Um Nobel para o esquecimento
É a lengalenga de sempre, mas torno a insistir nela: não deixa de ser irónico que tenham atribuído o Nobel da Literatura a Modiano apontando-o como um Proust dos nossos tempos quando este último não o ganhou. Talvez a comparação sirva para recordar que Proust, apesar de ter ficado na história da literatura mundial, contínua muito pouco lido e Modiano que, estou certo, nem para a história ficará, pouco lido já era e assim continuará. Já o ano passado tinha ganho a canadiana Munro e evocaram Chekhov, outro que também não consta da lista dos nobelizados. Talvez seja uma forma de fazer um acerto de contas com o passado através de interposta pessoa. E, a continuar assim, daqui a cem anos é provável que andem a atribuir nóbeis aos Murakamis ou Roths do tempo deles, enquanto a academia por estes dias opta por ignorá-los em vida. Enfim, o ano passado ainda aproveitei a onda da entrega do prémio a uma canadiana para me atirar à compatriota não nobelizada Margaret Atwood - de quem li cinco livros ao longo do último ano e fiquei admirador confesso -, mas este ano o prémio nem para isso serve. Franceses, pelo menos para já, dispenso. Obrigado.