmo (venda rápida que defendi e, agora com razões reforçadas, continuo a defender; o que não me impede de perceber a leitura diferente que o gestor do banco quererá fazer) -, mas responsabilizo sim o governador do Banco de Portugal. Se na questão da supervisão já tinha revelado problemas, dos quais, ainda recentemente, quis sacudir a água do capote, atirando as culpas para o vice-governador, agora demonstra problemas graves na forma como lidou com a solução final encontrada (não garantindo à partida que os gestores encarregues de pegar no banco aceitariam um timing rápido para a venda deste). Perante isto, e como em quase tudo, no fim, a competência das pessoas mede-se pelos resultados. E os resultados de Carlos Costa começam a ser maus demais.
Há quem queira comparar à força o caso do "assalto" político ao BCP com o que se passa agora no BES. Por onde começar para explicar o porquê da comparação não fazer sentido? No caso do BCP, ficando pelo básico, usaram o banco público - a CGD - como braço financiador do "assalto" e conseguiram colocar como vice do banco o extraordinário Armando Vara, pessoa que antes de ter iniciado funções, na CGD por nomeação do poder governamental socialista, não tinha currículo que o recomendasse para a função. Enfim, nem Bento é Vara - basta comparar o currículo e o perfil de cada um -, nem a CGD está metida na história do BES. É verdade que a entrada de Mota Pinto nesta história deixa algo a desejar, mas esse foi escolha da família Espírito Santo, não imposição de fora, e vai para um cargo não executivo. Perante isto, alguns argumentam que o PSD não precisou da CGD porque terá sido Carlos Costa, actual governador do Banco de Portugal e escolha do socialista Teixeira dos Santos, a trabalhar pelo PSD. Costa será, portanto, assim como Vítor Bento - economista cujos cargos de relevo por onde passou em nada estão ligados a jogos partidários e que não é, nem nunca foi, militante do PSD -, outro agente do PSD, ou assim querem fazer crer. Nem quero imaginar o que diriam se Costa tivesse sido secretário de Estado, ministro e até candidato a primeiro-ministro pelo PSD numas eleições legislativas... ah, espera, isso tudo foi Constâncio pelo PS (uma pessoa que foi isso tudo tem condições de ser nomeada para um cargo que se quer independente do poder político? Se teve no passado, espero que daqui para a frente nunca mais venha a ter). Mas, tirando esta teoria da conspiração sobre Carlos Costa, o que sobra de parecido com o caso BCP? Uma intervenção do Estado num banco privado? Sim, mas pela via através da qual isso deve acontecer: o regulador independente. Regulador que noutros tempos foi acusado de inacção, perante resultados desastrosos em alguns bancos que são por demais conhecidos. Contudo, há efectivamente uma coisa que liga pessoas como Costa, Bento e Gaspar: não é a clubite pelo PSD, é o pensamento económico sobre o país que é em muito semelhante (e que pelo teor do mesmo tem irritado, naturalmente, a malta socialista). Para terminar, veja-se aqui o socialista e socrático Augusto Santos Silva a defender a CGD como braço regulador do Estado no mercado. Para quê a CGD se existe o BdP (que em breve verá os seus poderes de supervisão serem transferidos para instituição europeia no âmbito da união bancária)? Será porque a CGD é mais permissiva ao poder governamental? Será porque a CGD não goza do mesmo estatuto de independência do BdP? É olhar para o caso BCP e está dada a resposta.
Como era expectável, deu luta, mas o governador do Banco de Portugal levou a melhor sobre a família Espírito Santo e, sobretudo, Ricardo Salgado. Do desespero familiar, saiu a necessidade de fazer uma boa escolha. Agora, dada a importância que um banco com a dimensão do BES tem na economia nacional, espera-se que Bento, técnico com curriculum à prova de bala, consiga projectar nos novos princípios orientadores da instituição que vai liderar parte das ideias económicas que tem vindo a defender para o país. No mínimo, ficará mais difícil a um qualquer político no Governo aliciar o BES para lhe financiar projectos megalómanos.